Já em casa eu só pensava em uma coisa: dormir. Mas pra isso precisava me livrar do Cadu que enchia meus ouvidos com os rolos dele.
- Amor, vamos dormir? - Perguntei a ele desanimada.
- Que dormir o que, Rafaela? Só pensa nisso eu tenho problemas pra resolver. - Respondeu irritado.
- Resolver eles depois de um cochilo relaxante é melhor. - Disse me deitando no sofá.
- Você precisa viver. Vai dormir bastante depois que morrer.
A campainha toca e ele nem se mexe.
- Atende a porta pra mim. - Disse deitada no sofá.
- Eu não sou seu empregado. Quer dizer, sou. Mas não aqui. - Disse ele mexendo no celular.
- obrigada. - Disse ironicamente indo em direção a porta.
Eu esperava qualquer um ali, meu irmão que eu não tinha visto ainda, o Anderson pra reclamar da festa que fui ontem, até a vizinha reclamando de alguma coisa como ela sempre faz, todo mundo, menos o Luan e pra minha surpresa era ele.
- Amor. - Sorri ao vê-lo.
- Oi Rafaela. - a frieza dele ao falar comigo me assustou.
- Ta tudo bem? - Engoli seco.
- Já viu seu celular hoje? - Sua pergunta fez meu interior estremecer.
- Não. - Respondi meio gaguejante.
- Então olha. - Ele disse.
- Luan deixa eu explicar.
- Olha o seu celular Rafaela. - Ele disse encarando o chão.
Eu fui até o sofá onde meu celular estava, Cadu me olhava com os olhos arregalados. Eu já sabia o que era, aquela maldita festa me traria problemas com o Luan.
- Cadu, sobe pro quarto que eu preciso falar com o Luan. - Pedi sem tirar os olhos do mesmo.
- Rafa, eu prefiro ficar. - Cadu respondeu receoso com medo da reação do Luan.
- Por favor Cadu, sobe. - Olhei pra ele tentando manter a expressão calma. Ele assentiu com a cabeça e subiu a escada em caracol da minha casa. - Fala Luan, eu sei que você não vai deixar eu explicar mesmo.
- Você ainda tem cara de falar em explicação? Acho que a notícia ai explica tudo. - Ele disse entrando e fechando a porta atrás de si.
- Olha a notícia só fala que curti uma festa com meus amigos, não vejo maldade nenhuma nisso. - Disse dando uma conferida na matéria do site que sempre me perseguiu.
- Como eu vou saber se houve maldade ou não? - Ele disse irônico.
- Não confia em mim? - Perguntei.
- Não. - Ele disse sério se aproximando de mim. - Não confio e nem sei se algum dia vou confiar, você não me da motivos e pelo que parece nunca vai dar.
- Tudo bem Luan. - Disse segurando o choro.
- Tudo bem? É o que você tem pra me dizer. Você é vazia mesmo Rafaela. Já tinham me dito que você nunca tomaria jeito. É o que parece.
- Ta Luan, chega. Eu fui pra essa porcaria de festa sim. Dancei, curti mas não fiz nada além disso. É errado eu me divertir um pouco quando estou me sentindo sozinha?
- Não Rafaela. O errado é você fazer isso quando estamos juntos. Ninguém tava lá pra dizer o que você fez ou não, as pessoas imaginam e ficam falando. Entende isso? - Ele disse segurando meus braços.
- Por que você se importa tanto com o que as pessoas vão falar? - Disse olhando em seus olhos.
- Por que elas sustentam minha carreira. - Ele disse olhando nos meus olhos e em seguida me soltou e foi em direção a porta. - É melhor eu ir embora. Você nunca vai entender.
- Você desiste muito fácil Luan. -Disse sentada no sofá vendo ele ir embora.
- Pode ser Rafaela. Mas você também não sabe aproveitar as oportunidades que são dadas a ti. - Ele me olhou e saiu.
Fiquei com as mãos na cabeça passando mentalmente tudo que ele me disse. Eu realmente tenho o dom de estragar tudo.
Cadu volta pra sala com a expressão assustada e pálido. Vem com o celular na mão e os olhos arregalados.
- É mais problema pra mim? - Pergunto desanimada.
- Pra você não. Pra Paula. - Ele respondeu.
- O que aconteceu? - Pergunto aflita.
- Ela sofreu um acidente. Pelo o que o irmão dela disse foi grave.
- O que? - Grito.
- Vamos pro hospital que eu te explico no caminho.
Enfio meu celular no bolso da calça e saio em disparada. Cadu não me deu muitos detalhes mas parece que ela estava em um carro que não era dela em alta velocidade e perdeu o controle da direção. Será que tem a ver com a ligação que ela me fez ontem a noite? Será mais uma besteira que eu fiz?
Quando cheguei no hospital fui direto pra sala de espera, ao chegar lá me deparo com os pais dela abraçados e o irmão sentado no chão. Meu coração se parte e sinto algumas lágrimas caírem.
- Rafaela? - O irmão dela vem em minha direção.
- O que aconteceu? - Perguntei com o coração disparado.
- não sei. Parece que ela saiu com um cara todo errado. Eles foram pra casa dele e ele quis forçar ela a fazer umas coisas ela fugiu com um carro e você sabe, ela não sabia dirigir bem. - As lágrimas dele começaram a cair e ele não conseguiu falar mais.
- Tudo bem. - Disse controlando o choro. - E seus pais? Como eles estão?
- Meu pai é forte né, ta amparando minha mãe que ta destruída. - Fiquei olhando os dois, ela parecia tão triste.
- Queria falar com eles. - Disse.
- Não leva a mal Rafa. Mas eles não gostam muito de você. Melhor você ficar aqui.
- Tudo bem.
(...)
A falta de informação me corroía, fazia mais ou menos umas duas horas que eu estava no corredor daquele hospital sem saber nenhuma notícia do estado de saúde da Paula. A única coisa que eu sabia era que ela estava passando por uma cirurgia muito complicada. Meu coração parecia estar por um fio.
Decido ir até a capela do hospital fazer algumas orações, por sorte ela estava vazia. Fazia tanto tempo que eu não entrava em uma igreja que eu até me sentiria desconfortável se mais alguém estivesse ali.
Vou até um altar onde tem uma cruz e me ajoelho. Ao fechar os olhos lembro das vezes que ia na igreja com a minha vó. Lembro da primeira vez que cantei no coral e naquele dia a alegria que me invadiu. Lembro que depois de cantar a música em adoração a Deus e ver as pessoas a frente aplaudir eu decidi que era isso que eu queria fazer da minha vida: cantar. Desse dia em diante todas as orações que eu fazia era pedindo a Deus que ele me ajudasse a realizar esse sonho meu. E o mais triste de tudo é que depois que eu consegui realizar esse sonho eu nunca parei pra agradecer a Deus por isso. Deus foi tão bondoso comigo me concedendo a bênção de fazer o que eu amo e o que eu tanto pedia a ele, e eu simplesmente me esqueci de agradecer.
Chegou o dia de agradecer.
Fechei os olhos e cruzei minhas mãos diante do meu rosto:
" Querido Deus.
Eu sei que faz tempo que eu não falo com o senhor. Sei que fui ingrata e me esqueci de você, mas sei que o senhor não deixou de estar comigo.
Obrigada Deus por me ajudar a realizar meu sonho, o mérito é todo seu. Foi o senhor que me deu o dom de cantar, quem me deu a coragem e me mostrou o caminho a seguir.
Eu peço Deus que o senhor faça a sua vontade por que mesmo sem eu entender ela, sei que é o melhor pra mim. Muito obrigada por tudo hoje e sempre, Amém."
Abro meus olhos e vejo uma senhora ajoelhada ao meu lado, ela sorri pra mim e eu devolvo o sorriso e por incrível que pareça não fico constrangida. Fiz as pazes com Deus e agora sinto que o que ele fizer vai ser bom pra mim.
Fala galerinha louca, não queria terminar esse capítulo por aqui, mas ele estava ficando muito grande então resolvi deixar ele por aqui e continuar ele amanhã.
Espero que gostem. Fiquem com Deus.