Capítulo 36

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Eu não tinha certeza se estava viva ou não, mas definitivamente, a dor era intensa e bem real. Não uma que eu conseguia definir onde exatamente era. Se você tem uma unha encravada, sabe em qual dedo estava doendo, uma dor de dente... Sabe em qual dente. Eu sentia absolutamente tudo doer. A minha barriga parecia que tinha sido escavada, remexida e esvaziada. Não era exatamente dor, nem contração, mas era uma cólica muito chata. Os meus seios estavam pesados, duros, doloridos, cheios. Minha região íntima inflamada, talvez eu tivesse tomado três ou quatro pontos ali, eu não sei, não era como se eu tivesse acordado e me mexido muito nos últimos...? Dias? Horas? Difícil saber.

Mas definitivamente, o que mais doía era o meu peito. Eu tinha quase certeza que eu tinha morrido e eles me trouxeram de volta na base da massagem cardíaca ou socos de tanta dor que eu sentia. Era algo que me lembrava muito as minhas costelas quebradas. Eu até me questionei naqueles segundos de consciência se eu havia readquirido-as. Mas não, a dor era diferente. Até preferia as costelas dessa vez. Era estranho ter vinte e três anos e essa dor no coração horrível como se uma parte dele faltasse. E faltava.

— Rose? – Alguém sussurrou do meu lado quando eu pisquei com a pouca iluminação do quarto. — Você consegue me ouvir? Você está bem? – Foquei o rosto do Mase com dificuldade.

Aos poucos, eu fui me sintonizando com o meu corpo e o meu arredor. O quarto não estava muito claro, tinha um bip chato no fundo, minha garganta estava seca e um pouco irritada, mas não tinha nada mais que um pequeno cano no meu nariz – provavelmente com oxigênio –. Senti, aos poucos meu corpo entorpecido e dolorido voltar a vida. Sob as cobertas, eu acho que tinha alguma roupa hospitalar e nada mais. Eu acho que tinha um cano nas minhas partes íntimas, assim como também tinha um no meu braço.

Quase comecei a entrar em pânico, sem entender do porquê eu estava presa em tantos aparatos médicos se eu só tinha vindo dar a luz. Olhei para os lados a procura do meu motivo de ter vindo até o hospital. Não tinha nem sinal do Alexander por ali. Nem se parecia com um quarto de maternidade. Onde ele estava? Como ele estava? Por que não estava aqui comigo? Imediatamente, eu me lembrei do Theo. Eu só tive algumas poucas horas com ele antes de ser levado embora e eu descansar para ter alta médica. Lixo biológico, esse era o nome que os médicos deram para o meu bebê e eu jamais me esqueceria.

— Ei, ei. Está tudo bem. Você precisa respirar, Rose. – O Mase passou os dedos pelas minhas lágrimas e ajustou o cano no meu nariz, como se fosse possível enfiá-lo ainda mais profundamente. — Se acalme e respire. – Eu queria gritar com ele, que ele tinha prometido me ajudar a não tirarem o meu bebê de mim, mas ele, claramente, tinha falhado com isso. Afinal, o Alex não estava aqui. — Vamos, respire. – Mase repetiu com calma e apertou desesperadamente o botão ao lado da minha cama antes de voltar a secar as minhas lágrimas.

Eu não acho que tenha se passado nem um minuto quando uma enfermeira correu para dentro do meu quarto. Ela avaliou a minha situação com a mesma velocidade que entrara. Eu tive a sensação de que aquela correria já acontecera uma vez e eles estavam preparados ou avisados para mais quantas vezes pudessem acontecer. A enfermeira assumiu o lugar do Mase, mexendo e olhando alguns aparelhos. Ele apenas trocou de lado para não me deixar sozinha novamente. Seja lá o que for que tenha acontecido na ausência dele, deve ter sido assustador para ele também.

Eu queria muito manter a calma ou, no mínimo, colaborar com o pedido deles em eu manter a calma, mas eu não conseguia. Sabia que a partir do momento que tiraram meu bebê de perto de mim, nunca mais eu o teria em meus braços e se estava sendo assustador para mim, imagina para ele que estava longe da única pessoa que ele conhecia? Da única pessoa que tinha conversado com ele durante todos os segundos nos últimos meses? A única pessoa que ele conhecia a voz, o calor, o cheiro, os barulhos? A pessoa que cuidou e protegeu ele com o próprio corpo? Eu sabia que uma hora ele não estaria comigo, mas jamais imaginei que seria tão abrupto e radical quanto estava sendo. Deus do céu, doía mais do que parir.

Per te, mi amoreWhere stories live. Discover now