JACOB
A muito custo, conseguimos fazer com que liberasse o Apolo para ir assistir ao parto junto comigo, mas o mesmo foi de cadeira rodas sendo conduzido por um técnico de enfermagem.
— Olha quem veio visitar a grávida mais linda desse hospital — murmurei à medida que adentrávamos o quarto.
Theodora sorriu ao nos ver e parecia estar animada.
— Ursinho! Mozão! Ei, Ursinho, você sabe quem inventou essa tal de peridural? Porque eu quero muito me casar com esse ser humaninho maravilhoso.
Não aguentamos e acabamos rindo dela.
— Eu, se fosse você, me casaria era com o cara que criou a raque, Bonequinha. A anestesia raquidiana é a que inibe a dor instantaneamente. Aplicou... Boom! A dor sumiu em segundos.
— Mentira? E por que o senhor não me aplicou essa daí? — ela inquiriu, olhando para o médico que se encontrava do outro lado da cama anotando algo no prontuário — Me fez ficar dez minutos com dor ainda. Vou te denunciar por malvadeza, viu?
— Ele só está fazendo o trabalho dele. Deixa de implicância, Bonequinha — Apolo comentou, já sendo alvo do olhar sério da Thea.
— Vem parir aqui no meu lugar para você ver se é implicância minha. Do jeito que você é chorão, iria era está aos prantos por causa da dor também.
— É por isso que Deus não fez os homens com útero. Somos muito fracos para aguentarmos uma dor desse nível — salientei, rindo, já sendo acompanhado por todos naquele quarto.
Depois de quase uma hora, com as contrações da Theodora vindo agora de três em três minutos, o obstetra disse que faria um novo toque para ver o quanto ela tinha evoluído na sua dilatação.
Após o exame rápido, o mesmo mandou a Thea respirar profundamente e reunir todas as suas forças, porque na próxima contração ela já deveria empurrar o mais forte possível. Theodora assentiu, então eu e Apolo nos posicionamos um em cada lado da cama, segurando as mãos dela.
— Estamos aqui para sermos sua força, Bonequinha — Apolo sussurrou, sorrindo e eu concordo também em seguida, beijando o dorso da mão dela.
— Obrigada...
Mais uma onda de contração a acertou e a parte crucial do parto se deu início. Foi como se tudo estivesse em câmera lenta até o momento em que escutamos o som do chorinho da nossa pequena Alicia.
Eu não sei quem estava mais choroso ali, se era eu, o Apolo ou a Thea que se encontrava com a nossa pequena deitada sobre ela. Provavelmente, todos estávamos muito emocionados naquela ocasião, principalmente quando o médico nos deu a tesoura e decidimos os dois cortar juntos o cordão umbilical.
APOLO
Depois que os técnicos ajeitaram nossa pequena e Theodora, eles saíram do quarto nos deixando a sós para termos um pouco mais de privacidade naquele momento lindo ao qual nos encontrávamos.
— Me preparei tanto para essa hora. Tinha até separado minha câmera favorita para registrar todas as etapas do parto, mas tudo aconteceu de modo tão repentino e inusitado — comentei acariciando as costinhas de Alicia que se encontrava colada a mim, pele com pele em meu peito.
— A vida é assim mesmo, Mozão. Totalmente imprevisível. Agora dá um sorrisão para cá, amor — disse Jacob, fazendo com que eu erguesse o rosto e o encarasse, vendo que o mesmo estava com o celular nas mãos segundos antes do flash da câmera piscar, quase me cegando.
— Ursinho, não precisa pôr o flash para tirar foto. Está claro o ambiente — avisei.
— Desculpe, Mozão. O fotógrafo da família é você e não eu — ele falou rindo baixinho já se aproximando de mim e se agachando ao lado da cadeira de rodas onde eu me encontrava — Nossa filha é tão linda.
Concordei admirando Alicia à medida que Jacob acariciava seu rostinho e depois passou a brincar com a mãozinha dela, todo babão assim como eu estava também. Já Thea se encontrava capotada, dormindo na cama após ter se esforçado tanto durante o parto.
Jacob e eu estávamos almoçando depois de descansarmos um pouco também quando ouvimos Theodora murmurar um "Oi" então olhamos em direção ao leito. Ela parecia ter restaurado suas energias, pois seu semblante estava mais corado e alegre.
— Oi, Bonequinha — nós dois falamos juntos fazendo Thea dar um sorriso enquanto se ajeitava melhor o leito, sentando-se.
— Meu Deus, que fome!
Sorrimos e Jacob se levantou do sofá, pegando uma sacola menor do restaurante que ele tinha ido comprar nossa comida e colocando as guarnições sobre a mesinha de leito.
— Ainda bem que eu fui comprar comida mais cedo — ele informou rindo, possivelmente da cara esfomeada que a Theodora fazia à medida que via o que nosso Ursinho havia trazido.
— Não vai nem perguntar pela Alicia? Que mãe mais desnaturada — brinquei quando a vi atacar as guarnições, começando a comer.
— Sei que ela está bem... — ela retrucou de boca cheia, fazendo com que eu e Jacob ríssemos — ...porque se não tivesse vocês já teriam me dito, então deixa eu matar minha fome em paz, Mozão.
— Não implique com a Bonequinha, amor — pediu Jacob sentando-se ao meu lado no sofá.
— Ginger vem mais tarde com meus pais. Eles estão ansiosos para paparicar a mais nova netinha deles.
— Nem me fale. Eu mandei as fotos para minha mãe e ela ficou louca. Já estava até dizendo que a Alicia tinha meu nariz quando eu era um bebê também.
Ri, balançando a cabeça.
— Minha sogra está passando tempo demais naquele salão de beleza, sentindo o cheiro forte daqueles produtos para o cabelo.
— Ou talvez não. Eu li por aí que filhos adotivos acabam pegando o jeito dos pais que os adotaram. Quando eu conheci vocês, eu estava com poucos meses. Vai que ocorreu algum tipo de mutação durante o resto da gravidez e a nossa filha acabou ficando com as características físicas dos dois — Thea comentou dando de ombros enquanto terminava de almoçar.
— Eu como médico, digo que é impossível.
— Depois de conhecer uma esfomeada que entrou nas nossas vidas que nem um furacão, abalando nossos sentimentos e nos dando a oportunidade de ter duas filhas de uma só vez, eu posso dizer que acredito no impossível, Ursinho.
Jacob me abraçou pelos ombros, concordando também. De repente, uma técnica de enfermagem adentrou o quarto, sorrindo e pedindo licença.
— Olha quem veio ficar com a mamãe e os dois papais dela — ela disse com a voz meio infantil se aproximando da cama com a nossa pequena nos braços já banhada, cheirosinha e vestida com uma roupinha que o Jacob acabou tendo que comprar quando foi atrás do nosso almoço.
O Ursinho acabou por ajudar Theodora, já que devido à minha perna eu não me encontrava me locomovendo tão bem, tirando a mesinha de perto do leito para que ela pudesse pegar Alicia no colo, recebendo em seguida as orientações necessárias para que ela conseguisse amamentar nossa pequena, que seguido a técnica havia comido bem pouco o leite lá no berçário e que talvez Alicia precisasse pegar o peito para se acostumar com o leite.
Com um pouco de dificuldade, me levantei do sofá e peguei meu celular já entrando no modo fotógrafo e tirando inúmeras fotos daquele momento emocionante.