Capítulo 13

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"A gente se apertou um contra o outro. A gente queria ficar apertado assim porque nos completávamos desse jeito, o corpo de um sendo a metade perdida do corpo do outro."

- Caio Fernando Abreu


Narrado por Alyce

Quando sinto raiva, ansiedade, medo, mágoa... eu meio que entro em desespero. Sinto vontade de gritar para expressar o que sinto, porque só assim consigo fazê-lo, e talvez porque assim tudo comece a agir ao meu favor. Porém, isso praticamente parou de acontecer depois que Owen apareceu, porque me acostumei a sentimentos ruins e, quando não suportava, ele simplesmente me abraçava e acalmava o caos que iniciou.


Mando uma mensagem de voz de cinco minutos para a minha irmã, a chamando de todos os xingamentos que conheço, ela o ouve segundos depois, tempo que uso para mandar mais nomes ruins.

O que acontece é que não existe um passarinho. Alyson fingiu ser eu enquanto eu tomava banho, enviando mensagens para Owen e o chamando para vir aqui. Ela até usou uma foto do Google! Viu que eu não sabia como conversar com ele - como uma criança tola -, e então o fez. Eu diria a ele que era tudo uma brincadeira, mas Aly também disse que eu pareceria mais boba ainda.

Estou roendo as unhas quando a campainha toca.

Droga, droga, droga...

Não estou preparada. Mil vezes não. Sei que posso estar sendo bastante exagerada, mas não sei o que esperar dele. Nunca sei. Na verdade, não sei o que esperar de mim também, e nem de nós. Não sei o que sinto e nem o que poderei sentir.

A campainha toca outra vez e pulo do sofá rapidamente. Tento me ajeitar ao máximo no caminho para a porta, mas o moletom roxo, legging emeio rabo-de-cavalo não fazem com que eu me sinta bonita. Infelizmente perdi tempo demais brigando com Alyson, que saiu com Ian, para me arrumar.

Abro a porta com pressa, sem olhar no olho mágico quem está do outro lado. Quando vejo os olhos de cor carvão, não tenho reação. Ele tem um sorriso pequeno no rosto que me faz querer sorrir também, mas não consigo pensar em nada além de como fui má mentindo, mesmo que a culpa não tenha sido inteiramente minha.

Tarde demais percebo o ser ao seu lado. Ele tem o meu tamanho, porém é a única coisa que vejo dele além dos seus olhos e a cor da sua pele, idênticos aos daquele ao seu lado. Provavelmente têm algum parentesco.

- Sou Alyce. Olá. - o seu rosto está parcialmente coberto por um capacete de futebol americano. Mal percebo que errei a ordem.

- Oi, eu sou Axel. - quero perguntar o porquê do seu capacete, mas não quero agir de forma errada e felizmente consigo segurar a minha língua.

- Belo capacete. - ele sorri.

- Obrigado. - começa a tirá-lo, mas por algum motivo para.

- Esse é o meu irmão. - Owen diz. Volto a olhá-lo.

- O-Oi. - sai mais atrapalhado do que deveria. O seu cheiro é tão bom que fica difícil me concentrar.

- Oi. - seu irmão se inclina para a frente e lança a ele um olhar esquisito que eu gostaria de entender - Cadê o pássaro? - o encanto passa em cinco segundos.

- Cadê o... pássaro? - repito antes de limpar a garganta.

Minhas bochechas ficam extremamente vermelhas quando o olho, perplexa. Ele está parado na minha porta esperando para cuidar de um passarinho que não existe.

Asp. - HiatusOnde as histórias ganham vida. Descobre agora