XXXV - Olá, pai

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Eu não acreditei no que havia acabado de ouvir

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Eu não acreditei no que havia acabado de ouvir.

— Minha educação é seletiva, prefiro usá-la com quem não me persegue e atormenta meus sonhos — quando dei por mim já tinha falado. Maldita língua.

Ele se aproximou de mim e pude sentir cada músculo do meu corpo se retesar, seus olhos faiscaram ao ouvir aquilo, me encaravam como se pudessem enxergar além de mim. Com muito esforço sustentei meu olhar de indiferença. Embora, por dentro eu tremesse feito uma criança assustada.

Achei que Zeus fosse me petrificar, me fritar, me lançar pela janela, qualquer coisa que envolvesse me fazer sofrer, mas ele se limitou a bufar e balançar a cabeça, voltando a sua postura rígida de antes.

— Além de tudo, ainda é insolente — murmurou consigo mesmo.

— Como é que é? — cruzei meus braços, fechando minha cara. Quem ele estava pensando que era?

Zeus, Melissa, ele é Zeus, o deus dos deuses, o maioral. E você é uma desmiolada linguaruda, cale a boca. A parte racional do meu cérebro gritou em alerta.

Zeus me encarou com certo interesse, como se estivesse curioso para ver o que eu faria em seguida, mas eu não fiz nada. Apenas engoli em seco e fiquei ali parada esperando para ser carbonizada.

Um trovão rimbombou o céu, fazendo toda a sala sacudir.

Subitamente, um medo tomou conta de mim, um medo sem explicação. Eu só conseguia sentir muito medo, a ponto de doer a garganta, senti meu peito se comprimindo ferozmente. Me senti sem ar, poderia ser impressão minha, mas me parecia que tudo a minha volta girava.

Zeus abriu um sorriso convencido e a sensação se esvaiu de mim, ele havia causado isso.

— Eu ainda sou o deus aqui, mocinha, esse cargo ainda é meu — ele me olhava de cima, seu ar exalava asco — Você não passa de um erro que deveria há muito ter sido resolvido, não se sinta mais do que realmente é, Melissa Kanaderes.

Coloquei minha mão sobre o peito, meu coração batia em um ritmo acelerado, meu peito ardia de um jeito descomunal. Me endireitei e fitei Zeus.

— Você é tão soberbo quanto é ridículo — vociferei.

A julgar pela sua expressão de ódio, eu tive a plena convicção de que iria morrer por causa da minha incrível mania de não segurar a língua.

Zeus se aproximou de mim exalando raiva pelas narinas, parou a menos de um metro de distância e continuou em silêncio, mas seus olhos ardiam em ódio puro.

Mais trovões irromperam o céu.

— Como você ousa...

— Deixe a garota em paz, irmão — outra voz surgiu de algum lugar além de suas costas.

Zeus não se deu o trabalho de virar, mas espiei um pouco e pude ver um homem se aproximando, era o cara pescador dos meus sonhos.

Ele vestia uma roupa praiana, com camisa e bermuda larga. Suas feições me pareciam familiares, seus cabelos pretos e olhos verdes contrastavam com sua pele bronzeada e algumas poucas rugas em sua expressão. Ele me lembrava o meu irmão.

(Sobre)vivendo ao novo │✔│Where stories live. Discover now