- Estou a rastrear o Desmond.. -Senti um enorme aperto no coração ao ouvir aquelas palavras. Ele queria ir ter com Desmond? Para que? Um medo brotou em mim, o medo de perder a única pessoa que alguma vez me fez bem começou a ser mais notório e não era algo agradável de se sentir.

- Porque? -Acabei por perguntar após refletir durante alguns segundos. Era suicidio ir atrás dele! Era.. Deixar-me..

- Quero matá-lo. Quero que fiques comigo descansada mas pra isso preciso que o Desmond desapareça. -Suspirei suavemente acenando na negativa. Ele estava a fazê-lo por minha causa. Jeff iria caminhar para a sua morte por minha causa, ele quer a minha felicidade, mas não sabe aquilo que o espera atrás das portas do inferno.

- Se o matares não és melhor que ele! -Finalizei tentando dar um fim àquela discussão, não queria que ele inventasse coisas de vingança nem nada assim parecido. Eu não queria um namorado vingativo aliás, a sua humildade foi algo que me fez apaixonar por ele e se ele perder isso.. Tenho medo do que quer que ele se possa tornar.

- É por ti que faço isto, por favor entende.. -Ele disse logo que virou o meu olhar para se encontrar com o dele novamente. Ele estava a falar a sério. Vi no seu olhar que ele iria até ao fim daquele plano estúpido. Ele estava determinado a acabar com a raça de Desmond.

- Eu entendo mas não apoio. Nem por sombras que eu vou apoiar essa decisão estúpida de ires atrás dele! Ele mata-te! -Insisti novamente. Só queria que ele esquecesse esta ideia macabra de ir atrás de Desmond.

- Ele nem vai dar pela minha presença, eu tenho o plano perfeito! -Quando olhei nos olhos dele percebi que esta discussão não iria ter fim porque ele nunca me vai convencer de que sabe o que faz ou de que o sanguinário não sabe como dar luta. Ele é doido!

- E se ele estiver aqui, agora? A planear levar-me? Matar-te? -Rapidamente o meu estômago se enrolou pela possibilidade de ele me voltar a levar, de me voltar a abusar. Eu apenas estendi as mãos para as suas bochechas para tocá-lo. Para ter a certeza de que ele não era um sonho, ele estava a sacrificar-se para me deixar mais confortável. Que tipo de homem faz isto?

- Eu mato-o antes. -Estremeci suavemente com estas palavras. Ele parecia mais violento, mais sombrio do que quando eu o conheci. Será que estava prestes a presenciar uma revelação de personalidade? Espero bem que não, a última que tive não foi muito boa.

- Não fales assim.. Não gosto de te ver dessa forma tão.. Violenta.. -As minhas palavras sairam por puro reflexo e eu contive as mãos no meu corpo tal como restringi o meu olhar ao meu colo. Tive medo. Tive medo do que quer que pudesse sair daquelas decisões violentas que o meu namorado estava a tomar.

- É por ti bebé.. Eu quero que descanses, que te entregues a mim! -Me entregue a ele? Lembro que a primeira vez que Desmond abusou de mim ele disse que estava feliz que eu me havia entregado a ele de maneira tão limpa e fácil. Jefferson queria sexo?

- Sexo? Queres sexo? Matar o Desmond não te vai dar uma queca! -Disse sem sequer pensar duas vezes. Bolas Melody o que estás a fazer? Os olhos dele inundaram-se de dor, de mágoa. Magoei-o com o que disse e com a maneira que o havia dito. Merda.

- Não..! Não é isso que eu quis dizer! Não penses assim de mim, por favor. -Apenas suspirei. Rendi-me. Eu sabia que Jeff era do tipo persistente e que ele não iria desistir de nada. Se ele tinha uma ideia, ele seguia-a até ao fim. Mas nunca que eu iria deixá-lo ir sem insistir na sua desistência do assunto. Nem que eu apelasse para o ''Se me amas..'' e não pensem que não o faço. Eu sei, pareço uma péssima pessoa mas.. Eu só o quero vivo..

- Eu odeio a maneira que te estás a obcecar por ele.. -Acabei por dizer sentindo a voz mais trêmula e um nó na garganta a mostrar-se mais notório. Doía.

- É por ti princesa.. -Uma ligeira raiva apoderou-se de mim e rapidamente acenei na negativa encarando-o já um pouco stressada.

- Não! Para de dizer que é por mim! Eu não quero que o persigas, eu quero que fiques comigo e se ele aparecer podes acabar com ele de uma vez por todas.. Mas não corras atrás do perigo amor, não te quero perder.. -Umas pequenas lágrimas escorreram. Não as pude parar. O pensamento de o perder já me dói, mas a possibilidade de isso realmente acontecer doía ainda mais,.

- Não me vais perder, juro-te. -Fechei os olhos deixando assim todas as lágrimas sairem e rapidamente as limpei. Não queria mais chorar. Eu tentei, estou cansada de tentar por hoje. De manhã eu volto a este assunto mas agora, sentia-me exausta.

- Está bem, eu vou beber um copo de água sim? Espero honestamente que desistas dessa ideia de rastrear o demónio, o inferno não é lugar que se procure.. -Ele nada mais disse. Limitou-se a calar-se e a largar-me. Eu levantei-me e saí do quarto deixando as lágrimas inundarem a minha face.

Ele parecia tão diferente do que quando ele me salvou. Ele já não cuida tanto de mim, ele já não me dá tanta atenção. Ele parece tão obcecado com encontrar o Desmond que está a tornar-se um autêntico lunático. Tenho medo que isto dure muito tempo e mude a personalidade de Jeff. Tenho medo de ver o que o homicídio poderá fazer com o psicológico do meu namorado. Bolas. Tenho medo de tudo que estrague a possibilidade do meu futuro igualar-se ao meu presente. Quero ser feliz. Mereço ser feliz.

Assim que entrei na cozinha pude reparar numa caixa, uma encomenda, situada em cima e no centro da banca. Caminhei lentamente até ela e pude reparar num pequeno papel em cima. Era um bilhete. Uma brisa. A porta de casa estava aberta por isso apressei-me a ir fechá-la. Alguém entrou dentro de casa? Será que..? Voltei a caminhar apressadamente para a encomenda e abri-a, deixando o papel de lado. Estavam diversas fotos dentro do grosso envelope. Fotos minhas. Minhas e do Jefferson. Juntos no quarto, no parque, na cozinha, na sala. Observados?

Lancei as fotos para cima da bancada e novamente me recordei do papel. Um bilhete. Lentamente abri o envelope e pude reparar em outra fotografia. Parecia ter sido tirada há segundos pois era minha e do Jefferson, no quarto, a conversarmos. Eu estava no colo dele. Parecia um flashback do que acabara de acontecer. Virei a foto e o que li fez nascer em mim um desespero ainda maior do que o que já havia crescido com todas estas fotografias.

''Sei que estão à minha procura, podem parar de procurar, eu estou mesmo aqui."

«Tortura»Where stories live. Discover now