VI - Um presente de família

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— Você pode ser filha de um deus menor — Nick dissera enquanto terminava seu brownie.

Eu concluí que provavelmente seria isso mesmo, era a única explicação plausível.

Me lembrar disso só parecia piorar a situação. Grover havia me contado que Percy conseguia controlar a água, ela respondia as suas emoções. Enchi um copo na pia do banheiro e tentei alguma mísera manobra, mas o máximo que consegui foi esbarrar nele e fazer uma bela lambança no chão do chalé.

Mais um item que não batia no meu Checklist para ser uma filha de Poseidon.

Eu também havia escutado uma conversa (por favor, não pense que sou do tipo fuxiqueira, lhe garanto que em meu lugar você também começaria a prestar atenção caso escutasse seu nome entre os cochichos) de que Poseidon carregava uma maldição, algo relacionado a ele não poder ter filhas semideusas.

Menos um item na lista, a não ser que eu fosse um garoto e meus pais omitiram isso de mim também.

E se fosse um engano? Talvez isso não passasse de um equívoco, essa teoria me parecia muito mais sensata. Afinal, com o tanto de campista que havia no acampamento, uma hora os deuses se confundiriam quanto a quem era filho de quem.

Precisava falar com Quíron, era bem provável que eu não fosse filha de Poseidon, ele havia se enganado e me reclamado sem querer.

Isso! Eu ainda era indeterminada, voltaria ao chalé 11, cheio de gente e confusão por lugar na mesa! E logo o meu verdadeiro pai se revelaria, alguém que faria sentido.

Me levantei empolgada para ir até a Casa grande, queria resolver esse assunto logo. Mas, antes que eu sequer saísse do lugar a porta de madeira emitiu rangidos e abriu-se de forma abrupta.

Um cara alto, de porte atlético, cabelos pretos e íris esverdeadas como o mar mediterrâneo passou pelo batente, seu olhar se cravou em mim.

Automaticamente, dei um passo para trás. O encarei de volta, longos e desconfortáveis segundos se passaram, até eu engolir em seco e desviar momentaneamente o olhar para o chão.

— Olá — eu disse sorridente, minhas mãos suavam — Sou a Melissa Kanaderes.

— Eu sei — ele adentrou o chalé e parou em frente ao primeiro beliche, tirando a mochila das costas — Sou Percy Jackson.

Então era ele.

— Acho que você não deve estar entendendo muito bem o porquê de eu estar aqui — tentei me explicar em um tom alegre, como se isso fosse quebrar a barreira gigantesca que havia ali — Hoje teve um jogo, na verdade uma luta. E eu estav...

— Já me contaram — ele respondeu sem nem me olhar, parecia mais interessado em tirar as roupas de sua mochila.

Certo, talvez ele estivesse cansado e não quisesse conversar.

— Ah, q-que bom! — lhe lancei um sorriso receoso — E-eu preciso ir até a... ahn... até a Casa grande, já volto — eu disse de um jeito meio atropelado enquanto saía do chalé de forma acelerada.

Assim que fechei a porta atrás de mim, me xinguei mentalmente. Droga, havia agido como uma tapada com Percy. Me sentia uma criança assustada, eu mal tinha conseguido falar com o cara sem gaguejar e me atrapalhar toda.

Não que ele tenha sido o mais receptivo, na verdade, acho que não estava muito interessado em conversar comigo.

Respirei fundo para esquecer aquilo, eu realmente precisava falar com Quíron.

Comecei a esfregar minhas têmporas enquanto atravessa a campina até a Casa Grande, em uma tentativa de clarear todos os meus pensamentos e organizar os argumentos que apresentaria para comprovar a minha tese de que Poseidon havia reclamado a garota errada.

(Sobre)vivendo ao novo │✔│Where stories live. Discover now