Além do Olhar © 2020

♡ Capítulo 06: "Eu a vi."

A realidade de mais uma manhã é dura, juntando com o quanto pode ser aterrorizante a agenda do dia: Dar aulas, fazer compras, dar mais aulas e a noite tentar dormir.

Acordei atrasado essa manhã, não tive tempo nem de fazer uma pequena lista do que comprar no mercado para a minha casa, tão pouco tive tempo para um café, por isso estou na sala dos professores me servindo de um café fraco e doce que saia da fantástica máquina de café.

Estou alheio as conversas do pessoal, porém algo me chamou a atenção, Daryl falando para Mason que havia uma aluna transferida de Oxford. Eu não podia acreditar que uma jovem que entrara para Oxford pudesse desistir dela e vir para cá. A St. Andrews não era péssima, mas se você quer comparar Oxford à St.Andrews, você é idiota.

— O nome dela é Zoey. — Diz Daryl. Não sei por qual motivo ainda continuo atento a essa conversa, me sinto intrigado por conta de Oxford. — Está no terceiro ano.

— Olha só Davies, você receberá uma nova aluna! — Reviro os olhos com o comentário do Mason.

— Sempre tão presunçoso não é, Mason? — Questiono impaciente.

— Apenas curioso. Sabe, deve ser uma honra dar aula para alguém que esteve em Oxford. Um verdadeiro desafio, eu diria.

Não poderia concordar mais com ele, me mantive em silêncio.

Conforme outros assuntos foram surgindo, me concentrei em esquecer tudo. Fui para minha sala e daria aula normalmente.

Aos poucos a sala foi se enchendo de alunos, conversas e mais conversas. Coloco minha atenção para as minhas anotações, uma mão com unhas esmaltadas em um azul celeste atravessa meu campo de visão, me entregando uma folha de transferência, contendo algumas notas em ciências políticas. Sem tirar os olhos das minhas anotações e da mão que atrapalhava minha leitura, apenas pedi para que deixasse o papel em cima da minha mesa.

Após dizer isso que me toquei, era a tal garota de Oxford. Levanto a minha cabeça para olhá-la, mas ela já estava virada de costas para mim, indo em direção à sua mesa. Foi a última vez que a olhei naquele dia.

Durante o almoço, decido ir até o mercado. Eu odeio fazer compras, sempre fico perdido mesmo comprando no mesmo mercado á anos. A única que decorava em que prateleiras ficava cada coisa era a Marie. Como sinto falta dessa mulher, ignoro os meus sentimentos e caminho até um cara que provavelmente é o estoquista.

— Com licença, onde ficam os temperos?

— Ficam na quinta fileira. — O garoto me respondeu, enquanto ajeitava as coisas na prateleira.

— Obrigado. — Agradeço e saio com o carrinho de compras em direção a quinta fileira.

Enquanto passava meus olhos pelas prateleiras procurando por alho poro, e no vão entre uma prateleira e outra, eu a vi. Eu vi aqueles olhos.

A mesma anomalia de Marie, um olho azul e o outro castanho. Os mesmos olhos que não via há tempos. Eles estavam distraídos procurando por alguma coisa no alto, mas eu vi, eu vi com perfeição. Eu estou chocado.

E de repente, os mesmos olhos se encontram com os meus e param a me observar. Meu coração parou. Não consigo não encarar esse olhar, e então... Eles se foram.

Deixo o carrinho onde está e corro para a fileira onde eu tinha visto os olhos de Marie, mas quem quer que fosse já tinha ido.

— Devo estar maluco. — Falo sozinho, naquele corredor enorme.

Volto para buscar minhas compras e passo pelo caixa. Eu estou completamente desnorteado. Coloco tudo no carro e vou pra casa, antes de voltar ao último período de aula.

Eu me sinto estranho toda vez que entro em minha própria casa, eu queria me mudar há tempos daqui, mas não consigo. Gosto de olhar para o sofá que fizemos amor, gosto de olhar para a mesma cozinha em que a olhava fazer panquecas em todas as manhãs. Por mais que doía a saudade, eu gostava do nosso lar.

Descarrego tudo nos armários, tomo um copo de água, meu relógio mostrava que o horário de almoço estava no fim. Fecho tudo e volto para o inferno Saint Andrews.