APOLO
Com o passar das semanas, Ginger conseguiu ir se adaptando bem a nós e a nossa rotina. No dia seguinte, após conversarmos com o nosso advogado, o mesmo finalizou o processo de divórcio e entrou com o processo de adoção e com o da guarda provisória da nossa nova filha.
Ficamos com medo de não conseguirmos a guarda provisória logo e da Gi ter que ficar em um abrigo ou orfanato até que obtivéssemos a guarda dela, mas graças a Deus temos um excelente profissional trabalhando do nosso lado.
O Dr. Sender conseguiu, por meio de brechas jurídicas, fazer com que Ginger ficasse conosco, como lar temporário, até a decisão da juíza sobre a guarda provisória, que ocorreria dentro de uma semana.
O mesmo alegou que a menina estava em condição de risco de vida e que pela nossa situação financeira muito boa, poderíamos dar um nível maior de proteção a ela do que se a mesma fosse para um orfanato ou um abrigo. Dentro dessa mesma semana, todos nós passamos por entrevistas com uma psicóloga e um psiquiatra para sermos avaliados.
Uma pessoa responsável pelo Juizado da Infância e da Juventude também veio em nossa casa para inspecionar que tipo de acomodações estávamos dando para a Gi.
Pela expressão da senhora, a mesma saiu satisfeita com o quarto que tínhamos montado, às pressas, e nos informou que precisaríamos fazer um curso de preparação psicossocial e jurídica, de duração de duas semanas, para que o mesmo fosse anexado ao processo de adoção.
Em meio ao curso, ocorreu a audiência com a juíza que decidiu que poderíamos ficar como pais provisórios da Ginger durante os dois meses em que ia se estender o processo de adoção, até que finalmente fosse feito uma nova audiência para a guarda definitiva.
Mesmo preocupados com a possibilidade de recebermos uma negativa para a adoção da nossa nova filha, devido ela ter o irmão como parente vivo, mesmo ele estando preso e sendo uma pessoa de má índole, deixamos de lado essa preocupação e estamos curtindo o chá de bebê da Thea.
O tema da festa era Arco-Íris e Unicórnios, e nós quatro estávamos vestindo roupas com cores que combinavam tanto com a decoração do salão de festa do clube de golfe, que a minha sogra era associada, quanto com o bolo da festa.
Eu me encontrava de terno azul claro, já Theodora estava linda com um vestido com todas as cores do arco-íris, Jacob vestia um terno lilás claro e Ginger usava um vestidinho juvenil da mesma cor do meu terno.
Devido ter tido brigas passadas entre nós três com relação ao nome que iríamos dar para a nossa princesinha, deixamos que os convidados escolhessem. Junto com o convite, foi um card com as três opções de nomes para que eles votassem, trouxessem no dia da festa e colocarem na urna rosa, que ficaria na entrada do salão.
Já sobre a decoração do quarto da neném, acabamos decidindo na semana passada, que compraríamos um bercinho no estilo moisés e colocaríamos em nosso quarto, pois o de hóspede, que inicialmente foi da Thea e que iria ser da nossa princesa, passou a ser o quarto da Gi.
— E chegou a hora de sabermos qual será o nome dessa princesinha que irá nascer logo – falei ao microfone, sorrindo, com a mão repousada sobre a barriga da Theodora, que estava em pé ao meu lado, então olhei para Jacob, que se encontrava com a urna em mãos – Faça as honras, querido.
— Me ajuda, filha? – ele indagou, se virando para Ginger, que assentiu, dando um sorriso.
Jacob, assim que conseguimos a guarda provisória, passou a chamar a Gi de "filha", e isso logo se estendeu a mim e até a Thea a chamava assim também, na maioria das vezes. Assim que eles terminaram de fazer a contagem dos votos, Jacob se aproximou e me entregou o resultado.
— Ih, parece que deu empate – informei, rindo – Dos 130 votos, os nomes Jasmine e Alicia tiveram 48 votos cada. Já o nome Evelyn ficou com 34 votos. Parece que vamos ter que fazer uma votação extra agora.
— Não precisa, Mozão – Theodora falou, já pegando o microfone da minha mão – O nome da nossa princesa vai ser Alicia Jasmine Smith Greedy.
Logo uma salva de palmas ecoou pelo salão.
— Achei muito grande. Vou chamar ela só de Ali, já aviso logo – Ginger comentou, fazendo todos nós rir.
Íamos dar sequência a festa, mas Adrian se levantou de sua cadeira e se aproximou de nós, perguntando se poderia dizer algumas palavras. Assentimos, pois vimos que o mesmo desde que havia chegado ao chá de bebê se encontrava bem sério, mas às vezes o notamos com uma expressão meio angustiada.
— Oi! Boa tarde, pessoal – Adrian disse, assim que eu dei o microfone para ele – Espero não atrapalhar esse momento dos meus amigos. E parabéns pelo lindo nome escolhido para a filha de vocês.
Nosso amigo deu um meio sorriso para a gente, e eu achei o mesmo bem triste.
— Ontem eu tive uma discussão bem séria e feia com a minha esposa, e essa briga me deixou muito mal mesmo. Eu não queria fazê-la sofrer tanto como a fiz por todos esses meses...
"Caraca! Será que a Karina descobriu o caso dele com o Alexos?" indaguei, pensativo e olhei de relance para ela, vendo a mesma bem séria, sentada à mesa com a filha e nossos amigos Ray e Naomi, com a filha deles.
— ...e até tinha decidido que não iria fazer o que estou prestes a fazer, mas então minha princesinha, que só tem sete anos, mas que pensa e entende as coisas como uma pessoa madura, chegou para mim e disse "Papai, não fica triste. Eu sei sobre o senhor e eu te amo, o senhor sendo quem for e gostando de quem for. O senhor sempre vai ser o meu herói e eu nunca vou deixar de te amar".
Adrian parou subitamente de falar, respirando fundo e limpando os cantos dos olhos, emocionado.
— Isso me fez perceber que a única opinião que importava, era a da minha filha e eu descobri que ela me apoia totalmente. Então, eu criei coragem de vir aqui hoje, perante nossos amigos e conhecidos, e dizer que eu sou Bissexual...
"OMG! O Adrian está se assumindo, finalmente!" pensei, feliz, por ver meu amigo finalmente se aceitando como era, o que por experiência própria, eu diria que é uma coisa bem difícil de se fazer.
— ...e que eu me apaixonei perdidamente por outra pessoa, com quem eu vinha mantendo um caso a quase dois anos – ele confessou e a maioria dos convidados ficaram mais em choque ainda, com mais aquela revelação – Eu não sei se essa pessoa quer ser exposta aqui e agora, mas eu quero dizer a ela que eu a amo muito e quero ela em minha vida para sempre.
Eu não sabia para quem olhar, se era para a Karina, que estava soltando fogo pelas narinas, ou se era para o Alexos, que tinha se levantado da cadeira dele e havia se aproximado do Adrian, puxando o mesmo pela blusa, tascando nele um beijo digno de Hollywood.
THEODORA
O beijo do Alexos e do Adrian pegou todo mundo de surpresa, mas eu estava adorando, então eu gritei um "Uhuul! Isso aí. Vocês arrasaram, seus lindos!" e comecei a bater palmas, sorrindo feliz pelo momento deles. De repente, a esposa do Adrian se levantou putaça da vida de onde a mesma se encontrava sentada, chamando a atenção de todos no salão de festa.
— ISSO TUDO É CULPA DE VOCÊS! – ela gritou apontando para nossa direção, mas eu sabia que Karina estava se referindo ao Jacob, ao Apolo e ao Alexos – VOCÊS QUE INFLUENCIARAM E CONTAMINARAM O MEU MARIDO COM ESSAS GAYZICES! ELE ERA HOMEM ANTES DE CONHECER VOCÊS! HOMEM!
— Eu continuo sendo homem, Karina. Não mudei de sexo – Adrian murmurou, abraçado à Alexos, e eu achei os dois bem fofos, mesmo com toda aquela situação desastrosa acontecendo.
— VOCÊ É UM VIADO, SEU FILHO DA PUTA DESGRAÇADO! – ela gritou, avançando para cima dos dois, mas Adrian se desvencilhou do Alexos e segurou a Karina – VOCÊ NUNCA VAI SER FELIZ COM ESSA BICHA AÍ! NUNCA! TÁ ME OUVINDO?!
— Alguém tira essa louca daqui, por favor! – Ethan exclamou por cima da gritaria da Karina.
— Mamãe, pare! A senhora está magoando o papai – Zoe falou, meio chorosa sendo amparada pelos Ferraro.
— Venha, Karina. Vamos te levar para casa para você poder se acalmar – Ray Ferraro informou, já se aproximando dela.
Karina então se soltou do Adrian ou ele a soltou, não deu para eu ver direito.
— TODOS VOCÊS DEVERIAM SER EXTERMINADOS! O MUNDO SERIA BEM MELHOR SEM ESSA MERDA DE GAY!
"Ah, não! Agora ela passou dos limites" pensei com raiva, já avançando e grudando no cabelo loiro platinado dela, mandando o meu autocontrole para outro planeta.
— CALA A BOCA, SUA HOMOFÓBICA DO CARALHO! EU VOU TE DAR UMA LIÇÃO QUE VOCÊ NUNCA VAI ESQUECER! – gritei, atracada a ela, que tentava se defender de mim, porém logo me afastaram da louca – ME LARGA! DEIXA EU DAR UMAS PORRADAS NESSA PRECONCEITUOSA ARROMBADA!
— Se acalma, Bonequinha. Você está grávida de quase oito meses – Apolo pediu, me afastando mais do alvoroço, porque Karina queria vir me bater de volta.
— FODA-SE! ELA TAVA DESEJANDO A MORTES DE VOCÊS, POIS QUEM VAI MORRER NA PORRADA VAI SER ESSA FILHA DA PUTA! MEXEU COM VOCÊS, MEXEU COMIGO TAMBÉM!
— Nós sabemos. Mas agora se acalme. Esse estresse todo não fará bem para nossa filha.
Resmunguei contrariada, mas tentei me acalmar à medida que tiravam a Karina do salão. Mesmo a contragosto da mãe, Zoe disse que queria ficar ali na festa com o pai e a doida foi obrigada a aceitar, não antes de jogar praga de novo no relacionamento do ex-marido.
Demos total apoio para os nossos amigos e tentamos seguir com o chá de bebê o mais descontraído que conseguimos.