Capítulo 7

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_ Eu não queria invadir sua privacidade, mas eu precisava saber quem você era e ter um jeito de falar com você e... sabe, estava bem lá na frente, uma calda de sereia - Christian tentou se explicar enquanto eu ria. - Eu queria dizer que é a coisa mais estranha que eu já achei na mochila de alguém, mas a quantidade absurda e preocupante de papel de bala jogados lá dentro me fez ficar mais chocado, e bem preocupado mesmo com o nível de açúcar em seu sangue.

Senti meu rosto esquentar de vergonha, mas ainda ria porque ele parecia mesmo chocado.

_ Em minha defesa, mas também total falta de higiene, aqueles papéis de bala são de meses. Eu nunca arrumo ou lavo a mochila, mas também não jogo lixo no chão, e aí eles acabam se acumulando nela - murmurei.

_ E você tem uma defesa clara para a calda de sereia ou é só melhor eu não saber? - ele rebateu, levantando uma das sobrancelhas. - Desculpa, mas você tem uma calda de sereia, um livro de Tomás Hardy, canetas demais da mesma cor em um estojo, centenas de papéis de bala usados e uma bolsa com maquiagem cheia de conchinhas e purpurina, eu tenho todo o direito de saber o que pode existir no mundo que junte essas coisas em uma mochila.

Eu ri novamente.

_ Eu tenho uma ótima explicação para isso - respondi.

Ele riu e eu adorei o som.

_ Temos uma hora e mais uma hora a noite - falou de forma sugestiva.

Meu coração de um pulo esquisito. Era estranho eu já estar ansiosa para a noite porque eu teria mais tempo com ele?

_ Eu trabalho no aquário da cidade, o Vida Marinha, tem tipo quase todas as espécies marinhas do mundo em exposição nos tanques, e eu meio que sou aquela famosa criatura mística, e nado com os golfinhos para a alegria das crianças. Ontem eu acabei deixando cair pó de arroz na calda, e estava levando para lavar eu mesma porque ninguém lá no aquário iria saber o que fazer direito - falei.

_ Aquário da cidade? É tipo um zoológico marinho? - ele perguntou.

Eu levantei às sobrancelhas, supresa.

_ É. Você não conhece o Vida Marinha? Aonde você vive? Em Marte? - murmurei.

_ Eu só acho que não faz muito o meu estilo esse tipo coisa então eu nunca ouvi falar. Tudo bem, mas o que isso tem a ver com as outras coisas? Espera, você sai do trabalho e depois vai para a faculdade direto?

Acabei explicando a Christian todo o disparate confuso que era a minha vida e meus dias, observando ele ficar surpreso e tão confuso quanto eles.

_ Mas e os seus pais? Eles não conseguem te ajudar nisso? Daqui a pouco você vai acabar surtando - ele falou em tom divertido, mas eu percebi a pergunta.

Todo mundo que sabia sobre a minha vida fazia aquela mesma pergunta. Até porque era complicado e difícil de aceitar uma garota de dezenove anos sozinha num estado, tendo que se virar para conseguir fazer faculdade sem a ajuda de ninguém.

_ Eles são... mais na deles, sabe - respondi desconfiável.

Christian pareceu entende no mesmo instante.

_ Eu sinto muito - ele comentou.

Eu não gostava de falar sobre meus pais, meu coração doía e meus olhos se enchiam d'água com todas as emoções que me invadiam.

Eu sentia muita falta deles apesar de tudo, muita mesma, as vezes era difícil de respirar quando o sentimento batia mais forte. E era um dia ainda mais difícil quando minha mãe resolvia ligar para saber se eu estava viva. Ela ligava uma vez por semana, as vezes uma vez em duas semanas, mas eu sempre atendia, ficava o tempo que ela quisesse na ligação não importava o que eu estava fazendo, esperava ela encerrar dizendo que precisava fazer algo importante e então esperava pela próxima ligacao. Ela nunca perguntava muito por mim, ela ligava para falar que a vovó foi para no hospital porque teve um infarto, ligava para dizer que a filha da vizinha estava grávida, ligava para perguntar como fazia para ela cancelar o plano da operadora e comprar outro. Eu não me importava, escutava tudo o que ela tinha para dizer e eu sabia que ela apenas era orgulhosa demais para perguntava sobre mim, mas ainda era minha mãe o suficiente para querer ouvir minha voz e minha respiração, garantindo que eu estava bem e viva.

Expresso 21Where stories live. Discover now