Asp. - Hiatus

Por IsaOliv

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Você é o som da minha canção, é a calma dos seus braços, a dor das minhas feridas. Você é o meu sol. Seja o... Más

Prólogo
Capítulo 01
Capítulo 02
Capítulo 03
Capítulo 04
Capítulo 05
Capítulo 06
Capítulo 07
Capítulo 08
Capítulo 09
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
.
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
A Trilogia - fragile
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Oi
Capítulo 28
Capítulo 29

Capítulo 23

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Por IsaOliv

"O eco, tão longo quanto o equador, viaja através de um mundo de raiva construída tarde demais para se endireitar agora. [...] Falhas tremem debaixo de nossa casa de vidro, mas eu tirei isso da minha mente tempo suficiente para chamar de coragem, para viver sem um plano."
– Sleeping At Last,
Earth (Terra)

Narrado por Alyce

Eu não sei porque o céu rosa me acalma. Acho que é porque eu vejo algo que é constante, que todos os dias, na mesma hora, está do mesmo jeito, independente do que aconteça ao seu redor – ou, no caso, embaixo dele.

Os pingos grossos da chuva me molham por completo. Meu rosto está sendo massageado de forma deliciosa, e as minhas roupas já estão ensopadas. Olho para o que acontece atrás dos meus pés erguidos pelo chão, e vejo Axel ainda correndo pelo campo, atrás da bola que ele joga para lá e para cá. O que acontece é que ele se fez um desafio impossível, eu disse isso para ele, mas ele não me deu ouvidos e acha que vai conseguir realiza-lo. Ele joga a bola o mais forte que consegue para o outro lado do campo de futebol, e tenta pegá-la antes que ela caia no chão.

Quando finalmente olho para o lado, encontro Owen de olhos fechados enquanto a chuva molha o seu rosto e o cabelo escuro está grudado na sua cabeça. Eu quero pedir para que ele abra os olhos e me deixe ver as íris de carvão que me encantaram, mas não faço isso porque ele parece mais relaxado do que nunca.

– Obrigada. – digo, esperando que ele não me ouça e continue da mesma forma – Você faz com que eu me sinta normal.

Owen, de repente, vira o rosto em minha direção. Seus traços estão fechados e sérios, diferente do que eu esperava. Na verdade, eu esperava que ele não me ouvisse por causa do som alto que a chuva faz.

Engulo em seco e desvio o olhar para um Axel que desconta as suas frustrações na pobre bola de futebol americano.

– Não quero que você se sinta normal, Alyce. Você não é normal, por que deveria se sentir assim? – as suas palavras me espantam e fazem com que eu o olhe com uma surpresa negativa.

– Eu não esperava isso de você. – me sento e ouço o barulho da chuva diminuir. Está começando a ficar frio e eu me arrependi de ter convencido Owen de aproveitar a chuva comigo e o seu irmão.

Eles brincaram de diversas coisas diferentes e, no começo, eu tentei acompanhá-los, mas acabei desistindo depois de dez minutos, porque não mando muito bem em brincadeiras que precisam de uma trabalhar a coordenação motora, então me sentei na arquibancada e passei a observá-los rindo e se divertindo, e, quando começou a chover, Owen quis correr para um lugar coberto com medo de que Axel pudesse pegar uma gripe, mas acabei conseguindo convencê-lo a nos deixar aproveitar a chuva e a fazer isso conosco. Nós nos molhamos e corremos ao redor do enorme campo, e cansamos depois de poucos minutos, mas o garoto mais novo, não, e está brincando desde então.

Owen se senta também, e me olha com o cenho franzido.

– Eu... – o interrompo.

– Me desculpe, mas você me magoou. – meu lábio treme, ele ri fracamente e eu não entendo o motivo.

– Você é muito sensível, e não entendeu o que eu disse.

Owen pega o meu braço, que estava apoiado na grama verde, e move o seu dedão de forma circular na palma da minha mão. Então ele a solta e volta a me olhar com seriedade. Eu nunca achei que alguém pudesse ser sério o tempo todo, mas agora parece que esse semblante se encaixa com ele e não consigo o imaginar com outro, o problema é que eu não sei se ele está completamente são, e bipolaridade me assusta.

– Você não entendeu o que eu disse.

Eu me lembro de quando ele me disse que tinha uma síndrome, e de quando cheguei à conclusão de que ele disse aquilo para zombar de mim.

– Eu só quis dizer que você faz com que eu não me sinta tão diferente.

– Tão diferente?

– É.

– Eu já conheci pessoas com o espectro autista num grupo de apoio, e elas não se parecem muito com você, ou você com elas. – começo a me pronunciar, mas ele me interrompe. – Eu sei que não são todos iguais, antes que você diga isso, mas não encontrei nenhuma semelhança.

– É porque eu tenho a Síndrome de Asperger, é.... diferente.

Owen franze o cenho e eu me lembro de quando Cindy, a minha terapeuta, me disse que as pessoas fazem isso quando estão confusas. Eu explicaria a ele tudo o que envolve a minha síndrome, se ela não fosse minha. Não gosto de falar com os outros sobre mim.

– Acho que não a conheço. – eu percebo frieza em seu tom.

– Me incomoda falar sobre isso.

– Tudo bem, nós mudamos de assunto. – é tarde demais, porque já estou com os olhos marejados e a ponto de chorar. A chuva já parou, então eu não posso disfarçar e a usar como desculpa.

Cravo as minhas unhas nos meus antebraços e as arrasto até o meu punho, tentando me acalmar. A pele do meu braço fica vermelha, mas, felizmente, ele não nota isso porque estava encarando o irmão e conferindo se ele está bem.

Owen me olha e vê os meus olhos lacrimejados e vermelhos, mas eu me pronuncio antes dele.

– Me desculpe por ser tão sensível, eu nem sei porque estou chorando.

O de olhos noturnos faz uma careta bonita e estranha, e os seus olhos brilham de forma diferente.

– Alyce, eu quis elogiá-la dizendo que não era normal.

– Ninguém nunca me elogiou assim. – Owen balança a cabeça negativamente e me aperta de lado.

Depois que me recomponho, passo a tremer não pelo choro, mas pelo frio. Axel vem correndo até nós e diz que está tremendo de frio, quando pede para ir embora, o irmão confere as horas no relógio de pulso e chama um táxi.

~~~*~~~

Abro a porta e dou de cara com dois corpos as enormes, mas eu param quando me veem chegar. Alan e o meu pai param com o que estavam fazendo e me olham como se eu fosse um bicho de sete cabeças.

– Por que você está toda molhada? – meu pai pergunta.

– Por que vocês já estão aqui? Achei que fossem demorar mais. – ele fecha a cara.

– A Tia Ana morreu. – Alyson aparece no topo da escada segurando uma sacola – O velório já está acontecendo agora e a mamãe já foi para lá. Vai tomar banho, eu já separei a sua roupa.

– Qual das tias? E você sabe que hoje eu não uso... – nós distinguimos as nossas tias-avós pela cor dos seu cabelos, porque seriam quadrigêmeas idênticas se não fossem os cabelos, e isso inclui a nossa avó.

– Moletom. Eu sei. E foi a ruiva. – um peso parece ser tirado das minhas costas.

– Ufa, era a que eu menos gostava. – os dois homens arregalam os olhos e Alyson me repreende, dizendo que é algo feio de se pensar.

– Não diga isso lá, pelo amor de Deus.

– Tem razão, eu não pensei antes de dizer, desculpa.

Todos estão vestidos de preto e espalhados pelo cemitério grande. O velório já aconteceu e o meu pai e irmãos o perderam porque eu demorei demais para voltar para a casa, e ele aconteceu nesta tarde. Eu estou no fim da pequena multidão que caminha em direção ao lugar onde a minha tia-avó será enterrada, mas toda a minha família está no começo, e as minhas outras tias são as primeiras, que choram silenciosamente enquanto estão a caminho de ver a sua irmã pela última vez.

É inevitável não pensar no meu futuro. Eu não sei como reagiria a uma perca tão grande, não sei como seria sem os meus irmãos.

Alan me protegeu tanto dos outros que acabou achando que todos querem me fazer mal, e eu não o culpo por temer tanto que eu me machuque, porque ele sabe como eu fico quando estou machucada, mas ele faz o que pode para me agradar porque entende como me sinto sempre, só com um olhar. Alyson me entende em vários aspectos, e me apoia. Acho que é porque, mesmo com a síndrome de Asperger, no fundo, eu ainda sou uma mulher exatamente como as outras, que são idênticas e diferentes umas das outras, assim como ela.

Meus pensamentos viajam para o relacionamento de Owen e Axel, e eu vejo o quanto é parecido comigo e o meu irmão, ele o trata como se pudesse quebrar com o mínimo movimento, e teme que ele até corra sem que ele esteja olhando e se assegurando de que tudo vai ficar bem.

Uma mão toca no meu ombro e me acorda. Eu dou um leve pulo e me assusto, arregalando os olhos.

– Você me assustou. – digo para o senhor que me olha também assustado.

– Eu só ia dizer que os outros já estão lá na frente. – olho para onde ele aponta e vejo o meu pai e tios carregando o caixão da Tia Ruiva enquanto os outros os seguem, e vejo que estão muito mais à frente do que eu.

O senhor tem um olho azul e o outro castanho, segura uma pá com uma mão e, com o outro braço, carrega um buquê enorme de flores murchas.

– Você é cego de um olho? – pergunto e ele franze o cenho. Confusão – É que eu notei que as cores dos seus olhos são diferentes, e as pupilas também.

– Sim, eu sou. – sorri minimamente. Deve ser legal poder ter olhos diurnos e noturnos ao mesmo tempo.

– Você trabalha aqui? – aponto para a pá e as flores.

– Sim, há trinta e cinco anos. – sorri e estufa o peito.

– Ah... – ouço alguém chamar o meu nome ao longe, mas ignoro – Essas flores eram de algum morto?

– Sim, eu as peguei porque as troquei por flores mais novas.

– Por quê? O morto merecia isso? Se sim, por quê? E como você sabe disso? – eu esperava mais confusão vinda do velhinho, mas ele me lança um sorriso e balança a cabeça positivamente.

– Vem, eu vou te mostrar. – larga a pá desgastada no chão e me estende uma mão. Eu lanço um último olhar para a multidão que caminha devagar para o enterro da minha tia-avó.

Nós damos muitos passos de mãos dadas e eu às vezes ajudo o senhor a pular algumas covas que estão abertas esperando por novos caixões, porque ele parece cansado demais para isso. Quando finalmente paramos, estamos em frente a um túmulo que é mais bem cuidado que os outros.

– Essa é a Sara, ela morreu trinta e cinco anos atrás, quando eu comecei a trabalhar aqui. Na verdade, ela foi o motivo para eu começar.

– Era a sua esposa?

– Isso.

A sua lápide tem pinturas de flores lilases, e em cima do túmulo estão espalhadas rosas coloridas iguais às murchas que o senhor segura.

– Como ela morreu?

– No parto da minha filha. – arqueio as sobrancelhas e suspiro.

– Você quer um abraço? – ele sorri pequeno e nega com um aceno de cabeça.

– Obrigado, filha, mas não precisa. – dou um passo à frente e o abraço, porque me lembro de quando Alyson me disse que na maioria das vezes as pessoas negam abraços, mas apenas por educação.

Me afasto rapidamente do senhor porque vejo algo ao longe que me chama a atenção.

– Por que naquele mausoléu* está escrito Atlas? É da família Atlas?

– Sim.

– Eu posso entrar?

– Desculpa, mas só a família pode permitir isso.

– Ah, tudo bem. É que ele é o maior que eu já vi. – não que eu tenha visto muitos.

É noite e todas as luzes do cemitério foram ligadas e tudo está bem iluminado, mas o mausoléu da família Atlas está escuro e isso justifica o porquê de eu não tê-lo notado antes.

– É o maior que eu já vi também. É uma pena. – ele suspira de forma triste.

– Por quê?

– Você conhece os Atlas, minha filha?

– Acho que sim. – coço a nuca.

– Então sabe da doença, certo? – doença?

Nós ouvimos passos se aproximando e, quando olho para trás, vejo quem eu menos esperava.

Ian vem caminhando em nossa direção com uma sobrancelha arqueada. Alyson me disse que ele viria para acompanhá-la, mas eu nem me lembrava disso.

– Alyce, a sua irmã pediu para eu vir te chamar. – assinto, mas a minha língua está coçando para perguntar se ele é doente – Boa noite, senhor Carlos. – ele cumprimenta o coveiro como se fossem velhos companheiros, e eu controlo a minha vontade de bombardeá-lo com perguntas apertando a barra da minha blusa, mas sei que ele viu a minha curiosidade quanto ao mausoléu e espero que esteja disposto a me responder noutra hora.

O céu rosa continua calmo e firme enquanto eu estou apavorada, e é como se ele dissesse que sou pequena demais comparada a tudo o que ele vê, que tudo continua no seu devido lugar e por isso não preciso me desesperar.

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* – monumento funerário de dimensões avantajadas, que abriga os despojos de um ou vários membros de uma mesma família
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o próx. capítulo já está pronto, ia postar os 2 como um presente de dia das crianças, mas eu também quero presente. qnd tiver um número bom de votos e comentários, eu posto o próximo
amo vcs, beijos

Queria aproveitar q estamos aqui e pedir pra vcs lerem a obra de um amigo. Ela é a adaptação da HQ super foda dele no formato de livro, e ele postou hoje mesmo (boatos de q vou postar mais rápido se vcs irem lá ler), é sobre um herói conhecido como Vetor e se passa aqui no Brasil (aeho, finalmente algo bom no BR)

o link é esse aqui embaixo, mas se não conseguirem acessar ele, é só irem no perfil dele (omegaverso) e encontram o livro lá

https://www.wattpad.com/story/123384397-vetor-introdu%C3%A7%C3%A3o-ao-caos-1-3

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