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A vida é feita de escolhas, mas eu preferia não ter que escolher nada — Allimidul Seohlub

Ayleen

A gente passa a vida inteira escutando que não é certo querer se vingar das pessoas. Minha mãe me criou para que eu crescesse com uma boa índole e virasse um ser humano decente. Uma mulher forte e empoderada.

Uma garota independente e bem resolvida. Eu desejava profundamente atender aos seus critérios, mas algo queima dentro de mim. Eu quero me vingar do Josué Agostini de algum jeito. Eu quero que ele sinta a desolação que é perder sua pessoa amada.

Eu te odeio, Josué Agostini.

Tenho a necessidade de assistir suas lágrimas manchando suas bochechas e o coração esmagado.

Eu quero que ele vivencie toda a dor e sofrimento que minha mãe precisou experenciar. Ainda assim, será muito pouco.

O contraste é muito desolador. Minha mãe tá numa maca e ele no seu aposento real.

No entanto, duvido se esse homem tem algum tipo de sentimento. Assemelha-se a uma casca vazia. Quanto mais rico, mais frio?

E o Victor? Ele tem culpa? Do que isso importa?

E é minha culpa ficar sem pai? É minha culpa ver minha mãe morrendo aos poucos naquele hospital? É minha culpa ter que parar de viver só para trabalhar enfadonhamente? Eu não existo, apenas tento sobreviver.

Então, sim. Toda a família Agostini tem culpa. Não ligo se pareço infantil ou uma boba. Só queria ter uma vida normal.

Queria que minha mãe fosse saudável e meu pai vivo.

Sim, eu quero tantas coisas impossíveis.

O telefone desperta inutilmente. Nem dormi direito. Ao invés de levantar, pego o meu travesseiro, continuo em minha posição fetal, e o abraço enquanto lágrimas quentes deslizam por minha bochecha.

Não tenho vontade de me levantar. Não quero encarar o dia. Não quero olhar para as pessoas. Não quero sorrir. Não quero falar. Hoje, não tenho nem vontade de existir. Vivo constantemente exausta.

Enxugo as lágrimas grosseiramente com as costas da mão e alcanço o meu celular na mesinha ao lado da minha cama. Pela primeira vez, envio uma mensagem para todos os meus empregos e digo que não irei. Invento que não estou me sentindo bem. Não é uma mentira.

Uma sensação de alívio se instaura no meu peito. Hoje, somente hoje, eu vou tirar o dia pra descansar. Amanhã começa tudo de novo. Mas, por enquanto, me concentrarei apenas no agora.

Estou prestes a enfiar o telefone embaixo do travesseiro mais uma vez, quando noto o símbolo do Gmail na minha barra de notificação. Clico nele e leio a mensagem.

Prezada senhorita Dutra,

Conforme combinado anteriormente, a metade do valor será depositada na conta de sua preferência. Diante a isto, esperamos o retorno deste e-mail com os seus dados bancários para darmos conclusão à transação. Após o retorno, um novo e-mail chegará confirmando a movimentação.

Att; Equipe Universe.

Começo a rir no meio das lágrimas. O Universo é sacana. Este e-mail tinha que chegar justo no meu momento de autopiedade?

200 mil. Nunca tive tanto dinheiro em toda a minha vida. Sem delongas, respondo com os meus dados bancários. Meu coração se alegra brevemente por saber que serei capaz de manter minha mãe por mais tempo no lugar em que tanto adora.

DeclínioWhere stories live. Discover now