Capítulo 2

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Aos sábados eu não pegava o metro na volta, porque eu sempre saía às 18h do Vida Marinha de Seattle e era impossível de entrar nos trens por conta do horário do rush, entao eu ia de ônibus mesmo que demorasse um pouco mais o caminho.

Eu não parei de pensar no meu "carinha do onibus" que na verdade era do trem. Era engraçado como a voz dele ficava retumbando em minha mente e também como eu me lembrava como uma fotografia prensada em minha mente da cor exata dos olhos dele, assim como os detalhes de seu rosto, mais até do que todos os nomes em ordem dos autores renascentistas que eu estudei no último ano.

Talvez aquilo tenha tido a ver com o fato de eu ter entrado no último vagão do metrô na ida para o aquário no sábado, ficando decepcionada por não encontrar quem eu queria, mas com certeza não teve nada a ver na segunda, que também entrei no último vagão na volta para casa.

O único motivo era porque eu percebi que na verdade havia sim pessoas, até demais, no último vagão, e que podia até ser mais seguro que nos outros que sempre havia um ou dois apenas.

Pelo menos era o que eu dizia para mim enquanto eu parecia completamente obcecada a ponto de não conseguir pensar em mais nada a não ser naquele bendito carinha.

Aquele mesmo que no momento em que entrei no vagão estava lá, sentado no banco perto da janela e concentrado num livro. Daquela vez a capa estava virada para cima, e eu podia ver o nome O Lado Feio do Amor escrito. Era de uma autora que eu estava de olho há um tempo e apenas estava enrolando porque todos diziam que os livros eram um tapa na cara e um choque de realidade.

Não consegui dar muita atenção para aquela informação, tendo a lembrança do último livro que ele leu em meus pensamentos, e qual eu ainda tinha ansiedade em saber qual era.

A curiosidade foi o que fez minha timidez e o constrangimento ser menor que aqueles sentimentos, forçando meus passos até o banco ao lado do carinha.

Ele deu uma olhada para o lado, sem se mexer, como se quisesse confirmar quem era, e eu vi um vislumbre de sorriso em seus lábios, mas logo ele voltou a expressão séria e concentrada para o livro e eu me perdi em seu perfil.

Ele era bonito. Não do tipo bonito impossível, ele era bonito naturalmente. O cabelo castanho acobreado no tamanho perfeito para tocar e fazer carinho, aparentemente muito macio, as sobrancelhas alinhadas da mesma cor, os lábios gordinhos e um pouco avermelhados provavelmente porque todo o tempo ele mordia o inferior ou então pressionava um contra o outro, o nariz reto e do tamanho certo. Ele era normal, só que normalmente muito bonito. E o cheiro que exalava era de perfume, porém também de algo um pouco doce, era incrível e confortável.

Ah, era isso!

Ele era muito confortável.

Sua pessoa inteira era confortável.

Eu sentia até mesmo vontade de me aconchegar de novo para dormir. Até porque eu estava super cansada mesmo sendo segunda.

Havia tido duas provas naquela noite, e ainda o professor resolveu que iria fazer uma dinâmica ao ar livre, o que resultou em correria no gramado e alguns pulos.

Todo mundo adorou.

Eu odiei.

Era crueldade colocar alguém para correr depois de ter passado a manhã e metade da tarde dentro de um tanque enorme de água nadando de um lado para o outro.

Bem, era meio que o que eu fazia no aquário.

Havia muitas espécies de vida marinha por todo o parque, e todos os funcionários eram bastante gentis e amorosos, eu mesma era louca por aqueles bichinhos. E eu meio que era parte deles enquanto trabalhava, colocando uma calda de sereia e nadando num tanque com golfinhos treinados, fazendo as crianças se encantarem com toda aquela "magia".

Expresso 21Where stories live. Discover now