Capítulo 27

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Minha nuca estava latejando, mas era óbvio que eu ia colocar aquelas duas estrelinhas em companhia do meu pequeno Theo. Podia parecer mórbido e até poderia ser, mas esse tinha sido o jeito que eu tinha arranjado de carregar o meu bebê comigo para o resto da minha vida. Eu tinha levado quase três meses depois de perdê-lo para entender o que realmente tinha acontecido. Eu tinha tirado só um dia de folga – compulsória – depois que ele nasceu. Fisicamente, tinha sido impossível. Eu ainda estava cheia de dores e sangrando muito, se não fosse por isso, talvez a Celeste nunca soubesse que eu tinha perdido um bebê e nem me dado mais uns dias para me recuperar.

Eu tinha tentado voltar ao trabalho depois de um dia do acontecido, afinal, a minha vida sempre fora corrida, em partes porque eu tinha que guardar dinheiro para mim e para um berço que eu precisava comprar, mas então... Eu me dei conta que não precisava mais. Não precisava guardar dinheiro para o berço ou as fraldas, mas eu precisava guardar cada centavo para pagar as cobranças que não paravam de chegar do hospital. Cada vez que eu me dava conta dessa outra mudança repentina na minha vida, isso rasgava o meu coração em mais pedaços do que eu sabia que um dia ele poderia se curar.

Quando eu soube daquela gravidez... Que aquele bebê era fruto de um... Estupro e de uma noite que eu não me lembrava, meu primeiro pensamento foi: eu não vou e nem quero tê-lo. Ainda era recente, não tinha mais que oito semanas quando eu descobrira. Eu só precisava ir até uma clínica e fazer um aborto. Eu cheguei a ir até a clínica, mas eu não consegui. Eu nunca conseguiria, porque tudo o que eu pensava era em mim, na minha maldita história e o quanto eu dizia que eu nunca faria a mesma coisa que a minha mãe fizera comigo. Eu não era como ela. A minha mãe tinha me abandonado, não me abortado, mas realmente, existia alguma diferença? Ela tinha me deixado para trás da mesma forma, mas um ela sentiria menos dor na consciência, talvez. Era uma vida com sangue dela andando por ai que quando ela estivesse afim, poderia procurar. Ou seria melhor não ter... Enfim, eu não consegui e fui embora antes que chamassem o meu nome.

Tendo em mente que eu precisava ser a melhor mãe que eu poderia ser para ele, eu trabalhei o máximo que eu podia mesmo com os mal estar. Estava procurando algum trabalho de secretária – mas honestamente, quem daria emprego para uma grávida? Sendo que essa era a terceira pergunta da entrevista. A sequência sempre era: qual seu nome? Sua idade? Está grávida? – para conseguir sair do café e, quem sabe, ter uma renda melhor para nós dois. Ou ao menos, um lugar onde me incentivassem a voltar a estudar no futuro e ter uma possibilidade de uma profissão. Qualquer coisa além de garçonete. Eu ia ser mãe, precisava ter um objetivo maior do que apenas receber gorjetas maiores.

Mudar para o horário noturno me permitia descansar durante o dia, que era o momento que eu realmente me sentia pior, ir ao pré-natal, procurar outro emprego e claro, fugir da Lissa. Nunca pensei que seria nesse momento do dia que eu ia me ferrar também. A noite era, geralmente, quando o Jesse estava em casa, bebendo ou fumando maconha com os amigos. Não achei que ele fosse me procurar de novo depois de tantos meses. Achava que ele estava arrependido e com vergonha o suficiente pelo que tinha me feito para não me procurar mais e então tudo aconteceu... Foram os dois dias mais longos, dolorosos, tristes e solitários da minha vida.

E era por isso que eu tinha tanto medo do parto do bebê dos Belikov, porque o do meu Theo... Já tinha doído muito mais do que eu imaginava. Não apenas pelo fator emocional de saber que eu ia parir o meu bebê morto de apenas quinze semanas, mas porque um parto sempre vai ser um parto. Mesmo que de um prematuro. Depois de tudo o que eu sofri em todo aquele período... Com o meu bebê, o trabalho, procurar outro emprego, a pressão psicológica... Tudo o que eu não queria era passar por isso de novo e... Ser mãe tinha resumido todo esse período, então não, eu não queria um filho. De novo. Não queria ter que passar por aquilo tudo de novo. Passar pelo choque e a felicidade de receber uma oportunidade e a tristeza de ter isso arrancado de você.

Per te, mi amoreWhere stories live. Discover now