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O amor não precisa de memória, não arredonda, não floreia: faz forte estilo. E fim — Guimarães Rosa

Ayleen

A primeira noite em minha casa nova é um pouco diferente. Precisarei de um tempinho para me acostumar, mas é normal. Além disso, Victor ficou por muito tempo. Quase tive que expulsá-lo.

Não que eu não quisesse a sua presença, mas sim o fato de que eu queria passar por esse momento sozinha. Pode ser um pouco bobo, no entanto, eu desejava sentir que era uma conquista minha.

E desse jeito, a primeira noite se foi. O melhor de tudo é que posso acordar bem mais tarde. E não preciso pegar nenhum ônibus.

O que será que o Victor tá fazendo agora?

Me pego pensando nele enquanto tomo o meu café da manhã com tranquilidade. E pensar nele me faz viajar para outro rumo: o evento na próxima semana.

Eu estaria mentindo se dissesse que não me incomoda em nada ter que ir, porém, imaginar outra agarrada em seu braço me provoca um incomodo muito maior. Não sei de onde veio toda essa possessividade.

O fato de que há mais do que 90% de chances do pai dele também estar presente, me causa náuseas. E é nesse momento que eu penso: o que eu estou fazendo com o filho desse homem?

Mas então a imagem do Victor se forma em minha mente; o modo como ele se preocupa comigo, a necessidade que ele transmite de me querer por perto. A maneira como ele me olha...

Que caminho perigoso, cérebro...

Bebo o meu café e meu celular vibra sobre o balcão. Para de olhar a janela e apanho o celular. Um sorriso bobo enfeita os meus lábios quando abro o aplicativo de mensagens.

Victor:

Bom dia!!!

Uau, três exclamações? Continuo lendo a mensagem.

Victor:

Dormiu bem?

Provavelmente, alguém da editora entrará em contato.

Vou entrar pra uma reunião daqui a pouco.

Já sinto a sua falta.

Mas o que mais me espanta é eu também sentir falta dele.

Eu:

Bom dia

Sim, eu dormi. Boa reunião.

Posso estar sentindo sua falta também.

Termino de enviar a mensagem e saio do aplicativo o mais rápido possível. Como se fosse a pior coisa do mundo ele saber que também sinto falta dele.

Guardo o celular no bolso da minha calça jeans e termino de me arrumar. Um tempo depois, estou dentro da universidade. Sim, me mudar de casa foi a melhor decisão.

Almoço na universidade com dois alunos da minha sala depois de sermos selecionados para fazermos um trabalho em grupo: Pablo, com seu cabelo black pintado de rosa e Lídia, com os grandes olhos verdes e cabelos bem curtinhos. Mal sei quem são, mas eles parecem saber mais sobre mim do que eu imaginava.

— Então, Ayleen, é verdade que você namora com o Victor Agostini? — Lídia manda na lata.

Quase engasgo com o pedaço de carne que estou mastigando.

DeclínioOnde histórias criam vida. Descubra agora