Capítulo 38

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Aviso de conteúdo sensível: dependência emocional, irresponsabilidade afetiva e violência auto infligida, pode causar gatilhos.

Ana Schmidt


Mesmo com toda intimidade que criamos, esse tipo de laço afetivo ainda era novidade. Percebo que talvez tenhamos pulado alguma etapa, indo direto para a cama, antes de estabelecer o que de fato éramos e também, é lógico, deixar claro quais eram nossos sentimentos.

Loki era um ser inexplicável e estava além da minha compreensão, mas luto a cada instante para entende-lo, sendo surpreendida toda vez que acho que ele vai agir de um jeito e acaba fazendo algo completamente novo.

Era cansativo, eu sei. Se doar tanto para alguém a ponto de deixar seus ideais de lado, mas eu estava muito disposta a fazer isso pelo príncipe. Não só porque o amava perdidamente, mas também porque meu lado altruísta sempre foi bem forte, me fazendo tomar atitudes absurdas somente para vê-lo bem.

Num relacionamento saudável, as coisas não deveriam ser assim; como num cabo de guerra, se um lado acabar se esforçando demais, o outro cai. Acontece que eu me doava demais para Loki, sem receber muito em troca e tinha medo de que quem caísse fosse eu.

Só que, vendo ele com a expressão de culpa e arrependimento, chegando a lhe marejar os olhos, todo esse pensamento de superioridade que eu tinha, caiu por terra.

— Eu não queria cortar nosso laço. –Ele disse baixo, encarando nossas mãos unidas.- Tentei voltar depois, mas não consegui. Parece que você criou um bloqueio.

Juntei as sobrancelhas em confusão.

— Não criei, nem mesmo sei fazer tal coisa.

— Mas algo em você criou, como se quisesse me manter longe. –Suspirou e se encostou no sofá, com a cabeça agora virada para o teto.- Não consigo voltar, estou tentando agora mesmo.

Olhei assustada para ele. A ligação que tínhamos era a coisa mais especial do nosso relacionamento e a ideia de perdê-la me causava ânsia.

— Tente de novo. –Supliquei.

Ele apertou minha mão com seus dedos gelados e fechou os olhos.

Pensei nele, pois sabia que isso me deixava mentalmente vulnerável. Pensei em seus beijos, na paixão que eu sentia ao recebe-los, pensei no dia em que o conheci, na primeira vez que dormimos juntos, nas noites em que ficamos sentados de madrugada, na varanda do chalé, nos olhares que trocávamos, tão íntimos que eu me sentia nua toda vez que ele me olhava com desejo.

E nada, não ouvi ele dizer nada na minha mente.

Então um suspiro cansado saiu de sua boca.

— Não consigo. –Soltou minha mão e passou ela pelos cabelos negros.- Não é minha magia, pois ainda consigo fazer isso.

Então, com a névoa verde saindo de seus dedos, ele conjurou uma rosa e me entregou. Certo, então se não era sua magia...

— Você me bloqueou, milady. –Disse sorrindo fraco.

Segurei a flor na altura dos olhos, apenas com medo de lhe encarar e ver a expressão de tristeza que sua voz demonstrava. Até tentei me culpar, pensando no que poderia ter feito para bloqueá-lo, mas a raiva se fez presente, quando percebi que se ele não tivesse socado Bucky, ou me abandonado, talvez ainda tivéssemos o laço.

— Não, eu não te bloqueei. –Rugi.- Você fez isso.

— Olha, eu apenas cortei a ligação aquele dia e desde então não consigo mais entrar.

Two Passions, One LoveWhere stories live. Discover now