XXV - Além vida

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   Sentia-se em paz.

   Uma paz estranha que nunca havia sentido antes, não porque nunca sentira paz, mas porque essa vinha acompanhada de um sentimento vazio. Não era como a paz de plenitude que sentia ao estar com o homem que amava ou a paz que sentia quando sabia que o dever havia sido comprido.

   Mas o homem que amava a havia perdoado e sua batalha estava ganha; por que se sentia vazia?

   Akira, deitada no chão, finalmente decidiu abrir os olhos. Sentia o corpo pesado, mas absolutamente leve ao mesmo tempo. Notou que usava uma roupa diferente, um vestido azul pálido, esvoaçante e de alças finas, parecia leve. O céu azul parecia branco e translúcido e, ao levantar-se, notou que tudo ao redor também tinha a aparência borrada.

   Precisou de apenas um segundo para entender onde estava, ou onde parecia estar. Era a entrada do Distrito Takashi, no país do Fogo.

   - O que..? Como vim parar aqui? - a perguntava em vão parecia ressoar no cenário vazio e fantasmagórico do que um dia foi seu lar.

   Observou, com um aperto, as antigas runas talhadas no muro e o enorme portão aberto que dava visão de sua antiga casa.

   Passou pelos portões e, a cada passo leve que dava ao interior da vila, a nostalgia tomava mais conta de si. Mas o local parecia completamente vazio. Andou até a maior construção do local, a que costumava ser sua casa, e finalmente viu pessoas.

   Quase caiu ao entender o que via.

   Seu clã.
   Todo ele.

   Ninjas, idosos e crianças tomavam o espaço em frente ao pequeno palácio dos líderes do clã. Lágrimas, que ela sequer sentia, caíam pelo rosto de Akira. Viu as crianças com quem costumava brincar quando ainda era muito jovem, não estavam nem um segundo sequer mais velhas.

   - Enfim a princesa retorna para casa - disse sua sensei da academia ninja. Uma Kunoichi poderosa que, por estar em missão, salvou-se do massacre do clã apenas para morrer em batalha anos depois. Akira devia muito a ela, foi graças a mulher que conseguiu desenvolver as habilidades de seu kekkei genkai, além de ter sido o mais próximo de uma mãe que Akira tivera - Você não mudou nada, minha garota.

   Akira quebrou ao ouvir o tom gentil de sua sensei que costumava ser tão rígida. Caminhou, ou flutuou, até a mulher e a abraçou. Sentiu a diferença, agora era tão alta quanto a sensei e o corpo dela parecia mais leve, menos rígido, do que costumava ser.

   - Onde eu estou, sensei? - Akira conseguiu dizer através das lágrimas.

   - Não reconhece este lugar, Akira? - ela estendeu o braço mostrando o redor - Está em casa.

   - Casa..? N-não pode ser. Como?

   - Ah Akira, você... Bem, por que não fala com seus pais? Será melhor.

   - Meus pais... - sentiu um bolo na garganta.

   Abraçou a sensei mais uma vez e encarou o pequeno palácio onde estavam parados, as pernas trêmulas mal a levavam em direção a grande porta de entrada. Empurrou a porta pesada sem dificuldade, nada parecia difícil naquele lugar.

   E ali estavam.

   Parados na base da grande escada do castelo e vestidos, não como os Shinobis que eram, mas como os bons governantes daquela parte do país. O pai estava como bem se lembrava: o cabelo escuro bem penteado, os olhos turquesa extremamente brilhantes, como os dela própria, e o blazer em um tom tranquilo de azul; mas sua mãe estava mais linda do que ela sequer poderia imaginar, usava um vestido vermelho, o cabelo curto e dourado estava brilhante e os olhos pretos com um fino aro dourado estavam menos alegres do que Akira imaginou que estariam; pareciam carregar um pesar.

Kakashi e Akira - Akai Ito?Where stories live. Discover now