Capítulo 49

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Ana Schmidt

Quando estava na faculdade, aprendi vários jogos para treinar e estimular a mente e senso criativo. Em matérias como "análise de comportamento" ou "percepção e memória", os professores faziam diversas dinâmicas de grupo.

Lógico que a intenção ali não era exatamente um tratamento, mas sim nos ensinar métodos alternativos de exercer a profissão no futuro.

Então, quando estávamos na garagem, eu peguei uma lata de lixo de metal e coloquei numa bancada improvisada que tinha ali.

Loki e Bucky me encaravam sem entender o que eu faria.

— Vamos começar. -Falei, me virando para os dois, eles estavam parados lado a lado.- Há situações na vida que contribuíram para nossa formação como ser humano, quero dizer, como pessoas. -Falei, olhando para Loki, afinal, ele não é um ser humano.- Quebrar uma perna, bater o carro, ficar bêbado até cair, beijar mais que cinco na balada, adotar um cachorro, perder a virgindade com a pior pessoa do mundo, entrar numa faculdade e só perceber que aquilo não era seu sonho anos depois, recomeçar uma carreira, ter filhos, namorar, ficar doente, perder alguém...

"Você pirou?" Ouvi Loki perguntar.

— Não, querido, não use a telepatia agora, vamos ter uma conversa normal. -Pedi a ele que revirou os olhos.- O que estou dizendo é que tudo isso é o que torna você, bem, você.

— Você perdeu a virgindade com um idiota? -Loki perguntou.

Eu quase ri disso, porque será que de todas as coisas que eu disse, essa foi a única que lhe chamou atenção?

— Foi com uma idiota, era mulher. -Respondi.- Mas não vem ao caso.

— Não estou entendendo. -Bucky se manifestou pela primeira vez.

— Nem eu. -Loki comentou, olhando rapidamente para o soldado ao seu lado.

Peguei meu papel com o que eu queria apagar da vida e o abri.

— Hoje vamos apagar essas memórias, essas lembranças. Não de um jeito ruim, mas vamos transformá-las em algo bom. 

Eu li o tinha escrito e recebi um olhar acolhedor de Bucky, esse que já tinha ouvido sobre a história que relatei. Já Loki, me olhava curioso, mas com um leve toque de solidariedade.

— Eu não sabia disso. -Ele resolveu falar.- Por que eles bateram em vocês? Por que você não revidou?

Eu sorri fraco para o deus, já pronta para responder, mas Bucky foi mais rápido.

— Eram duas mulheres, namoradas, as pessoas tendem a criticar aquilo que foge do que elas consideram normal.

Me surpreendi com ele dizendo aquilo, lembrando que essas foram as palavras que eu mesma usei há alguns dias para explicar sobre Alissa, minha colega de supermercado.

Loki olhou entre mim e o soldado, a confusão estampada em sua face.

— Bateram em vocês porque vocês eram duas mulheres. -Ele pontuou.- Por que foge do "normal"?

— De onde você vem, isso não existe? -Bucky perguntou.

Analisei os dois homens a minha frente, esperando que o diálogo entre eles se desenvolvesse. Era esse o plano, o desenvolvimento. E não me importava se era meu pequeno trauma com homofobia a pauta em questão, só queria que eles falassem.

— Não, não existe. -Loki falou, cruzando os braços.- Ela nunca apanharia por se relacionar com outra mulher em Asgard.

— Asgard é um bom lugar pra viver. -Comentei baixinho.

Two Passions, One LoveWhere stories live. Discover now