31 - LAURA 木

3 1 0
                                    

**********

Tudo ao meu redor parecia ter se transformado em um quadro branco comigo no meio dele, não havia nada além de um interminável branco para todos os lados, comecei a me perguntar se aquele era o lugar que as pessoas viam quando estavam próximas da morte, e isso me fez perceber uma coisa mais importante, quem eu era?

Laura? Uma voz conhecida me chamou, me virei quase que em um ímpeto de desespero em busca daquela voz, mas não havia ninguém lá.

– Quem é? Onde está?

Não conseguia formular uma pergunta adequada para aquela situação, parecia que meus pensamentos se misturavam com a realidade, e ainda assim, nada se tornasse real diante de mim, era tão confuso e ao mesmo tempo tão simples.

A voz voltou a falar comigo, tentei prestar mais atenção.

– Não me procure, nesse momento eu sou só uma parte de algo maior, algo que não existe aqui e ao mesmo tempo existe.

– Isso não faz sentido! Respondi, brava.

– Eu sei, a vida real também não faz!

Houve um silêncio, por alguma razão resolvi me sentar no chão, ou o que seria a ideia de chão naquele vazio interminável, as informações vinham e iam da minha mente como se eu soubesse de tudo e ao mesmo tempo não soubesse de nada, será que coisas assim realmente existiam ou era só uma confusão mental causada por alguma coisa, como uma pancada?

– Isso! É isso, eu não deveria estar aqui, eu deveria estar em outro lugar. A sensação de falar isso em voz alta era diferente por ali, era como se eu não estivesse mesmo falando em voz alta. O que seria alto o suficiente quando nada mais existe além de você?

– Isso é verdade, e o que você ainda está fazendo aqui, Laura?

Era difícil dizer se aquela voz estava sendo rude comigo pelo seu tom de voz, não havia como saber qualquer expressão em seu rosto, se é que havia um rosto, ou até saber de onde provinham os sons. Apesar disso, eu senti como se tivesse recebido uma resposta rude, e isso, ao invés de me fazer sentir incomodo me fez sentir como se estivesse a ponto de rir.

– Quem é você realmente?Falei novamente, esperando que recebesse uma resposta melhor.

– Você já sabe, sempre soube e sempre vai saber, eu não preciso te contar isso.

– Mas poderia me ajudar a sair daqui, então?

– Também não posso fazer isso, está fora do meu departamento.

– Você tem uma personalidade que, além de me ser bem familiar é completamente irritante, e isso poderia ser engraçado se estivéssemos em outra situação.

Uma parte de mim queria continuar conversando, outra parte, queria sair dali, e uma parcela bem ínfima do meu interior, um fragmento minúsculo da minha consciência queria ver a quem pertencia aquela voz.

Você, ao menos, poderia fazer alguma coisa? Meu corpo parecia se aquecer.

– Mas eu estou fazendo alguma coisa, pelo menos não aqui e não agora.

– Sinceramente, cansei disso.

Me levantei em um salto, era como se meu corpo não possuísse gravidade alguma, ou melhor, era como se tudo ao meu redor não fosse nada, e não havendo nada, parecia que eu era a única em tudo, estava começando a me sentir estranha.

A Ordem / Fragmentos da Eternidade, Livro 02Where stories live. Discover now