༆XLII

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e numa tarde de domingo azul, eu volto para trazer o seu sofrimentuuuu

buona notte, amores mios

Atualmente. Alyn Narrando.

Era uma vez, um passarinho laranja que vivia preso em uma gaiola de pedra de um rei perverso.

Ele sonhava com o dia que se veria livre e poderia voar pelas florestas do continente e explorar o mundo.

E um dia, ele conseguiu sair, voando para longe de sua antiga gaiola.

Mas os dias de liberdade do passarinho laranja estavam contados, e um príncipe ainda pior o encontrou e o passarinho sonhou novamente, não com sua liberdade, e sim com a segurança dos outros pássaros que conheceu durante seus dias voando.

Querem saber o que aconteceu com o passarinho? Bem, ele está nesse momento inventando histórias bonitas sobre sua própria história para não ter de lidar com o fato de estar presa dentro de uma caixa de ferro, com pulsos e tornozelos presos por grilhões. O frio me deixando trêmula.

O passarinho laranja está, definitivamente, cansado de lutar por sua liberdade quando sua mente traidora continua lhe trazendo as imagens da maldita cabeça de antigo dono dentro da gaiola do passarinho. Trágico, não é?

Mas poderia ser pior. Na verdade, era pior. As laterais da caixa de ferro em algum momento encostaram em minhas costas, me fazendo perceber que a cicatrização estava sendo atrasada. Como se algo a impedisse de continuar. Falar sobre meus gritos não é uma boa ideia.

Minha garganta está seca e até o movimento de engolir saliva dói. Minha cabeça é uma bagunça de pensamentos e lembranças que correm ao mesmo tempo. Ironicamente, os olhos da corça que encontrei no bosque da Corte Noturna semanas ou até meses atrás eram nítidos, junto aos de Elain.

Será que lhe localizaram? Será que Azriel conseguiu achar o que tanto queria? Me recordava da culpa nos olhos do encanador de sombras, agora entendo. Não gosto, mas entendo.

Até pensar nele é doloroso. Doloroso por que uma parte de mim ainda sentia suas mãos em meu corpo, e seus lábios nos meus. E depois de prová-lo, saber que posso nunca mais senti-lo novamente... Talvez fosse imaturo e imprudente da minha parte sentir tais coisas pelo macho que aparenta temer afeto.

Mas não conseguiria explicar nem se tentasse. O laço não fora aceitado, tão pouco rejeitado. E não acredito que ele tenha o menor interesse em rejeitar. Esses pensamentos me enlouquecem, pois talvez nunca tenha respostas para minhas perguntas.

Talvez nunca mais veja minha família. Ou meus amigos. Ou Azriel. Ou Shelly e Arswyd. Sinto falta dos meus filhotes tanto quanto dos meus amigos. Shelly é acostumada a sobreviver na floresta, e Arswyd nunca precisa caçar. Se algo acontecesse a eles, céus.

Manch e Azriel não conseguem conter os dois, disso não tenho dúvidas. Aquele dragão teimoso a essa hora já deve ter aterrorizado Vallahan inteira. Não percebi que estava chorando até um soluço romper o silêncio.

Silêncio que logo foi interrompido novamente, dessa vez não por soluços meus. E sim, o som de metal se arrastando e passos pesados. Tentei contar, mas eram muitos. E então, senti o sacolejar da caixa. Como se estivessem a erguendo.

Minhas costas foram de encontro com a parte de trás, a enorme ferida não cicatrizada enviando uma onda de dor por todo meu corpo e as correntes me prendendo tilintaram. Todo o meu corpo tremendo de dor e frio.

A Court Of Fire and Shadows [comeback]Onde histórias criam vida. Descubra agora