Capítulo 5

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Diferente de como muitas pessoas da minha idade pensam, eu não abominava a ideia de um relacionamento nessa etapa da minha vida.

Eu podia sequer ter tempo para dormir e fazer uma refeição completa na maior parte dos dias, mas acreditava fielmente que um namorado me faria bem.

Acreditava que em meio às provas, ao trabalho e as contas para pagar, um pouco de cuidado e amor me faria mais feliz.

Eu acreditava naquilo, mas também não era como se estivesse procurando. Eu não estava por aí observando quem poderia ser o melhor pretendente para o cargo de meu namorado. Eu só estava um pouco obcecada por um cara que eu não sabia o nome, mas que me deixava dormir a vontade apoiada em seu corpo por uma hora e vinte minutos de segunda a sexta.

Foi realmente de segunda a sexta na semana seguinte.

Kate e eu nos entendemos no sabado mesmo, ela apareceu na biblioteca do campus com algumas caixas de donuts recheados e chocolate quente, com seus livros e seu fiel notebook, dizendo que ficaria por ali para estudar, mas eu sabia que aquela era sua forma de dizer que sentia muito, e que estaria comigo, ela acabou indo no domingo também, e durante a semana me pediu para esperá-la no aquário no sábado porque iria comigo para a biblioteca.

Na terça, uma coisa diferente aconteceu, enquanto eu esperava as portas do Expresso 21 abrirem, havia certa movimentação de pessoas dentro do trem, o que não era comum naquele último horario, e foi ainda surpreendente quando entrei no vagão e todos os bancos estavam ocupados e até havia algumas pessoas de pé recostadas nas paredes de aço.

O meu carinha - era meio que como eu e Kate o chamávamos - estava sentado no mesmo banco, porém, dessa vez do lado do corredor e não da janela, o que me deixou um pouco curiosa para saber de onde ele vinha exatamente porque ninguém nunca pegava o seu lugar. Ele costumeiramente segurava um livro na mão, mas com o corpo de alguém ao lado, não consegui ver a capa. Os olhos dele logo captaram os meus, e o mesmo sorrisinho de sempre me pegou e tirou o ar todinho dos meus pulmões.

Eu me aproximei e parei ao seu lado, me apoiando na divisão do banco e lhe sorri de volta. Como o cavalheiro - que eu já havia montado completamente na minha cabeça - que ele era, logo ele se levantou e me deu seu lugar.

E eu era quem não iria negar, cansada demais para passar uma hora inteira de pé ali.

Mas me ofereci para segurar sua mochila, que com u pouco de relutância, acabou cedendo. A minha sequer estava pesada naquele dia. Ficando na biblioteca nos fins de semanas, eu tinha um armário grande lá e as chaves ficariam o mês inteiro comigo, o que me deixava deixar os livros por lá e não precisaria carregá-los de um lado a outro a não ser um único que eu estudaria no dia em questão.

Mesmo de pé, o meu carinha ainda foi meu apoio para o sono, ficando recostado no banco, com seu livro mãos ele ainda acariciava meu cabelo enquanto minha cabeça recostou em sua barriga. Porém, em vinte inteiros eu não consegui dormir com o falatório absurdo no trem, e bufei baixinho, me ajeitando no banco.

Ouvi a risada dele baixa e rápida, e olhei para cima para saber do que ele ria, logo dando de cara com seus olhos já me encarando.

Ah, era de mim que ele estava rindo.

O encarei com a sobrancelha levantada, irritada por não conseguir dormir, e também o desafiando a rir novamente, o que ele não fez, fechando a expressão mesmo que nos lábios um sorriso ainda vislumbrava.

_ O que deu nesse povo hoje? - questionei baixinho.

_ Final do campeonato - ele respondeu de imediato e no mesmo tom.

Expresso 21Where stories live. Discover now