Capítulo 22

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Calliope só aceitou ir para um quarto porque precisava ficar com Tim.

Jo Wilson havia dito que ele estava se sentindo só e por mais que ela ficasse com ele, era de uma figura mais familiar que ele precisava.

Lauren ainda estava em cirugia e Arizona também. Era obrigação dela cuidar dele já que uma de suas mães tentava salvar a vida de sua filha e a outra mãe, amor de sua vida, estava sendo operada.

Callie fechou os olhos e os comprimiu com os dedos, tentando afastar a imagem que insistia em voltar.

Tim só conseguiu dormir depois que Calliope deitou com ele em uma das camas hospitalar. Ele passou o braço sobre o corpo dela e apoiou a cabeça em seu ombro. A médica pousou seu rosto sobre as mechas loiras dele, sentindo o cheirinho do apartamento de Arizona invadir suas narinas.

Durante todo o período que se seguiu, as horas transcorreram com tamanha inquietude. A médica cochilava por poucos minutos e nem adormecida conseguia fugir inteiramente do pesadelo que estava vivendo.

Tinha vagos pesadelos sobre tudo que havia acontecido. Timothy tinha espasmos igual Arizona e isso fez com que a médica fosse tomada por uma saudade sem fim.

Saudade é o azar de quem teve muita sorte”

Lembrou-se da frase de uma escritora. Nesse momento fazia todo sentido. Ela havia tido a sorte grande de ter encontrado Arizona, teria muito azar se o universo a tirasse da sua vida e tudo que vivenciaram juntas fosse resumido à tortura que é sentir saudade.

Como se esse sofrimento não bastasse, Sofia, a sua menina, estava em uma sala ainda em cirurgia. A pequena era e sempre seria o grande amor da sua vida.

Ela era doce e carinhosa sem fazer nenhum esforço. Tinha a coragem invejável de Mark, mas sem dúvida nenhuma a sua esperteza vinha dela.

Sofia era capaz de aprender o que quisesse assim como qualquer pessoa, a diferença estava na paciência. Ela tinha de sobra.

Callie se odiou por minutos ao se referir a sua filha no passado, como se a tivesse perdido. A médica ajeitou Tim em seus braços, puxando a coberta sobre os dois e o abraçou forte, somente assim ela conseguiu adormecer por horas seguidas.

Quando acordou, de manhã, o quarto estava escuro, uma chuva forte caía lá fora. Tim ainda dormia com a cabeça em seu ombro, parecia realmente muito cansado.

A médica olhou ao redor e encontrou Lauren dormindo na poltrona, um trovão a despertou. Quando a pediatra percebeu que Callie havia acordado, a loira foi até ela.

— Deu tudo certo — sussurrou — Sofia está se recuperando, Mark está com ela — Lauren deslizou os dedos pelo cabelo de Tim, ainda dormindo — Ela precisará ficar no hospital por um tempo em observação, está muito fraca, receio ter uma piora então prefiro mantê-la por perto — concluiu.

Calliope sussurrou um “obrigada” antes de Tim acordar. Lauren o pegou no colo e ele se encolheu nos braços dela, escondendo o rosto no pescoço da mãe.

— E...ahn — Callie não sabia como perguntar sobre Arizona.

— Kepner saberá te explicar melhor que eu e...ahn — Lauren engoliu em seco, como se estivesse fazendo um grande esforço para não chorar — Preciso ir em casa pegar algumas coisas.

Lauren tinha olheiras fundas e um olhar de quem está a dias sem se alimentar ou sem dormir, o cabelo desgrenhado preso em um rabo de cavalo frouxo, com alguns fios escapando.

— Obrigada — Callie disse, mais uma vez, pousando sua mão sobre o antebraço da pediatra, que apenas sorriu fraco antes de sair.

[...]

— Eu estou com muita fome — disse Sofia.

— Daqui a pouco eles trarão algo para você — Callie estava em pé, ao lado da cama da filha.

— Ou eu posso ir até a cantina e trazer um super hambúrguer com muito queijo e bacon — sugeriu Mark, fazendo os olhos da pequena brilharem com a ideia.

— Mark! — repreendeu Callie.

A médica ainda estava com o pensamento em Arizona e Mark sabia que a noite havia sido longa para os dois, mas para Calliope havia sido também assustadora. Com a filha em uma cirugia e a namorada em outra, ele não conseguia nem imaginar o que estava passando na cabeça dela.

— Você já foi vê-la? — ele perguntou, baixo e sério.

Por um instante os olhos de Callie vacilaram e se encheram de lágrimas. Não conseguiu responder e a lágrima desceu e ela desabou.

— O que foi? — Sofia preocupou-se — Por que a minha mãe tá chorando?

— Nada, filha — respondeu Mark, abraçando Callie — a mamãe só está cansada.

— Mãe, eu já estou bem. Não precisa ficar preocupada... Vou tomar os remédios e você nem vai precisar falar duas vezes — disse a menina, tentando confortá-la.

— Tudo bem, meu amor — disse, sorrindo fraco e enxugando as lágrimas.

— Eu vou levar a sua mãe para tomar um pouco de água, Sofia. Eu já volto, não saia daí hein — brincou Mark.

— Nem se eu quisesse — riu a menina.

[...]

— Eu posso ir com você, Callie — disse Mark, passando as mãos pelas costas dela.

— Não, Mark. Não precisa — Calliope estava destruída, sentia que estava acordada há vários dias — Acho que preciso fazer isso sozinha.

— Não precisa bancar a durona comigo, Callie.

— Não estou, além disso, prefiro que fique com a nossa filha, não estou em condições e não quero que ela me veja chorando o tempo todo. Vai achar que é culpa dela, não estou preparada para contar que Arizona — ela engoliu em seco — não está bem.

— Bem, você quem decide... Se mudar de ideia eu estou por aqui, certo? — Mark deu um último abraço em Callie, antes de ela se dirigir ao quarto de Arizona.

A médica fez um esforço violento para entrar no elevador que a deixaria no andar do quarto da loira. Sentia uma espécie de embargo consumir todo o seu corpo por dentro.

Chovia torrencialmente lá fora e Callie lembrou-se da vez em que elas deram o primeiro beijo, Arizona havia sido ousada. Era uma das coisas que a médica amava nela.

Callie sentia que seu coração martelava suas costas. Não sabia como Arizona estaria, Kepner disse que eles haviam feito tudo, mas que talvez não deveriam ter insistido tanto, agora não sabem quando ela irá acordar, ou se irá acordar.

Calliope sabia que se lamentar pelo o que havia acontecido não resolveria nada, mas não conseguia ignorar o fato de que estava sentindo tanta raiva de si mesma, por ter sido grossa com Arizona.

Se ao menos soubesse... Queria ter uma versão da voz doce de Arizona dizendo coisas gentis, queria ter essa versão guardada em sua cabeça, mas ela só conseguia se lembrar da voz enraivecida e carregada de decepção.

E só se lembrava que a havia feito chorar minutos antes de tudo acontecer.

~.~

Olá, pessoal! Espero que estejam bem 😊 Na segunda irei viajar, uma semana fora. Não sei se consigo vir aqui postar, mas posso tentar. Se eu sumir, já sabem! Obrigada pelo carinho 😘 Estejam aqui quando eu voltar!

Beijinhos e se cuidem ❤️

Qualquer erro será arrumado em breve!

Moments - CALZONA - CONCLUÍDAWhere stories live. Discover now