Capítulo 07

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"Gosto dessa definição: o abraço é o encontro de dois corações."
- Cazuza

Narrado por Alyce

  Eu nunca achei que fosse viver como uma adolescente normal, porque os meus pais e irmãos sempre me trataram de forma tão especial que eu mal sabia o que fazer quando tinha ficava sozinha por meros segundos, e por mais que alguns achem esse tratamento um barato, o meu maior desejo sempre foi me sentir comum um pouco. Uma das coisas que mais me incomodavam era o fato de não conseguir ler muito, porque, por algum motivo maldito, eu fico confusa demais depois de ler muitas palavras. É como se as letras que formam as palavras e as palavras que formam as frases começassem a deixar de fazer sentido e se embaralharem.

"Não me acordou. Está tudo bem." - Alyce Baker, às 23h37.

"Ainda bem, então. Enfim, como você soube o meu nome?" - Owen Atlas, às 23h37.

"Por que isso importa?" - Alyce Baker, às 23h37. Não quero dizer que perguntei para o meu irmão.

"Se me responder, talvez eu fale." - Owen Atlas, às 23h38.

"Eu perguntei pro meu irmão no dia que te ajudamos." - Alyce Baker, às 23h39.

"Por quê?" - Owen Atlas, às 23h39.

"Se me responder, talvez eu fale." - Alyce Baker, às 23h39.

  Eu estou sorrindo e meu estômago parece estar guardando uma festa de fogos de artifício, mas quando recebo a sua outra mensagem sinto extrema dificuldade para lê-la. Eu finalmente me lembro do sério problema que tenho com leitura.

- Droga... - murmuro, já sentindo vontade de jogar o meu celular no chão. As letras parecem sair de seus devidos lugares e eu não consigo entender nada do que a mensagem de Owen diz. Bato na minha testa e me sento na minha cama, pensando no que fazer.

  Sem saber se eu ferrarei com tudo ou não, toco na imagem pequena de um telefone, ligando para Owen. Enquanto ouço o barulhinho apavorante de que ele está recebendo a minha chamada, fecho os olhos com força e tento parar de sentir vergonha de mim mesma.

-Olá... - ele atende, obviamente confuso. Eu respiro fundo, decidindo se estou aliviada, encantada pela sua voz ou envergonhada.

- Aconteceu um pequeno problema e não consigo ler as suas mensagens. - digo para o telefone.

- Tudo bem. - ele diz, e o imagino sorrindo.

- O que dizia na sua mensagem?

- Que às vezes falam coisas ruins de mim, queria saber se não encheram sua cabeça com essas merdas. - a forma como ele fala me deixa um pouco surpresa.

- Que tipo de coisas?

- Não é a sua vez, Alyce? - não entendo, mas depois de alguns segundos pensando, me lembro que ele quer uma resposta para a sua pergunta.

- Eu disse talvez. - mal consigo me imaginar dizendo que estava interessada nele e nos seus olhos. Ouço ele suspirar, então fico com medo de se sentir decepcionado pela minha resposta - Eu queria saber quem é você. - fecho os olhos com força, agradecendo por não estar aqui.

Asp. - HiatusWhere stories live. Discover now