06 - LAURA 木

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– Eu sei que não parece muita coisa, mas se quiser conversar ou algo similar pode me ligar ou algo parecido, está bem?

Ethan foi quem permaneceu ao meu lado durante todo o processo com Anna, bem como foi ele quem sugeriu que enterrássemos o corpo de Antunes próximo à sua casa, durante tudo isso eu me sentia culpada e incomodada com o que aconteceu, por isso fiz tanta questão de ajudar.

Mesmo durante aquilo, os outros Guardiões ainda me encaravam um pouco desconfiados, mas não Ethan, parecia que ele entendia mais do que os outros tudo que aconteceu, eu não os culpava realmente, mas era constrangedor permanecer ali daquela forma. Ao primeiro momento que Anna foi hospitalizada, Ethan fez questão de ir comigo entender o quadro da minha irmã, ela estava viva, respirando, mas não aparentava nenhuma probabilidade de acordar, a ferida havia danificado boa parte de sua coluna também, o que poderia significar que ela não conseguiria voltar a andar, eu tinha medo desse resultado.

– Você parece um pouco diferente dos outros, por que se importa tanto comigo? – Não era realmente uma crítica a presença dele, mas eu precisava entender um pouco do que se passava em seus pensamentos.

Eu havia atacado eles e ajudado a matar a única pessoa que poderia ajudá-los a seguir esse caminho tortuoso de Guardiões, e ainda assim, mesmo depois de tudo...

– Não é que eu seja diferente dos outros, cada um deles apenas está lidando com isso a sua maneira, mas eles também se importam com você.

– Sim, mas por quê?

Eu não queria me sentir ingrata ou algo similar, não queria mostrar força naquele momento, eu já havia chorado e me despedaçado em diversos fragmentos, e acho até que um desses havia sido deixado sobre os corpos de cada um dos outros Guardiões, acima de tudo eu me sentia culpada, as sensações em meu corpo de ser usada não me permitiam sequer esquecer de tudo aquilo, a dor de não ter sido mais forte. Ainda assim, eu não conseguia entender as motivações de alguém que mal me conhecia em se prestar a me ajudar.

– Sabe, acho que eu sou só alguém sem família... Não entendi suas palavras, mas antes que pudesse falar algo, ele continuou. – E talvez por ser alguém que se considera sem família, eu quero ter uma, é, pode se dizer que é uma fala ridícula, mas sabe, eu sinto que posso chamar todos vocês de amigos, de família, e é por isso que quero te ajudar, só por isso, talvez seja até egoísmo, mas não me importo com isso.

Seus olhos estavam tão vermelhos quanto os meus, nenhum dos outros presentes além de mim, dos meus pais e das pessoas que conheciam Anna, haviam chorado tanto quanto ele, e não era como se ele fizesse isso para demonstrar algo, ele realmente sentia no fundo do seu peito a dor pelas perdas e pelas feridas, eu conseguia sentir, conseguia sentir esse aperto dele em mim tanto quanto sentia meu próprio aperto no peito.

– Tudo bem, e obrigada.

Seguimos caminho para fora do hospital, deixaria minha irmã descansar um pouco mais e lutar por suas forças para se recuperar, meu coração ainda estava em pedaços, mas um desses pedacinhos havia ficado nos outros, mesmo tão diferentes, eles pareciam ter guardado esse pedacinho de mim com eles, e talvez eu pudesse, com o tempo, ir colhendo cada um desses pedaços e voltar a me reconstruir e reconstruir minha confiança também.

**********

Meus pensamentos foram interrompidos por um momento, olhei pro cara chato ao meu lado, Thiago não era bem a melhor representação de aluno modelo que poderia existir, além de chegar atrasado na aula ainda parecia prestar mais atenção em uma mosca voando pelos cantos do que no que lhe era dito, aquilo me tirava do sério, como alguém que aparentava ser tão desleixado conseguia passar nas disciplinas? Não que eu realmente buscasse entender, mas aquilo havia sempre me deixava intrigada, fosse com quem fosse.

A Ordem / Fragmentos da Eternidade, Livro 02Where stories live. Discover now