《Narrado por Nicholas》
Se passaram dias, semanas, e meses, pra ser mais exato, 2 meses. Ampliamos a segurança com as luzes, consegui ensinar os meninos a como se virar em uma fazenda, no início foi difícil mas eles se adaptaram. Nosso relacionamento se fortalece mais a cada dia, sempre nos ajudamos nas crises da depressão global.
Três dias após o dia em que chegamos aqui, por pura sorte, conseguimos achar um gerador, o que tem nos mantido com energia, ele tem uma potência enorme, mas não sabemos ao certo quanto tempo ele ainda irá durar, e nem o que fazer quando isso acontecer.
Estabelecemos uma série de coisas que devemos ou não fazer em relação à segurança, incluindo o fato de que toda sexta-feira saímos pra pegar mais suprimentos em supermercados e coisas assim.
— diário de bordo — escuto Christian enquanto passo em frente ao quarto, ele se diverte bastante com isso.
— bom dia — chamo sua atenção que me responde com um sorriso, adentro o quarto indo em sua direção, tampo a lente da câmera com minha mão e dou um beijo lento nele — vem tomar café quando terminar aí okay?
— tá certo capitão — ele concorda com a cabeça e sigo o rumo até o meu destino matinal, a cozinha.
Desço até a cozinha onde Jackson fazia o café da manhã, chego por trás dele e coloco as mãos tapando seus olhos.
— se você adivinhar quem é, você ganha um beijo — digo em seu ouvido e sinto que ele tremeu um pouco.
— não sei, talvez um alienígena — dou um leve soco em seu ombro e ele ri baixo — eu sei que é você leiteiro.
— dá pra parar de me chamar assim? — chego perto dele e dou um selinho.
— não, não dá, é o apelido da era — ele beija meu nariz devagar e volta a fazer o café da manhã — vamos ter que ir comendo no carro, não podemos nos atrasar, cadê o Chris?
— tô aqui — olho em direção às escadas e vejo o garoto descendo e vindo em nossa direção — bom dia Jack.
— bom dia neném — eles dão um selinho como o que eu havia dado em Jackson e logo o mais novo se aproxima de mim, fica agarrado em minha cintura e deitou a cabeça no meu ombro — hoje vamos na loja de armas que encontramos na semana passada.
— você acha que armas atingem eles? — pergunto com um pouco de receio e recebo um levantar de ombros.
— vamos testar — ele diz colocando um Waffle dentro de um pequeno depósito, vi que já tinham alguns dentro — comida preparada, vamos?
Pegamos o nosso rumo em direcção a loja de armas, para seguir logo depois em direção ao shopping e pegar mais algumas coisas. No caminho, a mudança mundial já é nítida, árvores totalmente mais verdes, animais livres pelo mundo, eu fico imaginando se isso não é um tipo de castigo da natureza pros humanos que estavam destruindo ela. O caminho como sempre muito silencioso, chega a dar um pouco de medo. Literalmente estamos vivendo em um mundo pós apocalíptico.
— tá longe? — pergunto ao olhar no meu relógio e ver que já estamos na estrada por 40 minutos.
— na verdade a gente já chegou — Jackson aponta na direção da loja, que era bem discreta pra ser uma loja de armas.
Descemos do automóvel e de longe vi algo que me deixou triste, dois cachorrinhos mortos um perto do outro, no mundo existe um número imenso de animais domésticos, com o desaparecimento de seus donos, eles ficam sem comida, sem água, sem atenção e a grande maioria acaba preso dentro de casa e não tendo para onde sair.
— você tem uma grande ligação com animais não é? — Chris toca em meu ombro ao fazer a pergunta.
— eu sempre quis ser veterinário, e foi por causa de um animal que hoje nós três estamos juntos — sorrio e beijo sua mão em meu ombro — vamos pegar essas armas e acabar com aqueles monstros.
Entramos e eu fiquei sem reação alguma ao tanto de armas e munição que havia no local, parecia algo de elite, Jackson pediu para que colocássemos todas elas na Van, mas deixamos 6 armas fora, duas para cada um de nós, Jackson era o único que sabia atirar, pois era filho de militar, ele disse que nos ensinará, eu e Christian criamos um tipo de gambiarra com lanterna de luz amarela, para que toda vez em que o gatilho for apertado, a lanterna seja ligada, instalamos em todas as 6 e seguimos em direção ao carro.
— tudo pronto? — dou a Jackson uma resposta com um balançar de cabeça indicando afirmação.
— vamos nessa — abro a porta do carro para que eu possa entrar, olhei novamente pros cachorrinhos e me deparei com algo que eu não esperava — humanos.
— o que? — Jack olha pelo retrovisor da Van e sai dela imediatamente.
Eram duas jovens que aparentavam ter nossa idade, ajudando uma mulher que estava sangrando à se locomover, e uma criança correndo em nossa direção gritando algo.
— socorro, ajudem minha mamãe — seus olhos estavam cheios de lágrimas, saímos correndo em direção a elas, nos disseram que a mulher tinha sido atacada por uma cobra grande, a mulher gritava de dor.
— tem um hospital três ruas depois dessa, vamos levar ela até lá e vemos o que podemos fazer — digo tentando acalmar elas.
Levamos a mulher até a Van, que não coube todos por causa das armas, Chris se ofereceu pra ir com uma das meninas e a criança a pé, enquanto eu, Jackson e a outra das meninas fomos na Van pro hospital. Ao chegar, adentramos o hospital rapidamente, levamos ela pra primeira sala que vimos no local.
— como era a cabeça da cobra? — Jackson perguntou enquanto pega luvas e coloca em suas mãos.
— triangular e achatada — a resposta da garota me deixou mais nervoso ainda.
— venenosa — digo enquanto desamarro o pano em sua mão.
— me deixem ir… — disse a mulher chamando nossa atenção — Lia, minha hora chegou... cuide do seu irmão, cuide da sua namorada, e sobreviva minha filha… vocês garotos, permitam que eles se juntem a vocês, quanto mais gente, maior é a facilidade de se ganhar essa guerra.
— mãe, não me deixa aqui — a garota chega perto dela e abraça sua mãe começando a chorar.
— eu quero pedir desculpas… — a mulher começou a tossir e sangue saiu de sua boca.
Christian chegou com o resto da galera, que vieram logo em seguida para perto da mulher se juntar a garota que já estava aos prantos.
— me desculpa minha filha, por ter dito que eu não tinha orgulho de te chamar de filha apenas por você querer amar, você só me dá orgulho — saíram lágrimas dos olhos da mulher, e da maioria das pessoas aqui presente também — Karen, você é uma ótima garota, espero que faça minha filhinha feliz, tive orgulho de ter uma nora como você… e você meu filho, você é e sempre será meu herói.
— mãe? — Lia move sua mãe mas não obtém resposta — MÃE?
Ela se foi, mais uma levada por causa dessa catástrofe, vi Chris pegando a criança nos braços que já chorava e o levando pra fora dali, eu e Jackson nos afastamos deixando apenas as duas garotas.
— eu quero minha mãe — Chris coloca o garoto sentado em um bando de hospital e se ajoelha na frente dele.
— e eu quero que me escute, okay? — nunca tinha visto o Christian daquela forma — você vai ter que ser forte, qual seu nome e quantos anos você tem?
— 12 — o garoto disse soluçando — meu nome… meu… meu nome é Leno.
— okay Leno… está vendo esses garotos que estão aqui do meu lado? — ele aponta pra nós e o garoto confirma com a cabeça — eles também perderam a mãe, eu também perdi a minha, e não faz muito tempo, eu não superei ainda, e creio que não vou, mas quero que saiba que nós três vamos lhe proteger, você não vai estar sozinho.
— quando estiver triste, vamos te fazer sorrir, nem que seja com cócegas — digo dando um sorriso de lado.
— estaremos lá pra ajudar quando tiver pesadelos, podemos fazer comida para você, e a gente vai te ajudar a passar por isso, todos juntos — Jackson termina por nós.
O menino deu um abraço no Chris que respirou fundo e o abraçou de volta, depois veio abraçar cada um de nós e nós agradeceu, mas o choro ainda não foi parado, e entendemos ele. Ficamos cerca de 1 hora ali, com o garoto, tentando o acalmar, conversando com ele sobre milhares de assuntos, até que ele se cansou e acabou dormindo.
— obrigado por isso — disse Lia vindo até nós — eu não saberia como acalmar ele, eu… acho que tô pronta pro passo final.
— vai querer enterrar ela aqui mesmo? — recebo um sim como resposta e nos levantamos, deixando Lia com seu irmão.
Saímos para procurar alguma pá, para cavar um buraco, mais um humano enterrado por nós.