28.1. a liberdade do meu verdadeiro eu.

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Eu olhei na direção do corredor a tempo de vê-lo caminhando na direção do banheiro, completamente alheio a minha presença. Ethan desabotoava uma camisa azul marinho e fitava o chão com o olhar perdido em pensamentos, e meu rosto se aqueceu com o vislumbre de seu peitoral e abdômen aparecendo na fresta da camisa. Aquele punhado de pelos negros e as linhas escondidas de sua tatuagem que eu ainda não havia tido a chance de conhecer, as linhas duras e firmes dos músculos que eu sentia pressionados contra mim com cada vez mais frequência.

Desviei o olhar como se o diabo estivesse atrás dele, assustada e meio impressionada com o quão rápido e fácil ele conseguia arrancar essas coisas de mim. Eu não era incapaz de me conectar com as necessidades físicas do meu corpo, mas não vinha com a mesma simplicidade do que há um ano. A excitação, a fome e a busca pela centelha que faria o fogo crescer e queimar sempre acabava vindo com uma onda nauseante e dolorosa de memórias cheias de vergonha, erros e mal estar.

Era por isso que os caras desistiam de mim ― não que eu sentisse que estava perdendo algo com esses bundões ―, e era por isso que eu estava tão irredutível quanto aos avanços de Ethan. Um único olhar dele era capaz de despertar cada centímetro do meu corpo. Era algo sobre a cor de seus olhos frios, mas sempre tão aquecidos para mim. Como ele era capaz de me dizer tanto sem usar palavras, sem desperdiçá-las com combinações vazias.

E quando ele me tocava, eu me perdia.

E eu amava cada segundo.

Mas e se quando avançasse eu ainda me sentisse inadequada e incompleta?

Minha terapeuta dizia que isso não viria de repente ― superar o dano ligado a mente e ao corpo nesse nível ―, mas que eu não poderia deixar o medo vencer. E com Ethan eu não queria. Eu queria ser corajosa. Eu queria que suas mãos traçassem caminhos diferentes e queria que ele me olhasse com respeito e admiração porque eu estava finalmente lutando por algo.

Porém, precisava ser honesta sobre o que aconteceu comigo. Eu podia ver como ele ficava quando nos beijávamos até nossa cabeça girar e nossas respirações serem tão frenéticas quanto às batidas do nosso coração. Nunca ousei avaliar a reação lá debaixo, mas não era ingênua de pensar que ele ficava inalterado simplesmente por respeitar meu tempo e a hora de parar.

Não posso negar que isso me deixa constrangedoramente satisfeita: saber que eu consigo provocar esse tipo de reação em um homem como ele.

É um bom cumprimento ao meu ego massacrado.

― Ei, Gwen ― a voz surpresa e hesitante dele me fez piscar e virar o rosto na direção da porta. Seus olhos alternaram entre o quarto e eu, e ele espiava pelo batente da porta como se escondesse algo. ― Eu não sabia que você estava aqui.

Arqueei uma sobrancelha em divertimento, porque esse era o ponto exato de ter ficado para esperá-lo ao invés de ir para casa e esperar que ele me mandasse um texto. Seu cabelo estava alguns tons mais escuros por estar molhado e alguns pingos de água escorriam pela lateral de seu rosto, pescoço e peito. Ainda sem roupas! Meus olhos seguiram o resto de seu corpo que não estava escondido atrás do batente e, ah, hum, ele estava só de toalha?

Uma nova observação sobre seu quarto surgiu: ele era muito quente. Ethan devia colocar outra janela aqui.

Ou roupas.

― Você está pelado ― eu observei.

Ethan levantou as sobrancelhas escuras. Eu desviei o olhar para um ponto qualquer acima de sua cabeça.

― Não que eu esteja pensando sobre isso ― uma risada abafada escapou dos meus lábios, meio instável. ― Porque eu não estou. Claramente, nem de longe.

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