Não durou muito pra chegarmos no local marcado, Amanda já estava sentada na entrada do Tênis – um dos lugares que normalmente os jovens reservavam pra fazer qualquer tipo de festa – me perguntei se ela havia chegado mais cedo do que nós duas, mas a resposta veio antes de qualquer questionamento.

– Vamos entrar, acabei de chegar e já tô empolgada.

Olhei às horas, 19:27, já haviam outras pessoas pelo lugar e a música tocava um funk que meu corpo reconhecia muito bem, mas ainda não estava no pique de ir direto para o meio do povo dançar, Amanda vasculhava os arredores para já começar a se soltar enquanto Jessy já me trazia um copo de cerveja, me fazendo questionar como aquela alcoólatra conseguia as coisas tão rápido assim, dei um gole e devolvi o copo, acho que poderia tentar ir me libertando aos poucos.

O que no fim das contas, não demorou muito.

Depois do terceiro copo eu já me sentia completamente livre pra descer até o chão e mostrar ao mundo uma personalidade minha que só era vista ali na pista de dança. Dançar era um dos meus mais diversos prazeres da vida, sentir meu corpo se mexer no ritmo da música era revigorante, até mesmo sentir os olhares dos outros para mim era satisfatório, eu sabia que fazia bem, e sabia que seus olhares eram de admiração, não precisava que ninguém me dissesse o contrário, não era suficiente pra tirar minha autoestima que se mostrava maior a cada passo, a cada ida do céu ao chão, a cada troca de sons e ritmos, era tudo que eu precisava pra me sentir melhor, mesmo custando tanto a gostar de estar naquele lugar com aquelas pessoas, eu só queria a sensação de estar livre, e a dança me dava essa liberdade tão incandescente quanto meus poderes me davam a sensação de adrenalina.

– Ei, cadê sua amiga Jessy? – Amanda surgiu atrás de mim, já pegando em minha mão e entrando no clima de ritmo mexicano junto comigo. – Tem um cara querendo ficar com ela.

Dei um pequeno riso e virei meu rosto na direção de um canto mais ao fundo de onde estávamos, lá se encontrava uma Jessy já possuindo os lábios de alguém, do meu ponto de vista, ela quem comandava tudo, aquele ar de dominadora era parte do charme dela.

– Ela é mais rápida pra se atracar com alguém do que nós duas para entrarmos na pista.

Por um momento achei que estava tudo ótimo, aquela tristeza profunda ainda estava ali no fundo do meu peito, as sensações todas estavam lá, mas chegava à conclusão de que elas não eram grande coisa, poderia ser deixada de lado, eu poderia seguir em frente, mesmo que em outro momento ela teimasse em machucar um pouco, acho que, ao menos por um instante, eu poderia me reabastecer de bons sentimentos antes que os ruins tentassem me consumir.

– Por falar em pessoas rápidas, tem alguém te encarando a um bom tempo, e nem se dispôs a disfarçar!

– É o quê? – Falei um pouco mais alto do que esperava, mas nem tanto pra chamar atenção, Amanda nem se importou com o fato e apenas me puxou no meio da dança na direção de onde a garota que me encarava, segundo ela, estava.

– Aproveite a festa. – Ela falou no meu ouvindo antes de se distanciar um pouco.

– E como eu vou saber que não era pra você? – Sussurrei de volta antes que ela se afastasse completamente, pude ver de suas costas ela dando de ombros, ela me paga!

Independentemente do que pudesse estar passado pela minha cabeça eu prossegui em curtir a música, a outra garota pouco a pouco veio se aproximando até que estivéssemos dançando juntas, era engraçado e incomodo de uma certa maneira, mas não ruim, era como se, estar na pista me fizesse a pessoa mais disposta a cantadas, mas na realidade eu não via isso com bons olhos, e ainda assim, continuávamos ali, trocando apenas olhares e passos, em um momento que o ritmo mudou, eu decidi apenas descansar, ela me seguiu, sentando-se do meu lado em um banco qualquer que havia por ali.

– Você dança muito bem. – Sua voz era grave de um jeito suave, a voz de uma cantora, se é que poderia dizer assim.

– Você também, seus passos estavam ótimos lá.

– Só porque tinha uma ótima parceira, ninguém mais ali parecia animada como você, a propósito, sou Daniara, e você?

– Íris, e acho que nem todo mundo gosta de sentir a música, pelo menos é o que penso.

– Concordo, e você faz isso muito bem, se te desse um palco você daria um verdadeiro show.

Senti meus nervos ferverem, não sabia se devido a confusão do pouco álcool no sangue querendo mais ou por ter gostado da conversa, presumi que fosse o álcool e por um momento desejei que Jessy aparecesse com outro copo. Ficamos ali mais alguns minutos conversando besteiras, eu nunca fui o tipo de pessoa que teria uma interação tão boa com alguém que aparecesse do nada na minha frente e dançasse comigo, se bem que essa havia sido a primeira vez que alguém realmente tenha dançado comigo e que eu não conhecia antes, pra tudo tem uma primeira vez, e aquela estava sendo uma boa impressão.

Ainda assim, meu corpo parecia incomodado com mais alguma coisa, eu não sabia dizer realmente se estávamos chegando a algum lugar com só troca de palavras quaisquer, mas parecia que não, e não por ela, mas por mim, minha cabeça parecia querer dar algumas voltas para um lado que eu não queria relembrar, e isso me irritava, ao mesmo tempo que eu conseguia pensar que seguia, parecia que nada seguia junto.

– Eu volto já, acho que preciso de um pouco de água. – Sentia que eu precisava lavar a alma, ou só meu rosto, pra me ajudar a processar as informações que aconteciam.

– Tudo bem. – Ela não parecia preocupada com o fato de eu sair como se estivesse fugindo dela, o que, teoricamente, eu não estava mesmo fazendo, mas é sempre bom levar em consideração.

Cheguei no banheiro e fui direto pra pia, abri uma das torneiras e coloque minha cabeça pra sentir a água fria percorrer minha cabeça e descer até o pescoço, uma das vantagens de se ter o cabelo curto estava sendo posta à prova, eu não precisaria me preocupar em acabar com qualquer penteado, pois não tinha um penteado especifico pra molhar, eu só queria me sentir um pouco sóbria, dançar sem qualquer arrependimento era uma coisa, mas lidar com flertes era outra totalmente diferente, mas por um momento eu queria sentir que estava pronta pra isso, eu queria essa sensação.

Saí do banheiro ajeitando meu cabelo para trás na tentativa de deixar o excesso de água ir embora, foi então que uma voz conhecida e muito, muito inesperada me fez parar no susto logo a sua frente.

– Oi, Íris...

A Ordem / Fragmentos da Eternidade, Livro 02Where stories live. Discover now