XIII - (re)começo

Start from the beginning
                                    

Mas, aparentemente as pessoas decidiram ser uma ótima hora para me torrar a paciência.

Até Lisa Clarke veio me encher o saco. Falando de como eu parecia destruída, com a aparência horrível e que precisava de um glow up caso quisesse chamar a atenção de algum garoto. Chegou a se oferecer para mandar uma de suas irmãs até o chalé de Poseidon para cortar meu cabelo e coisas assim. Mas eu conhecia Lisa, provavelmente ela iria me deixar careca e passar cola tudo no meu rosto. Ela não era confiável, não comigo.

Cheguei até a enfermaria e Hayley estava sozinha em sua mesinha, anotando alguma coisa em uma prancheta de plástico.

— Hey — ela sorriu ao me ver — O que te traz aqui hoje? — seus olhos se arregalaram subitamente — Por favor, não me diga que socou a cara de alguém, Melissa.

— Ainda não — dei um sorriso amarelo enquanto sentava em uma das camas disponíveis — Estou me esforçando ativamente para que continue assim.

— Lembre-se do que eu disse: violência gera mais violência. Por que você não experimenta meditar? É ótimo para organizar os pensamentos e pode te ajudar a controlar seu gênio forte.

— Não sou geniosa.

— Certo, e eu sou uma plantinha de jardim — ela riu enquanto tirava seu estetoscópio do pescoço e me examinava — O que é que você tem, hein?

Ergui meu pulso esquerdo em sua direção. Hayley fez uma careta e foi até um armário de madeira para pegar alguns itens de curativo.

Com cautela ela viu que eu não havia quebrado, apenas uma torção, então só enfaixou e me recomendou tomar muito cuidado. Eu só a observava enquanto ela ia de um lado para o outro, pegando alguma coisa para passar, mexendo em minha mão ou anotando em sua prancheta. Hayley parecia tão certa do que fazer, parecia ser tão fácil para ela ser assim.

— Prontinho — ela deu um sorriso, admirando seu trabalho — Para sua sorte não foi o pulso direito.

— Ah — dei de ombros — Sou canhota.

— Então esquece  o que eu disse — ela se sentou ao meu lado na cama — Vai precisar refazer o curativo e passar essa pasta de ervas e mirtilos selvagens que te indiquei, ouviu? E nada de forçar esse pulso, tome cuidado.

— Sim senhora.

Ficamos ali em silêncio por um tempo. Minha cabeça parecia um turbilhão, eu ficava repassando o dia em que encontrara Luke, me perguntava até que ponto era real. Será que não havia sido um sonho? Um sonho louco e horrível.

Mas, eu sabia que não, ele estava vivo de fato. Ele era um traidor e servia a Cronos como um cachorrinho serve ao dono.

Eu me sentia horrível por ter sido uma tremenda trouxa, por ter sofrido tanto nos últimos dois anos. Por ter chorado tantas vezes, por tê-lo defendido cegamente. Tinha raiva por ele ter traído minha confiança, por ter desaparecido e sequer ter tido a decência de se despedir, sequer me falar que estava vivo. Aquilo ardia em mim como fogo, minha vontade era de esfolar Luke, afundar a cara dele em socos.

Ainda assim, uma pequena parte de mim estava feliz. Feliz com o fato de que ele estava bem, estava vivo. Feliz com o fato de que meu melhor amigo ainda existia, ainda respirava e que, se eu precisasse, iria me ajudar. Ele sempre foi a pessoa que mais me compreendeu no mundo inteiro, me conhecia melhor do que eu mesma. Isso fazia com que eu sentisse que, mesmo que tudo desabasse e eu ficasse sem chão, Luke estaria no fim me esperando para me segurar e me proteger, para me apoiar.

Essa indecisão quanto ao que sentia em relação a Luke minava minhas forças.

Me despedi de Hayley, peguei a pasta que ela havia me recomendado e estava caminhando até meu chalé, quando Nick veio correndo ao meu encontro.

(Sobre)vivendo ao novo │✔│Where stories live. Discover now