Capítulo 3

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A pergunta que não quer calar é: existe algum emprego que eu tivesse horários flexíveis, trabalhasse um dia por semana ou durante as madrugadas?

De preferência, um trabalho... Ortodoxo, porque eu sei que você pensou e – pensei também – em algo como prostituição ou call-girl. Não, eu ainda estava chegando nesse nível de desespero, mas não estava lá... Ainda. Bem, eu estava quase lá, na verdade.

Por que disso?

Ah, porque o meu aluguel estava atrasado. Há dois meses. E eu vou deixar a minha lista de dívidas parar exatamente aqui, não tenho uma hora para citar tudo o que eu já devia aos meus quase vinte e três anos. Acho até que eu não tenho memória suficiente para citar tudo o que eu já estava devendo, mas tenho certeza que eu só preciso abrir o meu e-mail para ser lembrada.

Eu tinha me arrependido bastante pelo aluguel do vestido de casamento. Com certeza, os dólares que gastei nele teria pagado, pelo menos, metade de um dos alugueis. Não, eu não podia me arrepender. Tinha sido para o casamento da minha irmã e eu jurei que daria um jeito de conseguir dinheiro extra ou trocar de apartamento o mais rápido possível quando o primeiro aluguel ficou pendente. Mas me explique outra coisa: como eu posso procurar por outro apartamento se de segunda-feira a sábado, das sete horas da manhã às sete horas da noite eu trabalhava no café e atualmente, das oito horas da noite até uma da madrugada eu fazia entregas de bicicleta, às vezes, chegava em casa faltando poucos minutos para às duas horas da manhã e precisava acordar ao mais tardar às seis horas para um novo dia de trabalho?

É, eu tinha arranjado mais um emprego e mesmo assim não estava sendo o suficiente. Será que se eu arranjasse outro emprego das duas às quatro da madrugada, eu conseguiria inteirar o aluguel? Primeiro o aluguel, depois as outras dívidas.

Domingo? Domingo eu passo todo o maldito dia de garçonete em outro restaurante.

Eu tinha vivido essa loucura por um mês. Ao menos, eu tinha conseguido pagar um aluguel inteiro. Considerando que eu já devia dois e o proprietário estava mais do que sedento em me colocar para fora, eu estava reconsiderando um quarto trabalho. Quem sabe um quinto? É, ser prostituta ou call-girl eram as opções que me sobravam. Ou algum escritório precisa de recepcionista durante a madrugada? Como eu disse, eu tenho das duas às quatro horas da manhã para vender ainda. Na verdade, eu já estava começando a me sentir a própria prostituta do proprietário do apartamento, porque eu estava fodida. E muito, muito mal paga.

Eu sei, eu sei. Uma ligação para a Lissa teria resolvido tudo. Tenho certeza que ela dividiria a herança dos pais comigo sem hesitar. De novo. Na realidade, ela me dera uma quantia considerável logo que a herança foi liberada pelo advogado. Ela insistira de que eu também merecia aquele dinheiro e nós entramos em um acordo sobre a quantidade. Eu não achava justo colocar as mãos no dinheiro dos Dragomir quando eu não era filha deles de verdade. Eu os considerava como meus pais, no testamento, até me incluíram de que os herdeiros biológicos – nesse caso, apenas a Lissa estava viva – estavam autorizados a compartilhar comigo o dinheiro e tudo mais que eles julgassem ser certo. Ainda não acho justo. Não carrego o nome ou sangue da família.

Eles me amaram isso é fato. Cuidaram de mim quando a minha mãe preferiu partir. Deram-me um teto, amor, condições. Nunca me faltou nada enquanto eu estava sob a tutela deles. Não havia diferença entre mim e os filhos biológicos deles, André e Lissa. Eu frequentei a mesma escola que eles, minhas roupas eram das mesmas lojas que as deles, o mesmo celular. O mesmo de tudo. Agora, sozinha, no mundo e na vida... Eu estava exausta e perdida. Uma ligação resolveria todos os meus problemas. Bem, o mais emergencial deles. Outro motivo que também me fazia desistir da ideia de pedir mais da herança era o fato da Lissa ter gastado grande parte no casamento, na compra e reforma do novo apartamento.

Per te, mi amoreOnde as histórias ganham vida. Descobre agora