134. PERSEVERANÇA

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– Obrigada, mãe. Estou cada vez mais entusiasmada com o Trono, acredite.

***

ASSIM COMO tinha saído, Sarah voltou para a casa de Bel de helicóptero.

Com as atenções voltadas para a partida da Perseverança, o cerco dos repórteres tinha diminuído, mas não desaparecido. Mais de duas centenas deles continuavam rondando o condomínio. A maior parte tinha sido detida do lado de fora, mas alguns conseguiram entrar. Esses foram convidados a se retirar pelo pessoal que Carl havia colocado perto da casa de Bel. Maria Clara e Trovão saíram apenas uma vez, também de helicóptero, para uma consulta com o obstetra de Clara. O bebê estava ótimo e se desenvolvendo muito bem. Bel e Rafa não saíram, e o pai dela havia sido obrigado a suspender as visitas ao cemitério desde que a Revista Científica saíra.

– Tivemos esperança que isso o faria melhorar – disse Rafa a Sarah. – Era deprimente demais ver o jeito que ele ficava sentando, encarando aquela lápide. Mas nada melhorou. Ele não saiu mais do quarto, não está comendo quase nada. Quatro dias atrás, Bel conseguiu convencê-lo a se deixar examinar por um médico. O médico veio, examinou-o, pediu exames e mandou chamar um psiquiatra. Vieram coletar os exames, que estão todos normais, e o psiquiatra conversou com ele no dia seguinte. Faz três dias, então. Disse que o prazo de um luto normal é de seis meses e mal tinham se passado vinte, mas ele estava... Não lembro a palavra. Queria dizer que ele estava afundado demais na tristeza. Receitou antidepressivos e Bel sempre confere se ele está tomando direito, e está, mas não estamos vendo mudança alguma. O psiquiatra vem hoje, de novo.

– Ele perdeu peso de uma maneira impressionante – juntou Trovão. – Assusta, Sarah. De verdade. Ele está a metade do que era.

– E, por causa disso, Bel não quer ir para o controle da missão lunar. Quer ficar aqui, com ele.

– Posso entender muito bem a posição dela. – Sarah conferiu o corredor novamente. Bel continuava no quarto, com o pai.

– Nós também entendemos, mas aquela nave está partindo graças a ela, Sarah. Ela merece isso, e toda aquela gente, lá, merece ver a pessoa que permitiu que tudo isso acontecesse. Além do mais, ela precisa pensar em outra coisa, descansar a cabeça um pouco. A missão lunar é o ideal. Nos ajude a convencê-la a ir, Bel vai ouvir você. Vai fazer bem a ela. Eu fico com ele. Gosto muito do meu sogro, sempre nos entendemos muito bem, não vai ser problema algum. E prometo que não me afasto dele um instante.

– Rafa está certo, Sarah – apoiou Clara. – Vai fazer bem a Bel. E Rafa sempre foi considerado da família, você sabe.

– Você também faz parte do grupo que permitiu que tudo isso acontecesse, Rafa.

Ele sorriu de leve.

– Mas foi ela quem começou. Ela merece. Tanto o reconhecimento quanto a folga. O clima está muito pesado, aqui.

– Certo... mas quero falar com Bel antes, ver como ela realmente está.

Anabel até esboçou um sorriso ao ver Sarah de volta. Parecia muito cansada, os cabelos negros estavam presos num rabo de cavalo (coisa que raramente se via) e até a roupa estava desleixada. Sarah acabou se convencendo: Bel precisava mesmo de uma folga, outros ares e outras coisas em que se concentrar. Mas, mesmo trabalhando todos juntos, não foi fácil convencer Bel a deixar seu pai com Rafa para ir com o restante do grupo para a Capital Terrestre – e essa era a parte que mais afligia Bel, porque a Capital ficava do outro lado da Terra.

– Se Carl se comprometer a ter um voo particular especial à sua disposição, para trazer você de volta na hora em que quiser ou achar que precisa, você vai? – perguntou Sarah.

Olho do FeiticeiroWhere stories live. Discover now