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Mas não sei se você sente o mesmo que eu sinto, mas poderíamos ficar juntos se você quisesse — Arctic Monkeys, Do I Wanna Know?

Ayleen

— Ayleen, eu acredito em você. Confio que seus sentimentos são reais — mesmo falando isso, sua postura ainda está na defensiva; uma distância desconfortável entre nós —, mas eu preciso de um tempo sozinho.

Parece que acabei de levar um tapa. A sensação é tão autêntica que levo minha mão ao rosto, como se o local estivesse ardendo.

— Você quer que eu vá embora? — digo com uma firmeza que não sinto.

Sua expressão séria se suaviza. — Não. Quase não consigo te olhar... minha família te destruiu. Só sinto o gosto amargo da vergonha.

Abro a boca para responder, no entanto, ele se vira e sai da varanda. A vida é um grande peça de tragédia.

Observo o seu andar atordoado até sua forma sumir do meu campo de visão. Solto um suspiro e aperto a almofada vermelha no meu peito. Como será que as coisas ficarão daqui pra frente?

O que a família dele irá fazer agora? Já contrataram alguém para me matar, não me querem por perto e partiram para a ameaça direta. Devo ter um alvo bem no meio da testa.

Largo a almofada ao lembrar do que me fez abrir o jogo de uma vez: a mensagem de mais cedo. Retiro o meu celular do bolso e vejo a maldito texto.

999455709:

Apenas palavras não são o bastante.

"Victor Agostini compra menor em um leilão ilegal"

Acha que esta manchete vai ser suficiente ou falta informação?

Nem tente brincar comigo.

Eu sei quem foi o remetente e nem me questiono sobre como conseguiu o meu número. Uma notícia dessas pode acabar com o Victor completamente. Mesmo que seja uma mentira, metade da população brasileira é enganada por notícias falsas.

Não quero que ele sofra ou fique queimado por minha causa. Por este motivo, decidi contar tudo de uma vez. A princípio, cogitei a possibilidade de resolvermos isso juntos... mas agora eu não sei.

E se ele achar que a família tem razão? Decidir me afastar de uma vez de sua vida quando eu nem pedi pra entrar?

Encosto minha cabeça à parede e fecho os meus olhos. Fico nesta posição por um tempo indeterminado, acho que até durmo.

Acordo em um sobressalto. Meus olhos levam alguns segundos para se ajustarem à escuridão. Não foi aqui que dormi... constato ao reconhecer a suíte dele.

O Victor me carregou até aqui quando ainda nem consegue segurar um copo?

Meu estômago ronca e é quase um som de protesto, mas não posso culpá-lo. Tantas coisas aconteceram hoje que acabei pulando o almoço. Não demoro a perceber que estou sozinha no cômodo.

Me levanto da cama e saio da suíte. Quando estou no corredor, Victor está chegando ao topo da escada com uma bandeja de prata. Sobre ela há um sanduíche, uma tigela com morangos, um copo de suco e um bombom.

— Você não deveria fazer tanto esforço assim — advirto, porém, completamente encantada com o seu gesto. Isso só pode ser um bom sinal.

— E você não deveria ficar tanto tempo sem comer — seu rosto permanece fechado, contudo, é o seu olhar que me deixa mais tranquila.

— Victor, eu...

— Não, você vai comer. Depois nós conversamos.

Ele passa por mim e volta para o quarto. Sigo os seus passos bem a tempo de vê-lo abrindo a porta de vidro da sacada. Põe a bandeja sobre a mesa de vidro redonda e aponta para a cadeira.

Dou poucos passos e me sento no lugar indicado. A chuva reduziu a um fraco chuvisco, mas as nuvens ainda estão muito cinzas. Paro de fitar o céu e pego o sanduíche, dando uma mordida. Um gemido me escapa.

— Ayleen.

Mudo o meu foco do sanduíche para ele.

— Eu fiquei pensando por uma hora. Uma hora tentando entender por que os meus pais querem acabar com a minha felicidade.

Não tenho o que comentar, apenas ouço com atenção.

— Você me deixa de um jeito que eu não consigo explicar. Ayleen, você me provoca os mais extremos sentimentos. Não vou negar, tô muito puto por não ter falado comigo antes. Chateado porque não confiou suficientemente em mim.

— Mas eu —

— Ainda não terminei — me interrompe. — E triste por grande parte do seu sofrimento ter sido causado por meu pai.

Abaixo os olhos e brinco com o morango no topo da tigela. — Eu queria que seu pai, no mínimo, assumisse a culpa pelo que fez. Mas, ao invés disso, ele me ameaçou — solto uma risada seca.

— Porra, que desgraçado filho da puta! Agora entendo por que as investigações não davam em nada. Aposto que Josué Agostini deu uma boa dose de suborno pra os investigadores — Victor esfrega a testa deixando o local com um leve tom avermelhado.

— Ele me mandou uma mensagem enquanto estávamos no hospital. Era o título de uma manchete. Um aviso bem claro pra eu me afastar — solto o morango e suspiro de frustração.

— Eu vou tirar essa história a limpo. Não posso deixá-lo achar que pode controlar a minha vida. Porra, eu só queria ter pais normais que ficassem felizes por mim. Vou contratar mais seguranças pra você.

— Victor...

— Não, Ayleen! Não vou te deixar andando por aí sem qualquer proteção. Eu não confio no meu pai. Ele já provou que é capaz de tudo.

Balanço a cabeça concordando com sua fala.

— Desculpa. Eu deveria ter sido honesta desde o início. Não era minha intenção te deixar chateado — encaro-o.

— Eu também quero que você me desculpe. Não deveria ter falado daquele jeito — Victor para de encarar o meu rosto e olha para o céu depois de ouvirmos uma trovoada. — É melhor entrarmos.

Carrego a bandeja para dentro e deixo na mesa-de-cabeceira.

— Victor — aguardo até que seus olhos estejam em mim —, nós estamos bem?

Suas orbes brilhantes denunciam-no muito antes de suas palavras. Em poucos passos, ele fecha a distância entre nós. Segura o meu rosto e estamos cara a cara.

— Eu não posso me afastar de você, Ayleen.

Então, seus lábios chocam-se com os meus. É um beijo carregado dedesculpa, de culpa e de reconciliação. Nem mesmo o som impactante das trovoadas interrompem a nossa conexão.

 Nem mesmo o som impactante das trovoadas interrompem a nossa conexão

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O Victor tá ficando tão bem treinado 😏🍸

~Momento desabafo: gente, caí de joelho hj na calçada e minha irmã de 7 anos ficou rindo de mim 🤡

Me façam esquecer dessa humilhação comentando e votando 🤧

DeclínioWhere stories live. Discover now