⚭24

13K 1.2K 235
                                    

É engraçado a forma como vivemos nos esbarrando por acaso — Allimidul Seohlub

Ayleen

O ruído ao meu redor se torna abafado. Não me movo, permaneço sentada como se estivesse colada na cadeira. Não sei bem o que aconteceu comigo.

Engraçado — ok, não tão engraçado assim — pensar que recebi consolo deste estranho. Um dos piores dias da minha vida, ele estava lá, por acaso. Assim como no dia do leilão.

Por quê? Por que ele sempre aparece para me ver nos meus piores momentos?

A algazarra se esvai e eu continuo aqui. Os convidados também saíram. Bem, quase todos. Victor conversa com o diretor por alguns segundos.

Observo, da distância em que estou, seus lábios se abrindo em um sorriso educado. Como uma flecha me atingindo. Mas eu não quero ser um alvo!

Então, o assunto entre eles é encerrado e o mais velho se retira do auditório.

Droga! Eu deveria ter saído junto com os outros...

Me amaldiçoo baixinho para não ser notada. Se eu tiver sorte, ele não vai me notar aqui. Ele não vai se lembrar de mim, é isso.

No entanto, como não tenho nenhum pedido atendido, ele decide passar os olhos na arquibancada.

Seus olhos vão fitando cada fileira e é como se eu estivesse sendo torturada. Uma criança se escondendo.

Cada vez em que ele vai se aproximando, meu coração acelera e ameaça a sair do peito. Ele não vai me ver, ele não vai me ver, ele não vai me ver.

Ele me encontrou...

Minha respiração praticamente para quando ele me acha.

Engulo em seco e solto o ar que eu nem tinha ideia de que estava segurando. Sua boca se abre levemente e seus olhos miram os meus com intensidade.

Eu perco bons segundos encarando-o de volta. Não me mexo, ele não se mexe. Não sei que tipo de comunicação estamos transmitindo, mutuamente.

Meu Deus, ele tá vindo pra cá.

Sim, ele começa a se mover. Passos determinados. Victor se aproxima cada vez mais e eu me sinto ainda mais colada à esta cadeira estúpida.

Seu foco continua no meu rosto durante todo o trajeto em que ele leva para me alcançar. Não sei como é possível ele ficar ainda mais lindo do que um ano atrás.

Minha boca fica subitamente seca, passo a língua entre os lábios e respiro fundo. Bora, Ayleen. Reage, você não é mais uma criança.

Não tem que ter medo de pessoas. Mas não sei bem se o que estou sentido é medo, é algo diferente disso.

— Você — a voz grave e potente me acerta.

— Eu — é a primeira coisa estúpida que consigo responder.

— Sinto muito — lamenta. Fica subentendido que fala sobre a minha mãe.

— Eu também — todos os dias, você não faz ideia.

— Não sabia que você estava estudando aqui.

Solto uma risada. — Bom, eu não sabia que te veria novamente.

Sinto que ele segura um sorriso. — Eu sempre tô por perto.

O que ele quer dizer com isso?

— O quê? — digo, confusa.

DeclínioWaar verhalen tot leven komen. Ontdek het nu