Para onde vamos agora? (Romance LGBT/Ficção)

Capítulo 02: Família

《Narrado por Nicholas》

Nós praticamente invadimos quase todas as lojas pegando vários tipos diferentes de comida, quase quebramos uma máquina tentando fazer milk shake, no final nem conseguimos e partimos pro refrigerante mesmo, pegamos comidas salgadas e doces e fomos novamente para perto do cachorro, demos um pedaço grande de carne que achamos em uma das lojas, e deixamos ele comendo.

- Então, me digam seus nomes - abro uma latinha de Coca enquanto espero minhas respostas.

- Me chamo Christian - diz o primeiro garoto que veio falar comigo.

Ele é um pouco mais baixo que eu, mas quase não se nota a diferença, deve ser apenas uns 3 centímetros, cabelo liso e preto, um tom de pele negro, bem parecido com o de alguns latinos, mesmo que ele tenha sorrido bastante com a gente, tem um olhar um pouco triste.

- Jackson - o outro garoto falou.

Jackson já é bem diferente de Christian, novamente os 3 centímetros aparecem, más dessa vez, maior que eu! Cabelos loiros porém pintado, da pra perceber por causa da sobrancelha, seus olhos são verdes, não muito escuros.

- Me chamo Nicholas, estavam no Brasil por causa do Carnaval? - ambos concordam apenas com a cabeça de primeira.

- Eu sou da Califórnia, sempre tive vontade de conhecer o carnaval do Rio, então pedi a minha mãe que guardasse um dinheiro pra que pudéssemos ir esse ano, e ela fez isso, foi melhor do que eu esperava, fui bem recebido pelo povo de lá, a comida é incrível, e a energia que o brasileiro tem é cativante - Jackson fica com um brilho em seus olhos verdes enquanto fala, ele realmente deve ter gostado muito.

- Minha avó é brasileira, meu irmão resolveu dar uma pausa no trabalho dele e me levar pra ir ver ela, não via ela desde... faz um bom tempo, me fez bem ver ela novamente, e é sempre bom visitar esse país, eu amo o México, mas metade de mim também é brasileiro. Eu nem devia estar aqui, mas o único jeito de voltar pra casa era pegando um avião pros Estados Unidos e depois um pro México - Christian terminou tomando um gole de um café que ele havia pego no Starbucks.

- vim pros Estados Unidos por segurança, não por causa do país, eu amo o Brasil, mas sim pela família, eu e minha irmã precisávamos sabe? Eles... sofreram um acidente e nós preferimos sair de perto daquele local que nos faz lembrar deles - explico e eles ficam em silêncio, talvez não queiram falar algo por medo de sem querer me machucar.

- por falar em família - Christian faz com que olhassemos em direção as escadas, um cara que não aparentava ser muito velho, uns 25 anos por aí, vinha em nossa direção.

- onde você se meteu cara? - ele chega cruzando os braços.

- eu te disse que ia vir aqui em cima ver se estava rolando algo e adivinha, eu me envolvi no rolê - o cara apenas da uma leve risada e nos cumprimenta com um aperto de mão.

- eae rapaziada, vocês não acham isso tudo que tá acontecendo muito estranho não? - ele diz puxando uma cadeira e sentando nela.

- e põe estranho nisso, assim que pus os pés aqui eu vi que não tava nada em ordem - digo e ele concorda - pega algo pra comer mano.

- Eu tô sem fome cara, eu quero mesmo é saber o que tá acontecendo, nem aqui eu deveria estar agora - ele termina com um suspiro.

- Jackson? - escutamos uma voz um pouco distante e todos olhamos - você me disse que ia no banheiro e não voltou mais garoto.

- Desculpa mãe eu acabei fazendo amizade com esses meninos e perdi a noção do tempo.

- ela é sua mãe? Tem cara de ser sua irmã - Christian tirou as palavras da minha boca, e pelo visto o lance de encontro de família só aumenta, vejo de longe minha irmã vindo até nós olhando pros lados analisando tudo.

- Desculpem se estou atrapalhando em algo - ela chega dando um sorriso e cumprimentando a galera.

- Quer comida Nati? - ofereço e ela aceita, recebe um pouco do meu hambúrguer.

- Enfim, a gente tá pensando em sair daqui Nick, os táxis do aeroporto não tem motorista, praticamente não temos transporte, e nosso apartamento está do outro lado do estado, vamos atrás de abrigo - concordo com ela me levantando.

- o nosso vôo pra Califórnia não veio e provavelmente não vai vir então se não for incômodo, eu e Jackson podíamos ir com vocês? Só enquanto não resolvemos isso, é que realmente não temos pra onde ir e a Flórida é bem distante do nosso ponto final - a mãe do Jackson pede e Nati concorda com a cabeça feliz com a ideia de não ficarmos sozinhos.

- na real eu acho que nosso vôo também não vem mais - o irmão do Christian olhou pro relógio e depois pra minha irmã que entendeu e ela mesma disse que estava tudo bem eles irem conosco.

No fim acabamos resolvendo que todos íamos juntos, afinal, não sabemos o que nos espera depois disso tudo. Pegamos o cachorro e saímos todos dali indo pro primeiro andar, que continuava em um clima pesado, gente chorando, confusa, e andando de um lado pro outro.

- estão todos tão tristes - comento enquanto descemos as escadas.

- um cara pegou um carro do estacionamento que tava com chave e saiu andando por aí atrás de ajuda, ele não encontrou uma pessoa se quer, tudo o que achou foi destroços de carros, casas com portas arrombadas, e animais - Minha irmã me explica.

- e as redes sociais? - Jackson pergunta vindo logo atrás de nós.

- Não estão funcionando, os servidores caíram - novamente ela explica e apenas concordo com a cabeça.

Quando eles terminaram de falar pego meu celular e entro no Whatsapp, ninguém havia postado Status, no Instagram, nenhum famoso postou nada, as pessoas que sigo no tweeter não estavam tweetando nada, foi aí que a ficha caiu e a tristeza cresceu em mim e acho que em todos nós, eu entendi o porquê de todos estarem tão pra baixo.

Nos encontramos com a namorada da minha irmã, que nos avisou que ninguém havia notícia alguma.

- tem um shopping daqui a uns 10 quarteirões, e se dermos sorte, achamos um com chave lá fora, só precisamos achar um e irmos.

- vamos pegar um carro - digo começando a andar pra fora do local.