– Eu duvido muito de suas capacidades, meu caro, controle sempre lhe faltara!

– Isso não é da sua conta, e alias, mesmo com minha falta de controle ainda sou muito mais poderoso que você, além do que, eu nunca estou sozinho.

– Então, você supõe que eu deveria arrastar comigo você e a sua estranha ami...

Não consegui terminar minha fala, uma de suas mãos já se encontravam a centímetros do meu pescoço, os quatro dedos abertos como se imitasse uma espada, olhei com fúria diretamente nos olhos de meu inquisidor, seu olhar emanava a mesma fúria.

– Já chega, Klaus! – Pude ouvir outra voz surgindo em meio as sombras, dessa vez realmente das sombras.

Ele se chama Rhian, e ele não é estranho, entendeu? – As mãos próximas ao meu pescoço se aproximavam ainda mais.

– Abaixe o braço, Klaus! – A voz já estava logo atrás de Klaus, continuei olhando em direção aos olhos acinzentados que me continham.

– Se ousar ser desrespeitoso de novo eu mando sua cabeça pra Titânia em uma bandeja!

– Gastaria seus poderes com um ato tão estupido? Você não merece estar aqui!

Já chega!

As sombras do lugar pareciam ter criado vida e desistido de se manterem a disposição da própria luz, vindo todas em nossa direção, se armando como vários tentáculos prontos para nos estrangular, aquela reação adversa, por outro lado, não teve nenhum efeito sobre Klaus, que apenas suspirou e retirou sua mão do meu pescoço, só então as sombras retornaram ao seu estado natural ao nosso redor.

– Espero que tenha entendido! – Não respondi.

Ambos então desapareceram da minha vista, eu trataria de lembrar daquela situação, para o bem ou para o mal. Prossegui meu caminho, sabia que independente da atitude que tomasse para com aqueles dois isso só me traria prejuízos naquele momento, ainda precisava recuperar boa parte de meus poderes gastos com o último conflito.

Percorri meu destino até encontrar uma grande construção arquitetônica, apesar de estarmos embaixo da terra, ela se mantinha iluminada por algumas aberturas que deixavam a luz do sol entrar, além do que, também detinha suas iluminações ao redor. A construção, por assim dizer, se assemelhava a uma pirâmide, embora fosse melhor dizer que ela tinha a forma de um templo maior da cultura Asteca, segui adiante e alguns servos parados ao redor apenas se curvaram brevemente antes de mandarem que as portas, que se encontravam no centro da escadaria, se abrissem.

Antes mesmo que eu adentrasse o lugar, todo o meu corpo sentiu aquela forte aura tenebrosa e assustadora vinda de dentro, não era algo direcionado a alguém, era tudo, o cheiro da morte parecia um perfume ambiente, quase não pude conter meu corpo que desejou por um momento tombar sobre meus joelhos, mantive meu orgulho e segui caminho. Antes que conseguisse prosseguir mais alguns passos dois braços se manifestaram no meu campo de visão como se viessem me abraçar, meus poderes se ergueram como uma parede de areia negra, impedindo qualquer contato.

– Sempre precavido, meu caro Matteo, meu filho... – Aquela voz feminina fez meu sangue correr muito mais do que em qualquer outro momento.

– Titânia! – Meu corpo pendeu para reverencia-la, era absolutamente impossível não sentir tamanha imponência vinda de sua simples presença, senti seu corpo passar ao meu lado enquanto mantinha minha cabeça baixa.

– Meu caro Matteo, conte-me o que aconteceu, por que você não conseguiu trazer os escolhidos?

Minha garganta arranhou como se estivesse participando da última inquisição da minha vida, não consegui dizer nada, não conseguia.

– Matteo... – Senti minha voz se perder em meio ao silêncio, aquela aura que emanava por todo ambiente parecia me analisar completamente, eu sentia o terror da morte em meu peito. – Não se preocupe, eu já entendi tudo...

– Minha cara, sobre isso.

– Não, Matteo, não se preocupe. – Sem tom de voz, embora sereno, me causava ainda mais arrepios. – Não se limite sobre as suas falhas, eu sempre estive lá com você, sua falha foi minha falha, mas não se preocupe, isso ainda não acabou.

Meus músculos enrijeceram como se temessem qualquer atitude vindo dela, mas ao contrário dos meus temores, assim que ergui minha cabeça em sua direção como se aceitasse a morte, pude ver ela erguer uma das mãos, ainda de costas para mim e brandir em autoritarismo.

Rhian, Klaus! – E como num passe de mágica os dois surgiram ao meu lado, igualmente ajoelhados e de cabeça ao chão. – Quero que acompanhem Matteo dessa vez e me tragam esses Guardiões, os quero vivos, entenderam?

– Sim, cara Titânia! – Suas palavras vieram quase que em uma sincronia perfeita, como se houvessem treinado pra aquilo.

– Não me desapontem novamente, meus filhos.

Engoli em seco, pude ver uma última vez seu longo vestido violeta se perder diante do grande corredor antes que minha visão se perdesse também do lugar, o temor pela vida ainda estava preso em minha garganta, era uma questão de honra, eu precisava trazê-los até ela, precisava sentir novamente meu reconhecimento, e se eu teria que acompanhar aqueles dois, assim seria.

– Vamos embora! – Me levantei e seguir caminho para fora dali, pude ouvir o riso baixo de Klaus entrecortado por seus lábios, não dei importância.

No fundo da minha garganta outra sensação parecia se remexer, ela havia dito que sempre esteve ao meu lado, era indiscutível, a sensação de controle presente em sua voz, eu não esqueceria aquilo, independente das minhas ordens, aquela sensação não iria me abandonar.

A Ordem / Fragmentos da Eternidade, Livro 02Donde viven las historias. Descúbrelo ahora