Capítulo 10

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"O rosto contra o peito, dois corpos em um amasso,
d
ois corações batendo juntos em descompasso...
O melhor lugar do mundo é dentro de um abraço."
- Flausino

Narrado por Alyce

O impulso, em grande porcentagem do meu tempo, é o que me guia. Já me disseram que isso deixa a minha personalidade interessante, diferente, mas eu sei que sou assim por causa da minha síndrome. Isso me fez pensar no caminho para o boliche e chegar à conclusão de que devo me controlar e ficar longe de Owen, depois que ele me bloqueou sem motivos.

Estou de cabeça baixa encarando as minhas mãos, sem ter vontade de levantar o olhar e ver os diversos sorrisos praticamente desconhecidos, além dele do outro lado do salão.

Somos sete pessoas sentadas numa mesa para oito esperando que alguma pista esvazie. Treena e Ted são gêmeos que se tornaram amigos dos meus irmãos por causa da coincidência entre eles, Joshua é um baixinho amigo de Noah e Alan, e eu não esperava que os três fossem se juntar a nós.

Do outro lado do lugar está Owen, sentado com mais quatro pessoas. Eu não deveria ficar chateada vendo que ele não me notou, já que cortou qualquer possível ligação entre nós e, por mais que Ian, seu amigo, tenha percebido a presença da minha irmã e a olhe de segundos em segundos, mais ninguém além de nós dois reparou na presença das mesas opostas.

Ian sorri fracamente para mim, vendo, ao meu lado, Alyson conversar animadamente com Noah. Retribuo o sorriso e volto a olhar para os desenhos de pinos de boliche que estão espalhados pela mesa na qual apoio meus cotovelos, diferente dos bancos altos onde estamos sentados, que são de um marrom claro.

- Quem é aquela? – desgrudo o olhar do plástico que reveste a mesa e sigo o seu. Há uma garota de cabelos grandes e castanhos abraçada ao amigo de Owen.

Quero gritar para Alyson que quando ele a olhava ela estava feliz conversando com Noah, mas não faço isso. Todos na mesa ouvem o comentário nada discreto e se viram na direção do grupo seis mesas de distância daqui, e parece que eles finalmente nos notam também.

Eu achei que Alan ficou nervoso por causa de Owen, no início, mas fica óbvio que é por causa da garota agarrada ao pescoço de Ian assim que seus olhares se encontram e ela dá um pulo para o lado, assustada. Meu irmão se levanta bufando e vai em passos duros em direção ao banheiro, vermelho de raiva.

- O que houve? – Alyson pergunta, tentando não olhar para o moreno de olhos marrons.

- Aquela é a garota dele. – Joshua responde. Eu iria atrás dele, mas a sua garota faz isso antes de mim.

Por algum motivo desconhecido por mim, pela centésima vez eu olho para ele, que ri fracamente olhando a tela do celular. Ver essa cena faz meu peito se encolher, sem um porquê, antes de ele me fitar com a expressão séria outra vez. Arqueia uma sobrancelha e eu arfo, me levantando do banco.

- Onde vai? – Alyson pergunta, agora sem o ânimo que antes tinha.

- Respirar. – não minto. Ela entende qual a razão de querer sair daqui, e assente.

Atravesso o enorme salão desviando de várias mesas, sem olhar em sua direção. Um grupo de casais de meia-idade passa por mim e me lança sorrisos, me fazendo forçar os cantos da minha boca a se erguerem enquanto espero que passem pelas portas duplas.

 Saio do boliche e me sento no murinho que contorna um coqueiro de tamanho médio. Do lado de fora do lugar tem um estacionamento aberto que dá direto à rua e isso me deixaria com medo por ser um lugar calmo demais, mas o segurança atrás de mim me deixa melhor. Passo a observar o céu que está escuro e pouco estrelado, em outro momento estaria animada, mesmo que pouco, por jogar boliche pela primeira vez, mas agora algo faz com que eu queira ficar quieta.

 Ouço a porta se abrir antes de um suspiro atrás de mim. Arfo. Eu acharia que é Alan ou até mesmo o segurança, mas o cheiro masculino que se torna presente é impossível de ser confundido. Owen.

 Arrepio dos pés à cabeça e engulo em seco. Estava começando a deixar de pensar nele e sentir a raiva passar, mas agora tudo voltou. Na verdade me sinto envergonhada, triste, estressada e ansiosa ao mesmo tempo. Ele limpa a garganta, ainda atrás de mim.

- Alyce. - lá no fundo eu quero que nunca mais fale comigo, mas meu autocontrole não me ajuda e eu me viro para trás instantaneamente. 

 Arregalo os olhos mais do que deveria e depois pisco mais que o normal tentando fazê-los ficarem quietos. Ele me olha como se eu estivesse fazendo algo esquisito e é impossível não sentir vergonha, mas algo me faz parar.

- Você está drogado? - ele franze o cenho e olha para o segurança rapidamente, mas eu perguntei baixo o suficiente para que ele não tenha ouvido.

- Você quem me ligou? - não me responde.

 Cruzo os braços, vendo a minha vez de não respondê-lo acontecer, e um meio sorriso surge lentamente no rosto machucado.

- Sabe que praticamente me respondeu, né? - me viro para frente outra vez.

- Você também. Me disse que não sorri quando está... são.

Será que algum dia vou vê-lo sem estar drogado?

- Não é verdade. - se senta ao meu lado, depois de olhar para o segurança novamente - Eu disse que não sou sorridente, mas sorri quando te vi pela primeira vez. - o olho de lado, então ele sorriu mesmo para mim  - E quando descobri o seu nome.

Ele se refere a quando nos vimos na biblioteca e ao dia em que fui na festa procurá-lo.

- Achei que não se lembrasse de mim. - eu não sorrio e nem sinto vontade, porque não gostei do que fez comigo e mesmo tendo sorrido para mim, não foi nem um pouco legal e não merece que eu aja normalmente com ele.

- Tem que entender que eu tinha acabado de acordar e não estava raciocinando muito bem.

- E quando me bloqueou? Também tinha acabado de acordar? - ergo uma sobrancelha. Ele fica sério de repente.

- Não gostei de ter falado com Theo.

- Ah, então resolveu me bloquear? - digo, como se fosse a maior estupidez, e foi.

- E também... Eu resolvi me afastar de você. - por algum porquê, isso me deixa desconfortável.

- Agora está sentado do meu lado conversando comigo. Por quê?

- Fica meio difícil me afastar da única garota que aceita sair de casa de madrugada para ajudar alguém como eu. - ele repete o que me disse ontem.

- E por que quer se afastar de mim?

- Tem muitos porquês nessa conversa. - ele deixa de me olhar e encara um dos carros espalhados no estacionamento. Bufo e não me pronuncio antes dele - É porque você é boa, e eu sou o contrário. Tenho... um grande problema.

- Qual? - eu duvido que ele se abriria assim comigo se não estivesse drogado, mas não acho ruim. Ele funga, antes de me responder com um sorriso maroto.

- Eu não te falaria isso nem o mais drogado possível.

- Mas... - eu sei que não tem um "mas", só que forço um.

 Ele me olha de lado e pensa por alguns segundos antes de me responder.

- Eu tenho uma síndrome.

 Porém, nem com todo o controle do mundo eu conseguiria ter impedido-o de acabar comigo futuramente. Infelizmente, eu só consigo pensar no quanto nós dois podemos ser parecidos e no meu coração acelerado.

Não penso que posso estar me metendo num erro enorme permanecendo sentada ao seu lado.



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Ficou mt ruim? Perdão pela demora, tive problemas com o computador, celular e internet. Amo vcs, espero que gostem. <3

Asp. - HiatusWhere stories live. Discover now