Chego em casa ainda intrigado. Como pode? Os mesmos olhos? Tento afastar esses pensamentos durante o banho.
Estou faminto e sem disposição para cozinhar qualquer coisa, talvez eu merecesse uma comida diferente, em um lugar mais calmo. Não há lugar calmo quando sua mente te persegue com dolorosas e alegres lembranças.
Tudo em minha cabeça é melancólico e confuso. Eu não posso explicar para alguém o que sinto, a confusão que é. A saudade corrói e a dor nos leva a insanidade.
A insanidade é tanta que por um segundo, na noite passada quase acreditei que Marie, de fato, pudesse voltar. A saudade nos leva a loucura. Todos os dias são como se eu estivesse à beira de um precipício, prestes a pular.
O que me traz um pouco de descanso são os breves momentos de devaneio, que hoje infelizmente me deixaram, talvez para me perseguirem durante o dia. Talvez a insanidade da saudade tenha me feito imaginar que aquela garota tivesse os mesmos olhos dela. Eu nunca tinha visto essa garota... Essa Zoey. É muita loucura para uma mente cansada em eterno sofrimento.
Os pensamentos que tentei manter afastados durante o banho, agora me atingia em cheio, enquanto decidia o que comer. Desisto de sair de casa e preparo um macarrão instantâneo, não é saudável, mas vai me manter saciável até a manhã seguinte.
Enquanto espero os três minutos do macarrão, ligo a televisão e mudo rapidamente de canal. A programação é um filme na qual não presto a mínima atenção, meus pensamentos haviam voltado para aqueles olhos, para aqueles cabelos escuros e aquela boca...
— É loucura! Você está ficando louco! Pirado! Maluco! — Grito comigo mesmo.
— Quem está maluco? — Não estava mais sozinho, Katy agora ocupava o mesmo cômodo que eu e me encarava confusa.
Me recupero. Ou tento.
— Como você entrou? — É tudo que consigo perguntar, enquanto passo ao seu lado voltando para a cozinha, os três minutos já haviam passado.
— Chave extra. — Responde Katy, como se fosse óbvio. — Marie deixou comigo há um tempo. — Katherine me pareceu longe ao falar na irmã.
— Ah sim. Quer jantar? Tenho outro copo desses em algum desses armários. — Ofereci com educação. Katy e eu erámos próximos quando Marie era viva. Depois que ela se foi eu não consegui manter tanta conexão com sua irmã, era doloroso.
— Chama isso de jantar, Keanu? — Ela riu. — Francamente! Vamos sair, sinto falta do meu amigo.
— Katy, você sabe que eu... — Katherine não me permite completar a frase.
— Olha Keanu, eu também amava Maria, ela era a minha irmã minha confidente! Eu ainda a amo... —Katy fez uma longa pausa, me encarando nos olhos, os seus estavam com brilhos de lágrimas querendo rolar. — Sofremos juntos a perda dela. Nós éramos amigos, além de cunhados e se passou muito tempo, muito tempo mesmo. — Ela suspirou. — Eu sinto falta do meu amigo inteligente também. Por favor.
O olhar castanho de Katy me olhavam com súplica. Sem mais resistir, eu cedo.
— Eu também sinto falta da sua amizade, Katherine. — Falo sincero e essa foi a abertura para Katy me abraçar.
Deixo o macarrão instantâneo na bancada e retribuo o abraço. Após nos afastarmos, pego novamente a chave do carro e um casaco e vamos jantar.
— Você sabe onde fica aquele restaurante novo? — Pergunta Katy, enquanto muda a estação de rádio.
— Sim, conheço. Fui lá noite passada.
— Com alguém?! — Ela não consegue esconder a inquietude e a empolgação em sua pergunta. Olhei de relance para Katy e em seus lábios formavam um leve sorriso. Balanço a cabeça achando graça do seu jeito.
— Com vários 'alguéns', meus colegas na St.Andrews. — Respondo. Sinto Katy voltar a respirar ao meu lado. — Marie ainda está em meu coração e talvez permaneça para sempre.
Volto meus olhos em Katy, ela parecia perdida em seu próprio mundo após ouvir minha resposta.
— Sabe, as vezes ainda sinto como se de alguma forma ela não tivesse partido. Sinto como se sentisse a alma dela por perto, em raros momentos. — Continuo a olhar, Katy continuava perdida enquanto falava comigo.
Volto minha atenção para a estrada e logo a frente avisto o restaurante recém inaugurado, manobro o carro e estaciono assim que chegamos no restaurante.
— Como agora... Sinto como se ela estivesse por perto.
Katherine suspira e olha para mim, lançando um sorriso desconcertante. Tento retribuir da melhor forma que posso. Eu entendo bem Katy, sinto isso também, eu sei que é porque ela está em meu coração o tempo todo e nunca vai sair, eu não permito.
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Além do Olhar © 2020
RomanceKeanu Davies é professor de uma renomada Universidade chamada Saint Andrews. Sua vida era de certa forma perfeita, tinha uma linda esposa chamada Marie. Ela possuía uma característica única e inconfundível, seus olhos, um castanho escuro tão intens...