"O destino é o que baralha as cartas, mas nós somos os que jogamos."— William Shakespeare
Parte I
Pandora: Novo Tempo, nova vida.
Passei muito tempo achando que minha vida é perfeita. Que eu tinha tudo e todos que precisava para ser feliz, e que isso bastava, eu não precisava de mais nada porque tudo ia a mil maravilhas.
Até que o grande momento chegou. Aquele momento em que eu percebi que toda aquela felicidade era uma verdadeira mentira, e isso aconteceu depois de uma traição dupla, sim porque quando você pega o seu namorado e sua melhor amiga juntos na mesma cama já se torna uma traição dupla.
Isso aconteceu á dois dias, e eu ainda estou feito a Bridget Jones, comendo todos os doces calóricos existentes no universo e chorando ao som de musicas tristes que eu obviamente coloquei no repete só pra realmente ferrar com tudo de uma vez.
E essa sou eu, Olívia, a dramática das dramáticas, mas tenho certeza que daqui a alguns dias tudo isso vai acabar e eu vou entrar na melhor academia da cidade só pra esfregar na cara daqueles cretinos o quanto eu estou bem, mas isso vai ter que esperar até a semana que vem, se possível, apenas na sexta.
Ouvi meu celular tocando e bufei. Não queria atender, mas ao ver o número desconhecido a curiosidade me venceu.
— Alô?
— Oi, eu me chamo Emma, sou responsável pelo castelo de Pandora, e todos os lugares daqui, e eu recebi uma indicação de um amigo que disse que você restaura muito bem as antiguidades e eu precisava muito da sua ajuda.
Pandora! Nossa esse lugar não ficava muito longe da onde eu morava e poder restaurar as coisas que tinham naquele castelo seria como um sonho!
— Nossa mas você me ligou num ótimo momento. Fico até lisonjeada por você me convidar, sei que muita gente ia querer essa chance.
— Bom, eu te mando as coordenadas por E-mail, fico feliz demais que você tenha aceitado. Até depois, e muito obrigada.
Me despedi rapidamente e deixei todo aquele chocolate de lado.
Era aquilo que eu precisava! Uma completa mudança de vida, porque eu iria ter de ficar por lá por pelo menos um mês ou mais. Quem sabe eu não me afeiçoava pela cidade e ficava por lá mesmo? Eu já tinha feito tantas mudanças ao longo da vida...
Isso me fez lembrar dos anos que vivi no orfanato. Acabei vivendo por lá até os dezoito anos e logo após isso tive que tomar o rumo da minha vida. Eu nunca fiquei me perguntando porque meus pais me deixaram ou porque ninguém nunca quis me adotar, sempre tive uma mente muito bem resolvida quanto a esse assunto e sei bem que o meu futuro seria bem melhor que aqueles anos de solidão. Por isso assim que saí de lá eu fui atrás de um emprego, e estudei muito para conseguir uma bolsa na faculdade, lá eu cursei história da arte. Nunca entendi bem o porque mas sempre amei coisas antigas e por esse motivo acabei me apaixonando ainda mais pelo curso.
Na faculdade eu sempre era a melhor, me esforçava até além da conta, e isso me rendeu bons frutos, consegui várias empregos aqui e ali, mas essa oportunidade de restaurar os objetos do castelo de Pandora é realmente um sonho profissional.
Tratei de começar a arrumar a minha mala para que no dia seguinte eu pudesse mudar a minha vida rumo a Pandora.
****
Minha cabeça parecia mais uma britadeira conforme eu dirigi meu carro pelas ruas de Pandora. A imbecil que vos fala acabou bebendo um vinho para comemorar o novo trabalho e agora minha cabeça doía pra caramba. Não entendo essa minha ideia de encher a cara na outra noite quando eu sabia que teria de viajar, mas enfim, eu estava muito feliz pela oportunidade que me ofereceram.
Enquanto eu ouvia uma musica tocar no rádio, fiquei prestando atenção na paisagem, aquele lugar era lindo. Montanhas e árvores decoravam tudo ao redor, e parecia que ali o tempo tinha parado, já que prédios eram quase que inexistentes, o que eu mais via eram casas de um ou dois andares.
Acabei parando numa das pensões e me registrei logo em seguida. Não trouxe muita coisa comigo, apenas uma mala, a mulher pequena e gordinha da recepção ficou muito feliz ao me ver, parecia que a cidade não tinha muitos turistas.
— Nossa que maravilha ter você por aqui, nessa época do ano é muito difícil termos hospedes. — Comentou, enquanto entravámos no quarto.
— Vou ficar aqui por pelo menos umas três semanas, eu fui convidada para restaurar alguns objetos do castelo do rei Dimitri.
— Nossa finalmente eles decidiram restaurar! Tem tantas peças bonitas naquele castelo, á uns 40 anos atrás ele deixavam que os turistas visitassem o castelo, mas depois que um colar da princesa Katherine foi roubado eles decidiram fechar completamente o castelo. Você está sendo muito privilegiada por poder ir lá.
— Sei disso. Amo muito tudo que diz respeito a antiguidade, fiquei morrendo de felicidade quando me convidaram.
— Bom, eu vou ter que voltar para recepção mas se você quiser pode dar uma olhada na ultima gaveta da cômoda, tem um livro falando sobre o reinado do Rei Dimitri, acho que você vai se interessar.
Sorri animada.
— Obrigada, vou ler com certeza!
A mulher sorriu também e saiu do quarto fechando a porta levemente. Aproveitei para ligar para a Emma, a mulher que tinha me contratado mas ela disse que infelizmente só iam poder abrir o castelo na manhã seguinte. Fiquei um pouco decepcionada mas não reclamei, afinal eu já tinha conseguido o trabalho.
Acabei cochilando por algumas horas mas assim que acordei a curiosidade de olhar o livro que a mulher tinha dito me venceu, fui direto para a cômoda e peguei o livro, que tinha na capa a frase "A verdade sobre o reinado de Pandora", comecei a folhear o livro e me surpreendi logo de cara.
"Depois do desaparecimento da princesa Katherine, o rei Antony acabou morrendo e o posto foi ocupado pelo irmão dele, Dimitri. Sendo assim um novo marco para Pandora, já que o Rei Dimitri não foi muito bem aceito pela população. Vários protestos eram feitos em frente ao castelo, mas depois de algumas noites as pessoas pararam, já que algumas mortes aconteceram, e as pessoas ficaram em suas casas com medo de protestar e incertas sobre o futuro de Pandora. Os gastos do rei Dimitri foram aumentando a cada dia, ele era muito extravagante e gostava de tudo muito perfeito, ouro é o que não faltava nos ambientes do castelo. Alguns dos criados se revoltaram contra o rei e saíram do castelo indo trabalhar em outras cidades, e a população foi seguindo esse rumo, fazendo com que a economia fosse decaindo e o rei acabou passando por uma forte crise..."
Parei de ler e me senti revoltada, aquele Dimitri não devia valer nada, acabar com o dinheiro dos súditos e ainda por cima mandar matar as pessoas que protestavam sobre o reinado dele!? Pelo que eu soube depois da morte dele como não haviam herdeiros e foi abolida a monarquia de Pandora, isso deixou a população muito feliz, mas eles continuavam quebrados na economia, fizeram vários acordos com outros países, mas até hoje não se recuperaram.
Decidi descer até a recepção e comer um pouco já que a hora do jantar tinha chegado a um bom tempo.
— Boa noite. Olívia é o seu nome, certo? — A mulher perguntou.
— Sim. O que a senhora está fazendo? — Perguntei me sentando ao seu lado.
Ela estava sentada em frente a uma mesa redonda, onde haviam várias cartas, pelo que eu pude entender eram cartas no estilo tarô.
— Tenho um dom muito poderoso com tarô, já é de família, minha bisavô era cigana e minha mãe me ensinou quando eu era nova como você. Quer que eu veja a sua sorte?
Eu não acreditava naquelas coisas, mas nunca se sabe, então resolvi aceitar.
— Claro, porque não. — Respondi dando de ombros.
Ela me fez escolher três delas e uma me chamou atenção não de um jeito bom, já que era a morte.
— Não se preocupe. A morte nem sempre significada isso que você está pensando. Na verdade significa a mudança, a renovação. Algo novo e importante vai acontecer na sua vida.
— Bom, meio que já aconteceu. Esse meu novo emprego e eu ter saído de Londres e ter vindo para Pandora.
Ela sacudiu a cabeça.
— Não querida. Algo de muito importante está para acontecer, a carta somente diz que você tem que estar preparada. A próxima é a roda da fortuna, que indica novamente a mudança, mas que você tem que tomar cuidado com todos a sua volta, traições estão propensas a acontecer, e eu não digo sobre relacionamentos, é mais como se alguém quisesse tirar você do caminho.
— Nossa, mais traições! - Falei exasperada.
— Bem, é o que a carta disse. Essa ultima é a melhor de todas, se chama Enamorados. Parece que você vai se apaixonar por alguém, e mesmo que alguns empecilhos estejam no caminho esse amor vai prevalecer. È algo puro e verdadeiro, que será reciproco.
— Nossa, tomara que essa carta esteja errada. Não quero ninguém na minha vida, acabei de sair de um relacionamento e quero ficar sozinha, se apaixonar é algo que seria muito ruim para mim no momento.
— Bom, Olívia, há coisas que acontecem para o bem. Agora me deixe servir o seu jantar ou vamos ficar falando sobre cartas a noite toda.
****
No dia seguinte eu acordei bem cedo, tomei o café da manhã maravilhoso da dona Anna, e fui direto para o castelo, novamente eu fiquei maravilhada com as paisagens da cidade. Assim que cheguei ao castelo um sentimento estranho me abateu, como se eu já tivesse estado lá antes, como um déjà vu, um arrepio estranho subiu por minha coluna, mas acabei me distraindo ao ouvir a voz da mulher que tinha me contratado.
— Olívia, estávamos ansiosos com a sua presença, faz tempo que estamos de olho no seu trabalho. — Emma me cumprimentou, sorrindo.
— Obrigado. Fico feliz demais com a oportunidade. Mas se não for pedir demais o que eu queria ver primeiro é o quarto da princesa Katherine, todos dizem que desde o desaparecimento dela o quarto foi mantido trancado, eu fiquei morrendo de curiosidade.
— Claro que sim, acho que se fosse você eu ia querer o mesmo, só que já vou logo dizendo que não é nada demais. Na verdade está todo empoeirado.
— Não me importo com isso, mas vamos logo por favor, estou ansiosa a muito tempo.
Ela sorriu e me conduziu pelo castelo, era tudo muito lindo, mas empoeirado e velho pelo tempo. Duvidava muito que fosse visitado com frequência. Depois de subirmos três andares finalmente chegamos ao quarto da princesa.
Realmente tudo estava mal conservado, mas o que eu senti ao entrar lá foi diferente do que eu imaginava, o que eu senti foi um sentimento como se aquele fosse o meu quarto, como se tudo ali fosse familiar de alguma forma. Era muito inexplicável, e em conjunto nisso tudo eu senti um aperto no peito muito forte, algo que eu sentia raramente.
— Gostou do quarto? — Emma perguntou.
— Esse quarto realmente é de uma princesa, ouro para todo lado, aposto que essa princesa se esbaldou com tanto conforto. — Comentei admirada.
— Realmente. Apesar da princesa Katherine ter desaparecido ainda muito nova, ela teve muito conforto, alguns livros até dizem que ela era muito mimada e o pesadelo dos empregados.
— Bom, eu imagino que se ela tivesse governado Pandora teria sido ainda pior do que o que foi com o tio dela. Acho que a Katherine deve ter sido a reencarnação da Maria Antonieta, que só fez besteira e gastava pra caramba durante o reinado.
Emma deu risada.
— Bom, vamos sair daqui, quero te mostrar os outros cômodos.
Ela me mostrou vários lugares do castelo, e aquela sensação de Déjà vu me perseguiu durante todo o trajeto. Algum tempo depois acabamos por voltar aos jardins, e bem distante do castelo havia uma casa pequena e velha pelo tempo, acho até que devia ter sido feita no século XIX.
— Emma, aquela casa de quem é? — Pergunto com curiosidade.
— Era um dos lugares preferidos da Rainha. Ela ficava ali o tempo todo, longe de tudo e todos. Diziam que ela odiava a exposição que tinha e só ali se sentia ela mesma, ela era uma ótima pessoa, uma pena que morreu no parto da princesa Katherine.
— Então ela não amava o rei? Porque se ela amasse já deveria saber que se envolver com ele traria muita exposição e só amando para passar por cima dessas coisas.
— Bom, pelo que eu sei o casamento deles foi arranjado como todos daquela época. Dizem que o rei tentava de todas as formas fazer com que ela amasse ele, a enchia de joias e tudo que fosse possível, mas ela continuava triste e depressiva.
— Nossa! Será que eu posso ir lá? Só para ver como é?
— Claro, mas como estamos um pouco longe, eu vou ter que avisar ao segurança. Vai que ele pensa que é alguma outra pessoa. Eu te entrego a chave e você vai lá primeiro enquanto eu aviso.
Assenti e peguei a chave, observei enquanto ela andou em direção ao carro e pegou o celular para ligar para o segurança.
A curiosidade me venceu e eu fui andando a passos largos até a casa. Tive que fazer uma pressão na porta para conseguir abrir e quando entrei lá fiquei surpresa. Apesar do castelo ter ficado velho pelo tempo, aquela casa estava intacta, com poeira em alguns lugares, mas muito conservada.
Sofás no estilo vitoriano com forro em vermelho era o que ocupava a parte em que eu supus que era a sala. Comecei a fuçar em tudo, até que achei um espelho, era lindo, dourado e mostrava meu reflexo até o meio do corpo. Cheguei mais perto e vi que estava escrito algo na parte de cima, assoprei para tirar um pouco da poeira e pude ler a frase. "Os reflexos mostram a verdade, até aquela que você não está preparada para ver."
— Quem foi o idiota que escreveu isso? — Sussurrei para mim mesma.
Mas ao mesmo tempo em que eu me fiz aquela pergunta, algo estranho aconteceu.
Senti como se tivesse caído num abismo escuro, e não tivesse controle sobre o que estava acontecendo. Depois de sentir como se tivesse caído no chão eu abri os olhos, mas eu fiquei paralisada por tudo ao meu redor estar completamente diferente do que estava até segundos atrás.
Se puderem, deem uma olhada na minha história: " A Assassina Do Rei", é parecida com esta e tenho certeza de que irão gostar!