17 - LAURA 木

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Foi coincidência eu ter resolvido sair aquela noite exatamente quando montaram um pequeno parque de exposições em uma das praças da cidade, não era tão incomum fazerem aquilo, principalmente em feriados prolongados, mas não me lembrava de ter uma programação para aquela noite, parecia conveniente, mas nada que eu não pudesse aproveitar um pouco.

Eu havia marcado para me encontrar com Thiago as 19h, e mesmo que ele estivesse alguns minutos atrasados não via tanto problema nisso, resolvi procurar alguma coisa pra fazer enquanto aguardava.

Caminhei na direção do primeiro brinquedo que me atrairá, a roda gigante, não havia tantas pessoas por ali, então não tive problemas em pagar a entrada e já aproveitar um pouco, foi prazeroso sentir a brisa fria que emanava daquele lugar. Passei a observar todo o ambiente dali de cima, que a vias de dúvida, não era tão gingante assim, mas me permitia ver bem ao longe toda a movimentação daquela parte da cidade, me senti um tanto quanto nostálgica ali, fazia tempo que eu não me permitia simplesmente aproveitar o momento e me divertir, era algo que eu fazia muito na infância, mas, por vários motivos, eu fui perdendo essa essência, as pessoas costumam perder muito fácil esse brilho da infância, e o mundo tem perdido muito cedo essa alegria de ser como uma criança, talvez o problema esteja que queiramos ser grandes cedo demais, e só depois é que percebemos nosso erro.

Enquanto reparava no mundo girando ao meu redor percebi ao longe alguém mais jovem andando de um lado a outro, e algo me fez sentir como se alguma coisa não estivesse tão certa por ali, um desconforto esquisito, era estranho pensar que havia me incomodado com alguém aleatório no meio de uma multidão em uma noite qualquer. Foi então que o desconforto foi se tornando maior quando percebi que, quem quer que fosse, andava como se procurasse alguém, não poderia ser só a minha impressão, tratei de me concentrar onde ela estava e assim que o brinquedo atingiu o chão eu nem esperei parar de vez e já estava saltando pra fora.

– Cuidado moça, você pode se machucar. – O rapaz que cuidava do brinquedo me alertou, cambaleei um pouco depois que saí.

– Estou bem, obrigada.

Adiantei meu passo a procura da pessoa desconhecida, tentando me lembrar onde havia visto anteriormente, depois de alguns passos a encontrei olhando para os lados com os braços recolhidos entre o peito, respirei fundo e, mais calmamente, me aproximei dela, não queria causar nenhum tipo de susto.

– Boa noite, desculpa me intrometer, mas por um acaso você se perdeu dos seus pais ou amigos?

A pessoa era um pouco mais jovem, eu chutaria uns 15 a 16 anos, e olhando mais de perto, realmente parecia preocupada ou perdida.

– Não, bem, é só... só que... – Suas palavras pareciam se confundir com seus pensamentos, algo havia acontecido, minha preocupação deu alerta a outro sentimento, um sentimento familiar.

Suas roupas estavam amarrotadas e seu corpo tremia, isso me deixou ainda mais preocupada, apontei até um pequeno banco que havia ali, haviam menos pessoas ao redor, era um bom lugar para tentar se acalmar, uma multidão nunca era boa coisa.

– Vamos sentar um pouco e respirar, e aí eu vejo no que posso ajudar.

Não sei se eu estava passando a impressão de ser uma pessoa perigosa ou alguém que só queria ajudar, então tratei de manter uma distância mínima pra não causar nenhum mal entendido, me sentei no banco e esperei, observei melhor suas vestimentas que se resumiam em uma bermuda esverdeada e um casaco um pouco maior que seu corpo, seus cabelos estavam escondidos em uma touca preta e branca, o que me impediu de conferir seu comprimento. O desconforto que eu sentia ainda não havia passado, e comecei a pensar que poderia ter relação com algo mais, e mesmo desconfiando do que poderia ser, eu custava a tentar aceitar, era tão complicado assim não envolver esses poderes na minha vida pelo menos uma vez?

A Ordem / Fragmentos da Eternidade, Livro 02Where stories live. Discover now