21.1. a garota que me encara de volta.

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― Por que você não bateu na porta! ― minha mãe exclamou, meio que gritando e meio que chorando. ― Ai, Gwen.

Sim, de fato, ai.

Ouço o farfalhar de roupas e os movimentos apressados, mas estou tão morta de constrangimento que só posso torcer para que, se eu ficar parada assim por mais alguns segundos, vou rebobinar o tempo e apagar esse momento da minha vida. De novo! Eu preciso morar sozinha.

― Vocês querem saber? ― eu disse, mais para eu mesma do que eles. ― Eu vou só... ― pigarreei, caminhando de costas. ― Vou só sair e desaparecer pelo resto da noite. Com sorte, amanhã ninguém vai me ver também. Daqui a dez anos talvez eu volte.

Estava subindo os degraus da escada em direção ao meu quarto quando ouvi a risada juvenil dos dois ecoar pelo andar debaixo.

* * *

Estou em uma missão no dia seguinte, forçando-me a caminhar na direção do tumultuado Red Nightmare. As luzes coloridas piscando me cegaram quase imediatamente e eu precisei criar uma espécie de aba com minha mão sobre os olhos, contendo um gemido. Não é meu lugar favorito no mundo, mas Alyssa não atendia o celular e eu não lembrava com precisão dos dias em que ela trabalhava aqui.

Rostos conhecidos foram aparecendo conforme eu atravessava ― ou lutava para fazê-lo ― a boate em direção ao bar. A cada passo alguém esbarrava em mim ou roçava no meu corpo, e o contato de pele desconhecida e suada fazia com que eu me encolhesse até que magicamente, pudesse ficar do tamanho de um inseto. Não conseguia me ver mais assim; dançando no meio da pista como se o mundo fosse meu, bebendo e me divertindo diante de dezenas de olhares como se eu fosse inatingível.

Bons tempos.

― Ei! ― alguém exclamou, a voz alta sobrepondo-se a música. ― Eu te conheço. O que você está fazendo aqui?

Dedos envolveram meu cotovelo, gentilmente me segurando. Eu congelei, olhando nervosamente por cima do ombro e me deparando com Caden Burns, um dos três sócios atuais do Red. Meu pulso se acalmou, por alguma razão me deixando aliviada em saber que ele me encontrou.

― Oi! ― eu gritei de volta, uma careta torcendo meu rosto quando esbarram em mim novamente. ― Estou procurando alguém.

Uma sombra alarmada cruzou por seu rosto e ele desviou o olhar para um ponto acima da minha cabeça.

― O Ethan? ― ele adivinhou. ― Ele não tá aqui. Definitivamente não está, ― respondeu à pergunta não feita, as palavras rápidas e firmes.

Ah. Parece que alguém está festejando.

Ignorando o desconforto que surgiu em meu peito com o pensamento de Ethan se divertindo, "livre" outra vez e muito provavelmente tirando o atraso que sua promessa fez de nada valer para nós, eu balancei a cabeça para chamar a atenção de Caden.

Embora meus olhos estivessem sendo atraídos para cada oscilação ao meu lado, como se o nome dele fosse um imã. Uma tentação, uma força muito maior do que meu próprio corpo. Eu sabia o que iria ver e sabia que não queria ver, e mesmo que eu quisesse dar material para alimentar todos os meus medos e prová-los verdadeiros, desta vez, era tudo inválido.

Porque era minha culpa. Eu o empurrei para longe e para cá. Eu que tratei sua palavra como um recorte de papel; rasguei em pedacinhos e joguei o resto ao vento como se não me importasse.

― A Alyssa está no bar? ― perguntei. ― Eu preciso muito falar com ela.

Deveria ter sido mais cedo ou, melhor, no instante em que saí da Galeria. Com sorte, minha tia esperaria um dia para decidir o que fazer com o que a Tia do Ano disse sobre a sobrinha. Pedir ajuda ao meu pai foi desconsiderado indefinidamente depois daquele constrangimento. Eu realmente não preciso adicionar nada a desconstrução da nossa relação ― ou a falta dela.

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