Capítulo 1

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"Você entrou na minha vida e então meu coração foi roubado, espero ter te levado de volta ao tempo em que você era inquebrável, porque foi o que você fez comigo. Você é tudo o que eu quero, e eu sei disso desde o primeiro momento."

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Eu sempre acreditei em destino, em astros, em signo, tudo o que pudesse dizer que algo que acontece já estava destinado a acontecer. Era a minha filosofia de vida, ou apenas uma desculpa para eu não ter nenhum "alerta de perigo" em meu subconsciente.

Para uma garota que está há um ano na cidade enorme de Seattle após sair das profundezas do interior de uma cidadezinha onde todo mundo se conhece desde criança, eu estava me saindo era muito bem.

Eu era a única da minha família que decidiu se aventurar pela cidade grande, o que resultou num apartamento no centro do Picket Place, pagando o aluguel de um quarto para uma loira maluca e superprotetora, fazendo faculdade e trabalhando "meio período" no aquário da cidade. Eu estava prestes a virar um zumbi, mas era por uma boa causa, iria compensar no fim.

Era o que eu esperava pelo menos.

Ah, sabe aquele lance sobre acreditar que tudo o que acontece era para acontecer mesmo? Foi com essa perspectiva que eu acabei tendo de pegar o metrô das 21h todos os dias de segunda a sexta mesmo sob os protestos de Kate - e de toda pessoa consciente.

Diferente do que deveria, eu trabalhava das 09h as 15h no Vida Marinha de Seattle, e das 15h às 21h eu estudava na Universidade Federal de Seattle, o que me fazia pegar o último expresso do metrô, qual geralmente quase não tinha ninguém e deixava qualquer um com medo de esperar ou então de estar lá dentro.

Mas era o que tinha que acontecer... Assim como tinha que acontecer eu estar tão cansada na sexta depois das aulas.

Eu estava escorada numa das pilastras da plataforma enquanto esperava pelo expresso os dois minutos inteiros que ele levava para parar a minha frente após eu chegar na estação, e eu estava seriamente pensando em deitar no chão por aqueles segundos. Minha mochila pesava com as coisas do trabalho e com os livros da faculdade, assim como meu corpo que mais parecia ter uma tonelada, meu cabelo eu sequer havia tido tempo de secar mais cedo, então ele estava uma bagunça presa num coque e eu tinha certeza que ainda estava cheirando ao cloro da piscina do aquário.

Sequer havia percebido que não havia andado na plataforma para entrar no vagão do meio de tanta preguiça, o que me fez entrar no último mesmo, aonde podia nem ter alguém, ou pior, ter alguém.

Parada na porta, eu ainda consegui dar uma olhada, e para minha supresa havia sim pessoas ali. Nos seis bancos juntos que tinha no vagão, todos estavam ocupados com alguém.

Um casal que mais parecia estar em lua de mel (já na parte que crianças não deveriam ver); um homem com uma aparência um pouco duvidosa e que segurava uma latinha vazia nas mãos; dois homens de braços cruzados e com cabeças recostadas no encosto enquanto roncavam; duas mulheres com expressões intimidantes e que ocupava os quatro bancos por terem esticado suas pernas; e um cara, a cabeça baixa enquanto parecia concentrado no livro que lia e sequer percebia o mundo ao redor.

Não tive muito mais tempo para pensar pois as portas começaram a fechar comigo no meio delas, e eu apenas me apressei a me sentar do lado do cara com o livro. Ele não me dirigiu o olhar e eu também preferi deixar ele na dele mesmo que a educação em dizer "boa noite" tenha me corroído.

Eu odiava que alguém sequer pedisse "licença" quando eu estava lendo.

Ainda consegui manter meus olhos abertos até a próxima estação, mas o movimento do trem voltou, meu corpo cedeu e eu nem percebi.

Expresso 21Onde as histórias ganham vida. Descobre agora