Capítulo 27

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"Na escuridão, eu encontrarei meus criadores
E todos eles irão concordar, que eu sou uma sufocadora."
Daughter, Smother (Sufocar)

Narrado por Alyson

Pode parecer ter aparecido de repente, mas ela, a depressão, cresceu de forma lenta e estranha. Eu sinceramente não sei quando tudo começou, mas não posso culpar Alyce e dizer que ela me atingiu por ser o centro das atenções porque a minha vida também girava em torno da dela. Acho que talvez tenha sido por isso, porque me esqueci de mim e não vi quando afundava cada vez mais.

Não culpo os outros por não notarem, porque eu mesma só percebi anos depois.

 Sentada na cadeira do hospital, estou em cima de uma das minhas peras, apoiando a minha cabeça na parede ao meu lado. Está frio, e eu me acaricio por cima da blusa de mangas finas tentando me esquentar, mas isso não muda nada.

Aqui, onde todos ao meu redor são como eu ou simplesmente piores, eu não preciso forçar sorrisos e fingir que tudo está bem, que tudo é fácil e perfeito, mas me sinto pior à medida que o tempo passa, porque sei que está mais perto da hora de ir embora, e então terei que fingir ser um exemplo a ser seguido até a semana que vem.

Eu deveria me consultar ontem, com a companhia de Alyce. Eu ia contar à minha irmã mais nova que ela não precisa se sentir tão mal, porque a minha vida é quase tão estranha quanto a sua, mas tudo deu errado. Alyce decidiu ficar na faculdade enquanto eu supostamente fazia algo relacionado ao meu estágio e, para completar, o meu psicólogo cancelou a nossa consulta de última hora. Hoje estou aqui, outra vez, mas parece que algo fez tudo mudar de ontem para hoje. Ian.

Ver Owen e Alyce se beijando, quando cheguei para busca-la, fez com que o meu coração se acendesse, ou apagasse, e eu percebesse que mesmo sendo ela a problemática, eu quem nunca terei um amor verdadeiro, e Ian nunca me amará.

De repente, ouço uma cadeira de plástico fazer um barulho estranho quando alguém se senta ao meu lado, ou melhor, em minha frente. Ele está olhando fixamente para o chão em sua frente, mas eu o percebi.

Quando Owen percebe que está sendo encarado, ele finalmente olha para mim. Seus olhos e nariz estão vermelhos, além do cabelo bagunçado.

– Alyson?

– Oi. – em outra hora, eu forçaria um sorriso, mas não consigo.

– O que está fazendo aqui? Está tudo bem? – ele tenta desviar o olhar e abaixar o nariz, mas seu hálito denuncia o álcool que ingeriu.

– Eu quem tenho que te perguntar isso, não é mesmo? Mas acho que você está no andar errado, esse é o da psicologia e psiquiatria.

Respira fundo e mexe os papeis em sua mão.

– Eu vim buscar resultados de exames e acabei decidindo vir visitar um amigo meu que trabalha aqui. – algo me diz que se estivesse sóbrio, ele analisaria melhor as suas palavras e não falaria tanto comigo, considerando a forma como o flagrei aos beijos com a minha irmã, além da minha reação fria e inesperada quando os vi.

– Resultados de que capítulomes?

– São do meu irmão, ele faz exames todo mês e... – ele se interrompe quando percebe que está falando sem pensar, e fecha os olhos suspirando.

Eu me sento do jeito correto e passo a encarar o chão também. De repente, ouço ele rir pelo nariz e vejo-o balançar a cabeça negativamente.

– Eu não vou negar, quero muito a sua irmã. Não sei como falar sobre isso, porque querer não é a definição certa para o que sinto, eu acho.

Asp. - HiatusOnde as histórias ganham vida. Descobre agora