Capítulo 80

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Ana Schmidt

Existe um fardo em ser uma pessoa que cuida, porque são poucas as vezes na vida que vão te olhar como alguém que precisa de cuidado.

Raríssimas são as vezes em que alguém vai tirar o controle da sua mão, te colocar no colo e pedir para que você descanse.

Então, quando isso acontecer, agarre a pessoa, mantenha ela, não tenha vergonha de amar, não tenha vergonha de se expressar, não tenha vergonha.

Não tenha medo de se entregar a felicidade.

A vida tem esfregado na minha cara uma coisa que achei que nunca entenderia; que eu posso ser incrível para os outros, mas se eu não for incrível para mim mesma, nunca vou sair do ciclo vicioso e medíocre de pessoas -situações- que não me convém mais.

Veja, eu estava confortável com minha rotina, onde vivia para trabalhar e trabalhava para viver. Satisfeita em viver amores de uma noite só, porque, apesar de tudo, ainda eram amores.

E, de verdade, eu estava muito feliz vivendo aquilo. Essa vida perfeita, de independência, sem cobranças, sem preocupações que não fossem pagar as contas, quitar o carro, fazer faxina aos finais de semana.

Sozinha.

Sempre sozinha.

Permanecer na nossa zona de conforto, contudo, pode ser uma armadilha, porque nada acontece. Você não erra, mas também não evolui. Quero dizer, ser melhor te custa desconfortos, relacionamentos, amizades, amores. Te custa a estabilidade emocional, te custa sua saúde física e te faz questionar quem você é.

Mas, no final, você... cresce.

E essa é a melhor vantagem que se pode tirar, ao sair da zona de conforto. Porque assim você sente.

Você sente.

Experiências como a que vivi no Arizona são apenas exemplos de que sempre dá pra ter proveito, mesmo das piores situações. Como, no caso, enxergar o copo meio cheio, ao invés de meio vazio.

Viver um romance lá foi a maior quebra de padrão que eu já fiz na vida, mas também foi o melhor acerto que já tive.

Então, ao acordar pela manhã, sentir o cheiro cítrico de Loki no travesseiro e o braço de Bucky ao meu redor, senti uma imensa vontade de agradecer por aquilo. O que veio com olhos marejados e também uma felicidade sem igual, que só aumentou quando ergui a cabeça e vi pela fresta da cortina que estava nevando.

Finalmente.

Segurei a mão de Bucky, que estava quentinha por baixo da minha camisa de pijama, dei uma leve apertada e sacudida.

— Ei, soldado. -Chamei, tentando me virar.

Bucky suspirou e me puxou para mais perto ainda, escondendo o rosto no meu pescoço. Claro, ele não teria que trabalhar hoje e estava bem frio, mas eu precisava ver sua reação com a neve.

— Está cedo. -Loki resmungou e puxou uma coberta para tampar a cabeça. - Você só precisa sair daqui duas horas, volta a dormir.

Como diabos ele sabia disso?

— Eu tenho um relógio aqui na mesa. -Respondeu em voz alta.

— Está nevando! -Eu exclamei.

— Hmm? -Bucky perguntou curioso, mas ainda embargado pelo sono.

Sacudi ele de novo.

— Neve, James! -Falei mais animada. - Vamos, levanta!

Bucky tirou a cabeça do meu pescoço e se ergueu parcialmente, desfazendo o abraço. Consegui me virar a tempo de ver seu rosto se iluminar ao ver a neve pela janela.

Two Passions, One LoveOnde histórias criam vida. Descubra agora