Capítulo 08

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"Eu não me acostumo sem seus beijos
E não sei viver sem seus abraços
Aprendi que pouco tempo é muito
Se estou longe dos seus braços."

- Roberto Carlos

Narrado por Alyce

Nunca fui muito boa com pessoas. Eu não sei ser sociável e nem me enturmar – por mais que nem tenha pessoas por perto e para tentar fazer isso. Por incrível que pareça, na maioria das vezes nem sinto vontade de me socializar com os outros. E na metade dessas vezes, eu aprecio a minha solidão, por mais surpreendente que seja. Mas tais sentimentos não são lembrados nenhuma vez quando estou com ele.

- Está doendo? – aponto para os seus machucados.

- Bom, não...

- Sério? – arregalo os olhos. Se fosse o contrário, eu estaria chorando de dor – Nem um pouco?

- Nem um pouco. – ele move os braços para frente e para trás, depois estala as costas e o pescoço. Franzo o cenho, sem entender. Ele fecha a mão direita e soca a palma da outra, depois inverte as posições e faz o mesmo. Seus machucados ficam mais abertos e eu faço uma careta, sentindo dor por ele. – Viu?

- Mas você está muito machucado – coço a bochecha, sem saber o que fazer – Não tem que ir em um hospital?

- Não está doendo, Alyce. – sorri, depois de repetir como se isso significasse que não precisa ir no hospital. Seus olhos pretos estão sendo iluminados só pela luz fraca dos postes ao nosso redor, e por isso mal consigo vê-los.

- Deve ser por causa da adrenalina, raiva...

Começa a negar, mas me surpreende e cede ao meu pedido.

- Tem um a duas ruas daqui. – assente antes de nos levantarmos do meio-fio, começando a caminhar. Não manca e nem reclama de dor nenhuma vez, e isso me assusta.

Me pergunto mentalmente como ele consegue se machucar tanto (todas as vezes que nos vimos ele estava machucado) e continuar parecendo bem e sorrindo tanto, e por alguma razão a palavra masoquismo ecoa na minha cabeça. Logo essa palavra desencadeia um flashback que parece explicar tudo. Estamos num silêncio confortável e por isso permito que a minha mente raciocine e ligue os pontos.

"- Aconteceu uma coisa estranha na academia hoje. Gostei de lá. – Alan diz para mim, rindo, enquanto dirige com um destino do qual não me lembro.

- Por quê? – mal presto atenção, porque estou lendo o jornal que deixam na porta de casa todas segundas-feiras.

- Um cara lutando... Ele parecia louco.

- Por quê? – repito e começo a ler uma manchete sobre um incêndio.

- Ele lutava com outro e do nada ficou parado sendo socado. Ficava rindo e nem reagia, e aí, do nada, pareceu se cansar e começou a bater.

- E aí? – suspiro e balanço a cabeça, horrorizada com o incêndio sobre o qual lia.

- O outro apanhou tanto que desistiu da luta. O cara parecia estar gostando de apanhar antes. Perguntei pra um outro cara o que era aquilo e ele disse que ele sempre faz isso. Fica apanhando até que se canse, e quando isso acontece, acaba com a luta sem levar mais nenhum golpe. É meio que um desafio alguém ganhar dele, e eu vou tentar e conseguir. – sorri de lado.

- Talvez ele seja masoquista. – ele assente.

- Ou louco. – muda de assunto, me perguntando sobre o que estou lendo."

Asp. - HiatusWhere stories live. Discover now