Capítulo 21

1.3K 201 158
                                    

"Eu te amo por sentir que seus braços formam a minha casa. O teu abraço é a minha morada em dias frios; e é quente. Calor é no que o meu coração se transforma de dor para o seu oposto, em segundos - temos nosso próprio milagre, você tem consciência disso?"
- Vitória Carara

Narrado por Alyce

Às vezes, a pior parte de ser como sou, é como os outros são.

Alan me disse uma vez que todos são diferentes, mas que há pessoas que tentam ser mais do que são, e que isso é mais do que comum, as que tentam ser especiais e julgam as que realmente são. Eu perguntei como é uma pessoa especial, então ele me disse "você". Pena (ou não) que Alan não ficou a tempo de me ouvir dizer que preferia não ser especial.

A água quente faz meus arranhões queimarem, e eu arrepio por inteiro. Estou vermelha dos pés à cabeça, mas não é pela temperatura da água ou coisa do tipo, e sim porque eu sou uma burra movida por impulsos.

Linhas rosadas sobem pelas minhas canelas até as coxas, então enfeitam a minha barriga, quadris e terminam nos meus braços, mas eu não desvio o meu olhar para elas nem por um segundo, o mantendo fixo nos azulejos grudados na parede. O box fechado faz com que o vapor suba e torne os meus cabelos mais úmidos ainda, e num outro momento eu ligaria para isso.

Estou ensaboando os meus braços ainda olhando para a parede quando a minha irmã abre a porta de repente e entra no banheiro. Eu me viro de costas instantaneamente, não por vergonha, mas porque ela não pode ver os arranhões que fiz em mim mesma.

- Ah, desculpa, eu não sabia que você estava aqui. - diz, antes de fechar a porta e trancá-la. Eu sei que é mentira porque o chuveiro pode ser ouvido muito bem do lado de fora, e porque ela nem faz questão de tentar disfarçar. Eu tranquei apenas uma porta do banheiro compartilhado e agora me arrependi de ter sido tão descuidada.

Limpo a garganta, mas é óbvio que Alyson não vai me dar licença. Ela abre o pequeno armário em cima da pia e pega uma pequena bolsa de mão, antes de começar a se maquiar.

- Eu vou sair com o Ian. - isso não é uma novidade - Vou conhecer a família dele. - então entendo porque ela está aqui, e não se maquiando no seu quarto como o de costume.

- Ah, e como você está? - eu não estou com muita vontade de conversar sobre ela e o seu namorado, confesso.

- Eu sei que você não está com muito ânimo ultimamente, mas eu estou muito empolgada e preciso conversar com alguém. E eu achei que você fosse querer saber, porque também é a família do Owen.

- Isso não muda nada para mim, mas eu espero que gostem de você. Na verdade, tenho certeza que vão. - a minha voz é atrapalhada pelo som do chuveiro.

- Eu espero que sim. - eu sei que tudo entre ela e Ian está indo rápido demais, mas nunca vou dizer isso, sei que está feliz com ele, também.

Mais alguns minutos comigo de costas a ela, então finalmente termina de fazer a sua maquiagem e me deixa sozinha. Fecho o chuveiro e pego a toalha jogada sobre o vidro do box.

Em cima da minha cama está um jornal dobrado esperando por mim, que foi deixado por Alan, como ele faz quase todas as semanas. Visto um conjunto de moletom qualquer, pego o jornal e vou para a sala.

Eu estou sozinha como sempre, mas isso não me incomoda; os gêmeos já deixaram de fazer coisas demais só por mim.

Me sento no sofá e ligo a Tv, deixo no canal onde passa a série que nós sempre víamos, Law & Order: SVU. Geralmente nós apostávamos sobre os vilões dos episódios do seriado, que fala sobre casos de crimes sexuais e seus investigadores, e eu quase sempre ganhava.

Asp. - HiatusOnde as histórias ganham vida. Descobre agora