Prólogo

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Minha vida estava desmoronando.

Eu sabia que um dia isso ia acontecer, afinal, eu não seria colega de apartamento da minha melhor amiga para sempre. O problema era que eu não tinha uma perspectiva de vida. Ainda. Eu estava beirando os meus vinte e três anos e tudo o que eu tinha conquistado até agora era a marca de funcionária do mês. Isso graças a quantidade infinita que meu usual freguês, Mason, elogiou-me para a gerente do café, a senhora Celeste. Por trás de tantos elogios tinha o convite de um jantar implícito, o qual eu negava dia e noite. Isso dependia de quantas vezes o Mason aparecesse no café.

Bem, não era muito bem um café, mas era como eu preferia chamar. Não tinha nome mais original do que "Casa do Hans". Quem põem esse tipo de nome num lugar como aquele? E honestamente, demandava muito tempo e esforço nomear o que era aquele lugar: bar, restaurante, cafeteria, loja de conveniência. Então eu optei apenas por chamar esse lugar de "café", porque eu certamente não chamaria de "Casa do Hans". Parecia até piada! Ridículo demais.

Era difícil ter uma perspectiva de vida quando eu tinha que trabalhar quase doze horas por dia naquele lugar. Não me entenda mal, eu trabalharia em qualquer lugar que pudesse me sustentar – ao menos uma grande parte –, mas eu odiava as cantadas que vinham com o emprego. Ser o único estabelecimento que oferecia todo tipo de refeição – e decente – na entrada de Missoula, quase cinco quilômetros de distância de qualquer outro lugar civilizado, trazia muitos turistas ou estudantes para nós.

Era uma tristeza que muitos deles confundissem o meu trabalho de garçonete por prostituta. Não é como se eu me vestisse como as meninas no Hooters ou realmente fosse prostituta, mas no meu corpo curvilíneo, a baby look marrom – quem não fosse acostumado e nem vira quando eu a tirara da embalagem no meu primeiro dia de trabalho, imaginaria que eu nunca lavei a camiseta – e a calça preta de cintura alta, para o monte viajante, era como se eu fosse uma. Eu sempre mantinha o meu cabelo preso, primeiro, para não cair na comida e segundo que isso dava muito mais para a imaginação dos caras. De alguma forma, o modo discreto com que eu me arrumo ainda chamou atenção do Mason e de muitos outros.

O que ele não entendia era que, por mais que me bajulasse, desse boas gorjetas, eu não tinha nenhuma intenção de relacionamento. Nem com ele e nem com ninguém. Meu último não tinha corrido bem e eu não queria nada por agora. O Jesse era um escroto e se não fosse pelo Eddie, segurança do café, ele teria me incomodado por muito mais tempo. Não é como se ele tivesse parado totalmente de me importunar, mas ao menos, ele não vinha ao meu local de trabalho onde eu passava noventa porcento do meu tempo, quase todos os dias da minha semana. Eu, milagrosamente, estava vivendo um grande período de paz. Ele deve ter encontrado outra garota para destruir a vida. Ao menos, esse sacrifício no café pagava o aluguel que eu dividia com a minha melhor amiga, Lissa. Bem... Pagava. Agora que a Liss vai casar, o quarto vagou e, honestamente, o outro também vai. Eu nunca vou conseguir pagar o aluguel completo e muito menos posso morar com ela de novo. Ainda mais, porque o Christian e eu só faltamos nos matar.

— Você gostou? – Lissa sorriu em expectativa.

Ela tinha me levado para conhecer o novo apartamento que ela vai dividir com seu noivo, futuro marido. O quarto extra tinha destino aos filhos que eles já estavam planejando ter. Eu não tinha o direito de me oferecer a ser a tia para cuidar das crianças em troca de moradia. Precisava progredir, mas era difícil conseguir um trabalho melhor se eu não conseguia tempo para fazer uma faculdade. Ou eu trabalhava para me manter, ter onde morar, ter o que comer, ter o que vestir e... Não vale nem a pena comentar sobre a minha dívida hospitalar. Ou estudava para ter um emprego melhor. Eu não tinha muita saída por hora e agora sem a Lissa para dividir as despesas do aluguel e contas, eu não sabia o que fazer. Tinha procrastinado, esperando que ela não fosse seguir com essa loucura do casamento, mas agora eu tinha só mais um mês para conseguir um lugar novo.

Per te, mi amoreOnde as histórias ganham vida. Descobre agora