XXVIII - Conversa alheia

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Acordei no dia seguinte como se tivesse dormido em cima de uma pedra

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Acordei no dia seguinte como se tivesse dormido em cima de uma pedra.

Meu corpo estava dolorido e letárgico, minha cabeça custava a reiniciar. Não conseguia abrir direito os olhos por causa do excesso de luz que adentrava pela janela do quarto.

Me arrastei até o banheiro, tirei o vestido e coloquei minha jardineira velha que havia ficado jogada sobre o balcão em algum momento do dia anterior. Meu cabelo estava incrivelmente rebelde, um emaranhado castanho revoltoso e com vida própria. Acho que é o resultado de dormir com ele entupido de fumaça de nuvem artificial, optei por fazer uma trança, a opção de lavá-lo não me parecia atrativa naquele momento.

Determinei a mim mesma que não falaria nada, iria fingir que estava tudo normal. Não iria criar caso por causa de uma coisa que poderia muito bem ser fruto da minha imaginação.

Luke era meu amigo, só isso.

Eu iria ficar de bico calado.

Desci as escadas cantarolando, cumprimentei Matthew e ele me avisou que meus pais haviam saído para uma reunião importante, voltariam só no final da manhã.

Enquanto avançava pelo corredor fui pensando em coisas para fazer durante o dia, iria assistir algum filme, poderia treinar piano ou talvez dar uma passada na biblioteca. Não se engane, ler ainda é uma tarefa árdua e dolorosa para mim, mas digamos que meu relacionamento com as palavras evoluiu com o tempo e a solidão, hoje em dia eu até me arrisco a folhear algum livro de vez em quando.

Uma conversa abafada chamou minha atenção, estaquei no meio do corredor a poucos metros da entrada da cozinha, estava pronta para virar meus calcanhares e sair, não queria bancar a intrometida, mas a voz parecia ser de Delilah e ela estava... chorando?

— ...conseguir — ela dizia entre lágrimas — Você tem que encontrar uma maneira! Isso não é justo, não é certo!

— Eu vou — a outra voz era de... Luke?! — Eu darei um jeito. Acredite em mim, estou buscando uma forma de resolver isso, Delilah.

Eu juro por tudo o que você quiser que queria dar no pé dali, mas, minha curiosidade foi maior. Ele daria um jeito no que? E porque ela estava aos prantos?

Me apoiei no aparador que havia ao meu lado, meu corpo não movia um músculo, atento as palavras que ressoavam da porta entreaberta.

— Pelos deuses! — pude ouvir um talher caindo — Por que tem que ser assim? Por que? Por que? Tem que haver outra forma, você não me engana, garoto — sua voz emanava tristeza — Sei muito bem do que é capaz de fazer por ela, ah se sei.

— Eu já tomei a decisão — alguns passos hesitantes — Se não encontrar outra forma, vai ser assim e pronto. Eu não me importo.

— Isso não é justo! Pelo menos seja sincero, então!

(Sobre)vivendo ao novo │✔│Where stories live. Discover now