14. a verdade que há e suas promessas.

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— Tive um pesadelo — ele sussurrou, ainda lá, parado. — Você pode ficar comigo por, hum, só um tempo?

A contração em meu peito fez o oxigênio se recusar a inflar meus pulmões. Calum nunca havia vindo até mim nesse mês inteiro desde que chegaram, e enquanto Alyssa mantinha os detalhes dos anos que permanecemos separados trancafiados nas profundezas de sua mente inalcançável — com exceção a sua aversão a Malorie —, eu simplesmente não queria pressioná-lo tão depressa. No momento em que sentisse que ele confiava em mim, talvez tentasse.

Por mais que ele fosse uma criança, ele ainda era uma pessoa, e conhecendo nossa genética e a vida que temos em comum, em conjunto com todas as tragédias que enfrentamos e éramos, não fazia sentido tratá-lo como estúpido. Ele não era tolo, mas ainda era dependente de nós para crescer e com isso vinha à responsabilidade de ser um exemplo e mostrar a ele que caminho seguir.

— Você quer me contar sobre o que foi?

Silêncio.

Inclinei minha cabeça e gesticulei em sua direção com o queixo.

— Calum, entra e vem deitar — sugeri, arrastando-me contra a cabeceira de madeira da cama. Os lençóis estavam começando a ficarem velhos, ásperos e gastos em determinadas regiões, e meu travesseiro, a essa altura, deveria estar no lixo. — Hein?

Meu irmão mais novo hesitou, parecendo subitamente desconfiado.

— Talvez eu deva acordar a Allie — disse ele, prestes a se retirar.

— Não — repliquei, mantendo minha voz firme e suave; ou o máximo que podia. — A Allie está cansada, Callie, e ela tem aula amanhã cedo — baixei meu tom, tentando instigá-lo a ceder um pouco. — Você pode falar comigo.

Ele usava a parte de cima de um pijama com estampa de hambúrgueres e batatas fritas com um fundo amarelo e uma calça de moletom cinza que se arrastava em seus calcanhares. O cabelo de um tom escuro de loiro estava bagunçado e com um pequeno ninho cheio de nó na lateral, porque se havia alguém que não dormia de maneira elegante, era ele. Calum provavelmente teria problemas de coluna apenas por dormir como se não tivesse ossos em seu corpo.

Sua boca se crispou com aceitação e ele deu de ombros.

— Beleza, então... — mas uma dúvida infundada ainda pairava em seus ombros quando ele se arrastou para o colchão e eu o alcei por debaixo dos braços, erguendo-o por cima de mim e deitando-o do outro lado da cama. — Uau. Você tem uma cama grande.

Não era exatamente grande. Sim, havia espaço para duas pessoas, mas eu era muito grande e, consequentemente, a outra pessoa só dormiria confortavelmente se tivesse o tamanho de Calum ou Allie. Ou não. Esse colchão era uma droga, na verdade. Minhas costas doíam todos os dias, mas com o tempo, acostumei.

— Sobre o que era o seu pesadelo? — questionei, entrelaçando meus dedos em meu colo e cruzando os tornozelos. Meus pés ficavam alguns centímetros longe da borda do colchão nessa posição, enquanto os de Calum mal alcançavam meus joelhos.

— Sobre a mamãe e o papai — ele suspirou, parecendo cansado. — É sempre como se tivesse algo errado. Como se eles devessem ficar em casa no sonho, mas eles não ficam, e então eu nunca mais os vejo.

Basicamente, são apenas fatos que o chateiam enquanto dorme.

Baixei meu olhar para seu rosto. As sobrancelhas loiras estavam contraídas com um tipo de frustração infantil, um pouco de vergonha — que não deveria estar ali —, e certamente aquela velha amiga conhecida como dor. A injustiça com a qual a vida trabalhava todos os dias não deixou sequer ele passar batido. Durante os anos que estive longe, nunca deixei de tentar ser presente das formas que podia. Eu ligava e ficava horas no telefone quando era bem vindo. No início nem tanto, porque não tinha condições. Eu ouvi suas primeiras histórias sobre a escola por repetidas vezes e nunca pedi para parar. Eu o ouviria por toda a minha vida se dependesse de mim. Assim como Alyssa.

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