LLC

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Camila POV 
 
 Nas primeiras horas da manhã, finalmente apareceu uma médica com os resultados dos exames, ou quase isso.

— Eu me chamo Normani. - Se apresentou com um sorriso. 

 Estamos na sala dela, porque a mesma pediu para falar comigo a sós, o que já me deixou tensa.

— Prazer, dra. Normani. - Sorri. — Eu sou Camila.

— Eu sei. - Disse com graça mexendo no computador a sua frente. — Vamos ter que refazer os exames da sua mãe, para ter certeza que o primeiro resultado saiu certo, nós do setor de Oncologia gostamos de ter…

— Espera. - Interrompi e ela me olhou. — Oncologia é sua especialidade? Minha mãe está com câncer então?

— Calma, no momento estou acompanhando ela como clínica geral, porque não foi confirmado nada, mas estamos suspeitando de um câncer do sistema hematopoiético.

 Senti minhas pernas fraquejarem e agradeci por já estar sentada, foi automático, ela falou e meus olhos se encheram de lágrimas. 

— Leucemia então? Essa doença não tem cura. - Constatei olhando para o vazio.

— Não é bem assim. - Se levantou indo até o extremo da sala, soube que ela foi pegar água pelo barulho. — Eu não queria falar sobre isso agora porque nada foi confirmado, mas a suspeita é que seja LLC...

— LLC? - Perguntei olhando pra ela, ela sorriu um pouco, provavelmente pela minha pressa, interrompendo sua fala.

— Leucemia Linfocítica Crônica, digamos que é um tipo mais leve da Leucemia Aguda, embora não tenha cura, ela costuma progredir lentamente. - Deixou o copo com água nas minhas mãos. — As pessoas diagnosticadas com LLC conseguem manter uma boa qualidade de vida por anos ou mesmo décadas, mas como eu te falei, para comprovar, precisamos de testes complementares e se for o caso, uma punção de medula óssea.  

 Bebi a água toda de uma vez, sentindo minhas mãos trêmulas. 

— Isso é uma notícia boa ou ruim?

 Ela riu e se sentou novamente em sua cadeira.

— De acordo com as possibilidades, eu considero uma notícia razoável, poderia sim ser algo pior, mas também poderia não ser nada, aí sim seria bom.

 Tive que forçar minha mente a trabalhar para conseguir entender o que ela quis dizer, mas mesmo assim não sei se deu muito certo. Mas aparentemente não é uma notícia tão ruim, quer dizer, é ruim, mas não é, sei lá, estou mais perdida do que cachorro em dia de mudança. 

 O som de notificação do meu celular me fez desviar atenção pra ele.

Maninho: Babaca, consegui dispensa aqui na oficina, estou indo aí pra ficar com a mãe e você ir pra aula.

 Respondi rapidamente e voltei minha atenção para a Dra. Normani. 

— Tudo bem? - Perguntou, já que deixei ela sem resposta. 

— Sim. - Me levantei e passei a mão no rosto, para secá-lo. — Obrigada, eu preciso assinar mais alguma coisa?

— Não, era só essa autorização aqui mesmo. - Olhou a folha sobre a mesa. — Você quer acompanhar o procedimento?

— Gostaria, mas tenho prova hoje, meu irmão vem ficar aqui.

— Certo, então boa sorte.

— Sorte? Eu preciso de um anjo para me passar as respostas, não estudei nada.

 Ela riu e negou com a cabeça. Sai da sala dela me perguntando se o pré requisito pra trabalhar aqui é ser bonita, já me apaixonei umas 10 vezes. Sorri com meus próprios pensamentos e fui para o quarto, me despedir da minha mãe, ela ainda estava dormindo, então apenas deixei um beijo em sua testa e saí dali. Do lado de fora o sol já está bem fraco, deve ser umas 6h da manhã, minha moto está com o Rogers, porque o carro dele quebrou, sinceramente não sei o que está mais fodido, a minha moto ou o carro dele. Digitei uma rápida mensagem para Dinah, pedindo para ela passar aqui, e espero que ela veja antes de sair pra aula. Assim que Rogers chegou fui até ele, e contei o que Normani me falou da melhor maneira possível, porque sinceramente ainda não entendi muito bem o que ela quis dizer, ele ficou como eu, perdido.

Lauren POV

 Me sentei com a Mani em um dos bancos externos do hospital, temos alguns minutos de descanso antes de ir visitar os leitos, então resolvemos respirar um ar fresco. Ao longe vi a menina de ontem, Camila, fiquei olhando naquela direção enquanto minha amiga contava a situação da mãe dela, já que possivelmente será um caso clínico para nós duas.

— Como ela reagiu? - Dei um gole no meu copo de café. 

— Bem, ela ficou um pouco nervosa e chorou um pouco, mas se acalmou rápido, ela parece ser uma garota de cabeça boa.

— Ou você deu falsas esperanças pra ela. - Falei olhando minha amiga pelo canto dos olhos.

— Laur! Isso seria antiético, eu apenas disse a verdade e as possibilidades, isso não é dar falsas esperanças, é focar no lado bom.

— Tá bom. - Bebi mais do meu café. 

 Ela estava conversando com um rapaz, bem mais alto que ela, loiro, e forte, achei ser namorado, mas pela forma que se cumprimentaram deve ser família. 

— A Megan já está de olho nela. - Falei e Normani quase derrubou o café no pulo que deu.

— Que? Ela é uma criança!

— Pois é. - Dei de ombros. — Mas você sabe como a Megan é.

— Passada. - Olhou pra Camila. — Mas ela é bem bonita, não é?

— Quem? - Olhei pra minha amiga na mesma hora.

— Camila.

— Argh! Até você, Mani? - Terminei meu café em uma única golada. — Esse hospital tá mais para hospício, ninguém tem limites mais.

 Ela soltou uma risada alta.

— Você diz isso porque não gosta de mulher, porque se gostasse ia sentir um calor te subindo só com o olhar dela. ‐ Gesticulou com as mãos, representando a subida do tal calor. — Acho que ela é latina, única explicação para esse duo facial entre cara de inocente ao mesmo tempo que tem cara de quem não vale nada.

 Fiz uma careta.

— Ela é latina, veio do Brasil. - Me levantei. — Agora vamos entrar antes que você molhe o banco.

 Ela deu um tapa no meu braço e se levantou. Antes de entrarmos, notamos um carro conversível chegar com o som na altura máxima, tocando uma música em outra língua, parece espanhol, mas não é, porque eu mal entendo o que está sendo dito.

"E por você eu largo tudo
Vou mendigar, roubar, matar
Até nas coisas mais banais
Pra mim é tudo ou nunca mais

Exagerado
Jogado aos teus pés
Eu sou mesmo exagerado
Adoro um amor inventado"

 Camila saiu de onde estava e foi até o carro, com um sorriso largo no rosto, e em uma dança lenta, chegando perto da porta, ela não entrou da forma tradicional, ela pulou para dentro do carro, aumentou ainda mais a música e deu um selinho na loira que veio dirigindo. 

— De fato, que Exagero. - Neguei com a cabeça e segui para dentro do hospital com Normani. 

•••••

Notas:


1 boa noite


2 cap ponte, por uso tão curtinho, mas posto outro ainda hoje ✍🏻

Desculpa o ExageroWhere stories live. Discover now