Capítulo 21: Corpo

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《 NARRADO POR LENO 》

  Sonhar pode variar entre algo bom ou ruim, a existência de vários tipos diferentes de sonhos vai de acordo com a capacidade de imaginação de cada um, a criatividade muitas vezes pode ser a vilã deles.

  Dormir pensando em algo ocasionalmente pode vir a gerar conteúdo para um sonho, como estar voando e acordar sentindo que ia cair, ou algo que pode se tornar uma visão de um futuro próximo, já tive pensamentos sobre sonhos serem memórias de vidas passadas.

  Nunca ouvi falar sobre alguém morrer por causa de um sonho, você sabe que irá acordar, mesmo que ela seja um dos piores pesadelos… mas dessa vez eu desejei não ter acordado, o meu corpo já não era mais meu, eu consigo enxergar tudo o que acontece à minha frente porém nenhum movimento é feito por mim, até minha mente agora é compartilhada com algo que está dentro de mim, não consigo fazer contato algum com seja lá o que estiver dentro de mim.

  Enquanto meu corpo se movia pela casa pude ver os corpos do casal que havia nos ajudado deixado lá para desintegrar, tudo o que eu conseguia fazer era chorar internamente e pedir para que tudo isso parasse, durante a caminhada pela casa não cheguei a ver minha irmã, espero que ela estava viva.

— raio, vem cá garoto — meu corpo havia chamado o cachorro que estava ali perto bem melhor do acidente ocorrido a um tempo.

— não acessa minhas memórias, devolve meu corpo, me tira daqui — comecei a gritar enquanto tentava me debater mas tudo o que eu tentei fazer foi em vão.

  Após se comunicar com o pequeno animal, ele volta a se movimentar, em direção a cidade, me fez andar entre outros monstros, e ao chegar perto deles fui obrigado a falar em outro idioma para que todos eles entendessem, chutei que ele havia dito para os outros qual era nosso plano, logo todos já estavam indo em uma mesma direção.

— me diga Leno, se você fosse seus amigos, onde se esconderia? — mais uma vez me fazendo falar sem ter minha permissão, fico nervoso e com raiva mas infelizmente penso exatamente no que ele havia perguntado — nem precisou abrir a boca pra responder, bom garoto.

  O jogo mental que foi feito no caminho até onde os meninos estavam foi enorme, ele me fez pensar em um plano inteiro de como fazer com que ele se livre dos meninos sem morrer, e toda vez que eu tentava conseguir um jeito de arruinar o plano, ele ameaçava de matar o raio que estava andando ao lado.

  Por fim finalmente chegamos ao destino, encontrar os meninos, não foi tão difícil já que os outros minutos fizeram a parte ruim que era sacrificar vários deles para que nós pudéssemos chegar aqui, de forma inteligente eles três deram um jeito de nós colocar para dentro do outro prédio.

— não acredito que você teve que passar por tudo isso — Christian abraça meu corpo e pela primeira vez não consigo sentir aquele abraço que eu tanto amava, isso me deixou muito mal, se eu tivesse no meu corpo eu teria caído por falta de força nas pernas.

— instalamos algumas luzes bem rápido para que eles não cheguem até nós nesse andar, amanhã vamos sair daqui — Jackson disse olhando pela janela.

— você é mais forte do que todos nós aqui Leno, você é essencial nessa guerra que o mundo está travando, tão jovem e tão importante — disse Nicholas chegando mais perto — a gente te ama.

  Ele abraça meu corpo e logo depois Jackson também vem, começo a gritar com força internamente enquanto chorava freneticamente pedindo socorro e dizendo que estava aqui dentro.

— eu também amo vocês — tanto eu quanto o alien falamos ao mesmo tempo. 

  Aquela noite foi intensa, já que ele está no meu corpo, não iria morrer com a luz do sol pela manhã, ele vai ver tudo o que fizermos até que um dia ele nos mate um por um… a semana foi se passando aos poucos, via que ele prestava atenção em cada mínimo detalhe de falar, gestos e até mesmo sentimentos que os meninos demonstravam.

  Se passaram 1 dia, 7 dias, duas semanas, e mesmo que eu não pudesse ler a mente dele como o mesmo fazia comigo, eu sabia que ele estava pensando em por o plano em ação, durante a noite ele andava até a janela e ficava mandando sinais com as mãos para os monstros que ficavam debaixo do prédio.

— essa sua espécie é estranha Leno, eles perderam milhões de pessoas, familiares e amigos, quase perdiam você e acham que perderam sua irmã e os outros, sabem que está cheio de nós aqui ao redor, mas mesmo assim insistem em acasalar — disse ele enquanto escutava a cama balançando no do quarto ao lado.

  Logo após passar as informações que precisava passar, ele foi pra cama, descobri com essa nova experiência que eles também precisam de descanso, fazem isso durante o dia em locais abandonados com pouca luz.

  Acordar dessa forma não se torna normal de forma alguma, todo dia é um susto quando lembro que não comando mais o corpo que um dia foi meu, eles nunca iriam descobrir que não era eu quem estava no comando, eu terei que assistir eles sendo mortos e sabe lá o que farão depois com meu corpo, foi exatamente nesse momento que desisti.

  Me desculpa mãe, mas eu não vou conseguir continuar a lutar como me pediu antes de morrer, mas quero que saiba que eu dei o meu melhor, eu protegi minha irmã como me pediu, ajudei os meninos, vivi do meu jeito, aproveitei cada gota de vida mesmo que pequena, pode ter certeza. Ver os meninos fazendo café da manhã e sorrindo enquanto meu corpo senta à mesa é doloroso demais, eu não vou conseguir aguentar por muito tempo, vou me entregar e deixar que ele domine tudo… o vejo pegar um copo que Nick havia dado a ele e o mesmo agradece ao garoto já virando o copo, nem gosto eu consigo sentir.

— é seu favorito Leno — Jackson que havia feito o suco me olha totalmente diferente das formas que já havia olhado antes, e uma luz começa a acender dentro de mim.

— o que vocês fizeram? — o monstro que estava em mim levanta da cadeira e logo em seguida se joga no chão se debatendo.

— você teve acesso a toda a minha vida, seu pior erro foi saber suas fraquezas e não só se proteger de uma, meu corpo não deixava que o sol entrasse e te matasse, mas te apresento o saboroso gostoso da composição de uma hortelã — foi a última coisa que consegui dizer antes que meu corpo começasse a vomitar, depois disso tudo ficou escuro.

  Ao acordar minutos depois, a primeira visão que tive foi de um chão sujo, aquela coisa que havia me atacado e entrado em mim estava no chão em pedacinhos e em seguida olho para cima vendo além dos três garotos, minha irmã e sua namorada.

— como? — pergunto a eles e minha irmã vem em direção a mim dando um abraço apertado, pude sentir em fim o meu corpo e o de outra pessoa.

— enquanto você dormia em uma manhã, encontramos os meninos vasculhando alguns locais da cidade em busca de suprimentos e contamos tudo a eles, desde esse dia eles vieram atuando aos poucos — ela explica e eu começo a chorar.

— bem vindo de volta garotão — Christian vem logo em seguida me abraçar também, estou em casa!

Para onde vamos agora? (Romance LGBT/Ficção)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora