Capítulo 23

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Arizona estava com a fisionomia abatida e parecia dormir um sono profundo.

Calliope respirou fundo, aproximou-se da porta do quarto e afastou-se várias vezes. Do lado de fora, pelo vidro, via o amor da sua vida. Encostou sua testa sobre o vidro frio e fungou, piscando demoradamente, desejando que tudo aquilo não passasse de um pesadelo.

Quando a médica resolveu entrar no quarto, seu instinto foi o de deitar ao lado de Arizona mas sabia que não podia. A loira estava tão frágil e com machucados pelo corpo, um de seus braços estava enfaixado.

Callie puxou uma cadeira e sentou-se ao lado dela, segurando sua mão.

— Você não pode fazer isso comigo — sussurrou a médica.

O quarto estava frio e ela se perguntou se Arizona estaria sentindo frio. A médica uniu as duas mãos da loira às suas, como se suas mãos fossem uma concha e pudesse mantê-las aquecidas.

— ... eu não quero dizer nada para você, porque quero e preciso acreditar que estará acordada para me ouvir, quero ver seus olhos brilharem para mim novamente e sua boca desenhar o sorriso mais lindo que eu já vi, vou me agarrar a isso — Callie acariciou o rosto da loira — mas sinto que preciso te fazer presente, sei que não vou me acostumar com a sua ausência — Callie enxugou uma lágrima no canto do olho — e nem quero, não consigo e não quero pagar pra ver. Amor, você não pode fazer isso comigo.

Calliope ficou em silêncio por um longo tempo, com a cabeça sobre o colo de Arizona, segurando a mão dela e contornando o formato meigo da unha delicada da loira.

— É uma tragédia crescer — começou — a gente sabe que vai ficar um longo tempo sem sentir algo novo. Quando se é criança tudo é para sempre — Calliope sorriu, tendo vagas lembranças da sua infância — e passa tão rápido, depois cai a ficha de que não é assim e aí a gente vira um adulto revirando os momentos bons na cabeça porque às vezes com a correria fica difícil se permitir criar novos momentos bons — Callie agora olhava para a loira — Acho que é por isso que você significa tanto para mim. Você fez eu querer para a minha vida, congelar todos os relógios para ter momentos bons ao seu lado. Nesse momento eu senti o algo novo que eu nem sabia que ainda seria possível.

A médica suspirou, por instantes achou que estava com falta de ar e realmente sentiu como se suas vias aéreas estivessem obstruídas.

Lauren havia chegado há alguns minutos, estava do lado de fora, observando-a, respeitando o momento dela quando a viu deitar no chão. A pediatra entrou rapidamente no quarto.

— Callie! — gritou, sentando-se ao lado dela, no chão — Calma!

Calliope estava vermelha, o rosto molhado de tanto chorar. Ela não conseguia dizer nada.

Lauren a abraçou, não achou que seria a pessoa ideal, mas sentiu necessidade. Callie chorou igual criança em seu ombro e ainda que quisesse parar, Calliope não conseguia.

Ela já havia visto muitos pacientes na mesma situação de Arizona, pouquíssimos haviam se recuperado, na maioria dos casos a família optava por desligar os aparelhos, levando em consideração a degradação do corpo, perda da funcionalidade, perda de massa muscular e uma série de outros problemas gerados em decorrência da imobilidade prolongada, uso de ventilação mecânica.

Pensar que essa não deixaria de ser uma opção fazia com que o coração de Callie se quebrasse em numerosos pedacinhos. Se Arizona não acordasse nunca? Ela não ia querer vê-la por anos em cima de uma cama, vendo o corpo dela ir embora aos poucos. Arizona não mereceria passar por isso.

— Callie, eu preciso que você respire junto comigo — orientou Lauren, ao perceber que a médica estava com falta de ar — Lauren pegou as mãos dela e percebeu como estavam molhadas de suor.

Calliope sentia uma dor forte em seu peito, como se estivesse infartando. Seus batimentos cardíacos estavam super acelerados, sentia formigamento nas mãos e pernas.

— Respire comigo — orientou Lauren.

Callie obedeceu.

— Fui ao quarto de Sofia — Lauren precisava distai-la  — Ela estava comendo um prato enorme de comida, você precisava ver, nem os legumes escaparam.

Callie riu, Sofia se alimentava super bem, mas odiava comer legumes, para a pequena resolver comê-los realmente a fome era grande.

— Eu costumo presentear meus pacientes quando estão tendo um ótimo progresso, comendo direitinho, aceitando as medicações sem pestanejar... — Lauren parou um pouco — Tim me disse que Sofia é uma ótima bailarina, não... ótima não, a melhor do mundo todo, palavras dele — Lauren sorriu lembrando-se do seu menino — Ele disse que quando forem grandes os dois irão trabalhar juntos, ele vai tocar piano e ela vai dançar e que juntos irão viajar muitos países — Lauren riu — Timothy falou que todas já estão de acordo, inclusive você.

Callie riu alto — Eu não estou sabendo disso, ele disse que iria tocar e Sofia dançar, mas não falou que iriam viajar o mundo todo, que iria levar a minha Sophia para longe. Ele e eu vamos ter uma conversa séria — Callie estava mais calma.

— Pegue leve com ele, certo? — brincou Lauren.

— Pode deixar.

— Qual a cor favorita de Sofia?

— Rosa.

— Anotado.

Lauren ajudou Callie a levantar.

— Obrigada, Lauren — agradeceu, apertando a mão da pediatra suavemente.

Calliope foi até Arizona e deu um beijinho na testa da loira, acariciando-lhes as mechas — Mais tarde eu volto, meu amor.

Com todas as forças Calliope desejou ter boas noticias, desejou receber uma ligação dizendo que Arizona havia acordado, mas não aconteceu.

~.~

Qualquer erro será arrumado em breve!



Moments - CALZONA - CONCLUÍDAWhere stories live. Discover now